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Embriões congelados ficam sem destino; Brasil tem 8 mil

15 jan 2011 - 12h49
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Angela Joenck Pinto

Em outubro de 2010, a cantora Céline Dion deu à luz os gêmeos Nelson e Eddy. A gravidez foi resultado de um tratamento de fertilização in vitro realizado oito anos antes, quando o marido da cantora descobriu ter um câncer. Os embriões de Nelson e Eddy permaneceram congelados em uma clínica especializada. E não foram só os dois: outros embriões da cantora e do marido estariam congelados na clínica. O que acontece com eles? Vão ficar lá para sempre?

Os bebês que nascem são festejados, mas o que acontece com os embriões congelados?
Os bebês que nascem são festejados, mas o que acontece com os embriões congelados?
Foto: Getty Images

Clínicas especializadas em fertilização seguem seus próprios protocolos, podendo optar pelo congelamento de embriões ou de óvulos. Em média, são retirados e fecundados oito óvulos de cada paciente, e quatro são utilizados em tentativas de engravidar. Os demais ficam congelados e representavam em 2009 uma "multidão" de 8.058 embriões somente no Brasil, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Segundo o médico especialista em reprodução humana e diretor da clínica Ferticlin, Raul Nakano, esse acúmulo se deve ao dilema das mães que passam pelo tratamento de fertilização, pois é delas a decisão sobre o material excedente. "Se por acaso eu tenho oito embriões, transfiro três ou quatro e congelo o restante. Se a paciente não engravidar, tem mais 4 pra colocar. Mas se ela engravidar de gêmeos, por exemplo, e não quiser mais (filhos), vai estar com um dilema. Ou ela doa, ou ela deixa na clínica pra colocar de novo, mais para a frente. É um dilema que até eu não gosto de passar por ele. É um dilema que a clinica vai sofrer e que a paciente vai passar dificuldade em resolver. E é por isso que as clínicas têm embriões sobrando. Nem as pacientes sabem o que fazer".

A quantidade de óvulos retirados depende da influência que a clínica recebeu - "a escola europeia é mais tradicional e conservadora no quesito tratamento, e tende a ser mais econômica. Tem algumas clinicas que sofreram influência da escola americana, que em termos de tratamento, são um pouco mais intervencionistas. Desperdiçam um pouco mais, talvez pela própria fartura que eles têm. São duas filosofias de trabalho", explica Nakano.

Outra grande diferença entre os tipos de tratamento está no próprio material que é coletado. Os maiores centros de reprodução na Europa defendem o congelamento de embriões como forma de evitar a gravidez múltipla. Porém, existe a discussão sobre a existência de vida ou não nesse estágio de reprodução.

Para contornar o dilema, há clínicas que preferem congelar óvulos. De acordo com Raul Nakano existe um "movimento internacional" neste sentido. "O óvulo é uma célula viva, é como se fosse um espermatozóide, você não está infringindo nem a ética, nem a religião. Não está infringindo nada, porque todo o mês a mulher desperdiça um óvulo também. E dentro dessa ótica, a gente também prefere guardar o óvulo. Se a mulher engravidar de gêmeos ou trigêmeos, ela não necessitaria utilizar mais nenhum", diz Nakano.

Os números e a evolução 'in vitro'
Segundo informações cedidas pela Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), existem cerca de 180 Bancos de Células e Tecidos Germinativos (BCTG) no Brasil. Conforme o último relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), formulado pela Anvisa, cerca de 90% dos 8 mil embriões congelados em 2009 estavam em BCTGs da região Sudeste, e 5% na região Sul. Em 2009, foram doados para pesquisa 490 embriões, sendo que 93% foram doações de embriões congelados até 28 de março de 2005.

"Como a tendência agora é congelar óvulos, acho que este número parou de crescer e está estacionado. Alguns embriões estão sendo transferidos, e poucos estão sendo congelados. Eu diria que, por um tempo, ele estava crescendo muito rápido e agora parou, porque com o congelamento de óvulos, apareceu um plano B", diz Raul Nakano.

A evolução no processo de reprodução humana tem oferecido soluções para pacientes que passam por diferentes problemas de saúde e vai muito além da simples criação de bancos de óvulos. "Você pode guardar óvulos para mulheres que vão sofrer quimioterapia e radioterapia, e que poderiam perder a fertilidade, mas com essa técnica, vão poder preservar. A paciente que vai produzir 10 ou 20 óvulos, pode guardar, usa 6, depois usar 4, ou vai usando de 4 em 4, sem ficar tomando remédio todas as vezes, otimizando o tratamento e aproveitando melhor os recursos. Pacientes que tem antecedentes familiares de menopausa precoce também podem fazer um teste e ver se possuem a probabilidade de ter o mesmo problema que a vó e a mãe tiveram. Uma vez tendo sinais dessa tendência, podemos guardar esse óvulo pra elas", completou o especialista.

Fonte: Redação Terra
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