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Crise e bloqueios econômicos acabam com último zoológico de Gaza

18 jan 2017 - 06h02
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A crise econômica e o bloqueio que Israel e Egito impõem sobre a faixa de Gaza acabaram com o último zoológico em Gaza, que foi colocado à venda oficialmente devido à impossibilidade financeira de seus donos de continuar alimentando os animais.

Aberto em 1999 pelos irmãos Ibrahim e Mohammed Juma no sul daquela que então era uma florescente Gaza, impulsionada pelo processo de paz iniciado em Oslo seis anos antes, o pequeno zoológico sucumbiu finalmente à realidade política da região.

O motivo para o fechamento é que na crítica situação econômica da faixa - sob bloqueio israelense desde que é governada pelo movimento islamita Hamas (2007), e mais recentemente também sofrendo com medida semelhante por parte do Egito -, as rendas familiares para recreação e cultura não são uma prioridade.

"Por estas razões, o número de visitantes caiu nos últimos meses, e somos incapazes de continuar a financiar o zoológico", reconheceu à Agência Efe Mohammed Juma, de 54 anos e mais conhecido como Abu Yehya.

A manutenção deste pequeno zoológico, que fica nos arredores de Rafah, e dos outros seis que chegaram a existir na faixa, já tinha se transformado em uma autêntica quimera por causa das ofensivas militares israelenses, que causaram danos a infraestruturas e mataram muitos animais.

O último a ser fechado, o da vizinha Khan Yunes, era conhecido como "o pior zoológico do mundo" por dissecar os animais que morriam para poder continuar a exibí-los, e em agosto do ano passado os que ainda estavam vivos foram levados a outros países com a ajuda de uma organização internacional.

Mohammed queixa-se de que ninguém lhe compensou pelas perdaspede ajudarecorre às instituições oficiais, os funcionários tiram o corpo fora alegando que "são os países doadores que devem compensar por aves e animais".

Com jaulas aglomeradas, sem espaços verdes e notoriamente árido, o zoológico é ainda lar de 60 animais, 35 deles aves, que também podem acabar fora de Gaza se não surgir nenhum investidor.

Ibrahim Juma explicou que alimentar os animais custa cerca de 1.000 shekels por dia (cerca de R$ 830), um dinheiro com o qual não conta por causa da drástica queda de visitantes.

Nos dias de bonança, há 18 anos, centenas de pessoas costumavam visitar o zoológico diariamente para ver seus leões, macacos, avestruzes, hienas e cervos.

"É muito triste ter que vender os animais com os quais passei tantos anos, os quais alimentei, lavei e cuidei", declarou o cuidador Ahmed Abu More, para quem "a prioridade" das famílias nestes momentos é "manter seus filhos, e não financiar entretenimentos".

Abu More não está convencido de que vá surgir algum comprador, porque "as duras condições em Gaza dificultam para qualquer investidor financiar um projeto desta natureza".

Com níveis de pobreza que afetam 54% de uma população de 2 milhões de pessoas e uma taxa de desemprego de 55%, o quase simbólico preço da entrada, 7 shekels para adultos e 3 para as crianças (R$ 5 e R$ 2,50 respectivamente), é simplesmente inacessível para muitos. E isso apesar de zoológicos, parques e praias serem quase os únicos locais de entretenimento que os palestinos têm na bloqueada Gaza.

Mohammed lembra que na guerra com Israel de 2009, muitos de seus animais mais extraordinários morreram, e os tanques e escavadeiras israelenses enterraram partes inteiras do zoológico.

O conflito de 2014 custou a ele US$ 60 mil, e suas dívidas ultrapassaram desde então os US$ 100 mil.

"Há seis meses, me vi obrigado a vender dois leões, 12 macacos e duas tartarugas ao zoológico de Tulkarem (na Cisjordânia)", afirmou este proprietário sobre o incerto futuro do empreendimento, que também expõe animais dissecados mortos por falta de cuidados ou desnutrição.

Enquanto os irmãos esperam um investidor, também depositam esperança na fundação internacional "Four Paws", que já ajudou outros zoológicos de Gaza a resgatar e levar seus animais a outros países.

Ibrahim, no entanto, gostaria que seu zoológico não tivesse o mesmo destino.

"Realmente dói muito vendê-lo. O que queremos é encontrar uma organização que nos ajude a mantê-lo aberto e atrair mais visitantes", afirmou.

EFE   
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