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Colômbia planta "Bosque da Paz" para homenagear vítimas de conflito armado

19 ago 2016 - 21h40
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A memória das mais de oito milhões de vítimas do conflito armado na Colômbia será preservada no Bosque da Paz, um santuário ecológico e de reconciliação que foi apresentado nesta sexta-feira em Mitú, no coração da região amazônica do país vizinho.

Neste monumento vivo, anunciado em um ato conduzido pelo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, cada uma das 8.131.000 vítimas provocadas por mais de meio século de conflito armado terá seu nome inscrito em uma das árvores plantadas por iniciativa da ONG Saving the Amazon.

"Vamos semear mais de oito milhões de árvores em memória das vítimas para que também nunca mais voltemos a viver as atrocidades que este conflito armado, que esta guerra nos trouxe", afirmou Santos em Mitú, capital do departamento de Vaupés, perante um público no qual havia dezenas de indígenas vestidos com seus adornos tradicionais, que são maioria na região.

Santos, que semeou hoje a primeira árvore da iniciativa no centro de Mitú, destacou que este programa, que envolve diretamente as comunidades indígenas do Vaupés, um remoto departamento situado na fronteira com o Brasil, "terá uma repercussão mundial".

Isso porque qualquer pessoa de qualquer lugar do planeta pode contribuir financeiramente com a manutenção das árvores do Bosque da Paz, com o que poderá ajudar na reconciliação do país e na preservação do meio ambiente.

No programa, que começou a ser pensado há três anos, participam inicialmente 250 famílias de oito comunidades indígenas do Vaupés que semeiam as árvores e se encarregam de colocar o nome das vítimas.

A cada seis meses os próprios indígenas farão uma foto de cada árvore para que, através de uma plataforma tecnológica, se possa fazer um acompanhamento de seu crescimento, disse à Agência Efe a presidente na Colômbia da Saving the Amazon, Ximena Patiño.

Nesse sentido, Santos destacou que no Bosque da Paz se "une o avanço tecnológico do mundo com a cultura ancestral dos indígenas, e ao mesmo tempo serve para preservar nosso meio ambiente, nossas florestas, nossa água".

O chefe de Estado lembrou que Mitú, cidade de apenas 16.600 habitante, à qual se pode chegar unicamente por via aérea, sofreu na própria carne o conflito armado colombiano, pois nos primeiros três dias de novembro de 1998 foi palco de um sangrento ataque das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), com as quais seu governo negocia agora um acordo de paz em Cuba.

Nesse ataque, único no qual as Farc conseguiram tomar por mais de 24 horas uma capital colombiana, morreram 11 civis, pelo menos 30 policiais e militares e dezenas de guerrilheiros; além disso, houve 68 feridos e 61 policiais foram sequestrados, alguns dos quais morreram em cativeiro e outros recuperaram a liberdade apenas mais de uma década depois.

Por isso, Santos ressaltou hoje que o Bosque da Paz é a melhor maneira de "lembrar e honrar cada vítima" de mais de meio século de conflito armado interno.

"Estas florestas se enriquecerão com árvores nativas e cada árvore vai corresponder ao nome de uma vítima para que realmente nos sirva como um monumento, como um santuário à memória das vítimas nesta etapa de fim do conflito armado", completou o ministro de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Luis Gilberto Murillo.

Julián López, um dos líderes da comunidade indígena de Santa Cruz de Wacapuri, disse à Efe que os próprios nativos selecionam as árvores a serem semeadas, para que sejam "madeiráveis, frutíferas ou medicinais".

"No papel que exercemos de reflorestamento com o Bosque da Paz não usamos nenhuma técnica nova, mas uma técnica indígena ancestral, com nosso próprio conhecimento da floresta", salientou.

Por sua vez, Murillo destacou o simbolismo de plantar árvores que lembrem às vítimas do conflito armado em uma região de maioria de população indígena como Vaupés pelo valor que a memória coletiva tem para os povos da Amazônia.

"Nas crenças das comunidades indígenas do Vaupés, as pessoas morrem duas vezes: quando deixam de respirar e também quando seu nome já não é mais pronunciado. E ter estas árvores com o nome de cada vítima e adotadas pela comunidade global garante que haja memória e a repetição deste nome permaneça para sempre", comentou.

EFE   
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