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Baikonur, o trampolim espacial mais antigo do mundo

18 mar 2016 - 06h10
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Perdido nas estepes do Cazaquistão, isolada e a 2.500 quilômetros de Moscou, a base de Baikonur é um gigante tecnológico instalado em um local inóspito, com um aroma da reminiscência soviética e de futuro incerto.

É o maior centro de lançamento espacial e o mais antigo do mundo (1955), está em território cazaque e tem bandeira russa. Desse enclave partiram o Sputnik, a cachorrinha Laika e os primeiro seres humanos a saírem da Terra.

Mas, já no século XXI, seu futuro não está claro pois a agência espacial russa Roscosmos terá que cuidar do local com US$ 22,5 bilhões durante a próxima década, a metade da dotação esperada.

Além disso, o desenvolvimento da nova base siberiana de Vostochny, em território russo e junto à fronteira com a China, ameaça sua continuidade.

Vostochny está sendo erguida sobre o esqueleto da antiga plataforma de lançamento de mísseis balísticos Svobodni, um dos quatro centros espaciais russos conhecidos junto com as bases de Plesetsk e de Kapustin Yar, ambas principalmente dedicadas a usos militares.

O novo complexo, em construção desde 2012 com um orçamento de 2,9 bilhões de euros, traria uma economia à Rússia de US$ 115 milhões anuais, valor que paga ao Cazaquistão pelo aluguel do território da base até 2050.

Vostochny, com um primeiro lançamento programado para abril e uma pasta de 31 pedidos até 2019, reduziria, além disso, a dependência de Moscou em uma base localizada em solo estrangeiro.

Mas, após vários atrasos e custos não planejados até que o projeto fique pronto - e talvez depois -, a base de Baikonur seguirá sendo o farol do espaço na Rússia e o principal centro de operações da Estação Espacial Internacional (ISS).

No polígono espacial há uma certa atmosfera de Guerra Fria, que faz parte do design sóbrio e anacrônico de um centro de engenharia que foi um dos lugares mais secretos da Terra.

É austera e funcional, e consiste em 57 quilômetros quadrados de construções de cimento, antenas gigantes, torres de controle, edifícios modulares, alambrados, dois aeroportos, 500 quilômetros de ferrovias, oito plataformas de lançamento e uma temperatura exterior que oscila entre os 50 e os -15 graus centígrados.

A base se encontra a quatro quilômetros de um município homônimo de 72 mil habitantes - a metade do que em tempos soviéticos - onde ainda resiste uma nostálgica estátua de Lênin e dezenas de monumentos dedicados à corrida espacial.

Baikonur foi construída em 1955 e serviu de reduto do potente desenvolvimento espacial entre os anos 50 e 80 do século passado, quando Washington e Moscou disputavam a supremacia cósmica.

A base, que desde a queda da União Soviética em 1991 se dedica a lançar missões científicas, tripuladas e comerciais, é uma grande desconhecida para o grande público, apesar de certas referências na cultura popular através de videogames como "Call of Duty" e séries como "The Big Bang Theory".

E, no entanto, a velha base é uma pedra fundamental da exploração espacial: em 12 de abril de 1961 Baikonur transformou Iuri Gagarin no primeiro ser humano a sair para o espaço.

Uma façanha de 108 minutos a bordo de uma nave Vostok em uma época na qual se antecipar e surpreender os Estados Unidos era tão importante que a mãe de Gagarin se inteirou de que seu filho tinha viajado ao espaço pela rádio.

Transformado na primeira grande estrela internacional do comunismo, Gagarin teve problemas para lidar com a fama e foi marginalizado após a queda do poder de Nikita Khrushchov em benefício de Leonid Brejnev. O cosmonauta morreu aos 34 anos, em um estranho acidente quando pilotava um caça Mig em 1968.

Seu rosto aparece em selos, xícaras, relógios e camisetas. Sua icônica imagem com o capacete branco chegou a capas para telefones celulares e babadores para bebês.

Baikonur pode ser desbancada por Vostochny e sofrer um desenlace similar ao do herói espacial, convertendo-se em uma esquecida lixeira tecnológica à mercê da nostalgia.

"Não temos medo. Sabemos que algum dia isto desaparecerá, mas não sabemos quando", declarou à Agência Efe a subdiretora do museu da cidade de Baikonur, Galina Milkhova.

Esse momento ainda não chegou e de suas instalações acaba de partir a missão russo-europeia ExoMars, que tentará investigar se Marte pode ter abrigado vida e preparar futuras missões ao planeta vermelho.

Como não está definido que Baikonur esteja necessariamente destinada à extinção, talvez das estepes cazaques ainda decole a nave que colocará pela primeira vez um homem em Marte. Ou uma mulher.

EFE   
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