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O que é 'space brain', o fenômeno que pode fazer missões a Marte fracassarem

17 out 2016 - 15h27
(atualizado às 15h51)
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A memória de astronautas é uma preocupação para o planejamento de longas viagens pelo espaço
A memória de astronautas é uma preocupação para o planejamento de longas viagens pelo espaço
Foto: Thinkstock

Quais e quantas lembranças astronautas conseguiriam ter após uma viagem a Marte?

Parece uma pergunta irrelevante, mas é uma das maiores preocupações de especialistas. Isso se deve a um fenômeno conhecido como "space brain", relacionado à exposição prolongada a raios cósmicos galácticos (GCR, na sigla em inglês).

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Esses raios carregam tanta energia que podem penetrar o casco de uma nave espacial. De acordo com cientistas da Universidade da Califórnia em Irvine (EUA), a exposição a partículas carregadas de alta energia pode causar danos de longo prazo ao cérebro.

Entre os efeitos desse fenômeno estão alterações cognitivas e demência. Possíveis danos causados pelos GCR ao corpo já eram conhecidos, mas acreditava-se que eram de curto prazo.

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Em experimentos em ratos, porém, Charles Limoli e sua equipe descobriram que níveis de inflamação no cérebro continuavam significativos e danosos aos neurônios mesmo após seis meses, afetando comportamento, memória e aprendizagem.

Para que esta ilustração se torne realidade, é preciso solucionar o problema dos raios cósmicos
Para que esta ilustração se torne realidade, é preciso solucionar o problema dos raios cósmicos
Foto: Thinkstock

"São más notícias para astronautas que embarcarem em uma viagem de ida e volta a Marte de dois ou três anos", comentou Limoli, professor de radiação e oncologia da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em Irvine.

'Extinção do medo'

"O ambiente espacial traz perigos únicos para os astronautas", afirmou Limoli.

Para o especialista, entre outros possíveis problemas decorrentes do fenômeno do "space brain" estão a diminuição do rendimento, ansiedade, depressão e alterações na hora de tomar decisões. "Muitas dessas consequências adversas podem continuar e progredir ao longo da vida."

Na Estação Espacial Internacional, astronautas estão protegidos de raios cósmicos porque a magnetosfera da Terra funciona como escudo contra radiação
Na Estação Espacial Internacional, astronautas estão protegidos de raios cósmicos porque a magnetosfera da Terra funciona como escudo contra radiação
Foto: Thinkstock

Os pesquisadores também descobriram que a radiação afeta a "extinção do medo", processo pelo qual o cérebro reprime experiências desagradáveis e estressantes do passado (por exemplo, quando alguém sofre uma queda de cavalo e volta a montar).

"O déficit na extinção do medo pode torná-los (astronautas) propensos à ansiedade", assinalou Limoli. "Isso poderia ser problemático em uma viagem de três anos de ida e volta a Marte."

Raios cósmicos descarregam muita energia ao se chocar com o corpo humano. Na Estação Espacial Internacional, astronautas estão protegidos porque se encontram na magnetosfera da Terra, que atua como escudo contra radiação. O mesmo não aconteceria em uma aventura rumo à Marte.

Construir naves espaciais com uma dupla capa protetora pode não ser útil, pois nada resiste a esses raios. Por isso, especialistas sugerem o desenvolvimento de tratamentos preventivos para proteção do cérebro.

Se os pesquisadores estiverem corretos, é possível que um astronauta que voltar de Marte tenha, portanto, dificuldades para recordar sua memorável experiência.

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