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SP: refugiados iniciam curso de português para recomeçar vida no Brasil

Ministrado por voluntários, curso tem duração de 6 meses e deve ajudar 144 pessoas

13 abr 2013 - 20h55
(atualizado às 21h31)
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Trinta e seis refugiados que vivem em São Paulo participaram, neste sábado (13), de sua primeira aula de português, idioma que precisam aprender para recomeçar a vida no País. O curso, que terá duração de seis meses, é ministrado por voluntários do Instituto de Reintegração do Refugiado - Brasil (Adus), treinados pela rede de ensino de idiomas Wizard, e que acontece em uma sala cedida pelo Cursinho XI, no centro da capital paulista. O idioma é a primeira barreira a ser vencida pela turma, formada por pessoas que deixaram seus países para fugirem de conflitos políticos e religiosos, guerras civis e da miséria.

"Tudo o que eu quero é recomeçar a minha vida com a minha família e, um dia, voltar a exercer minha profissão. Nós tínhamos casa, carro, tínhamos trabalho, mas tivemos de fugir para salvar a vida do nosso filho", contou o médico afegão Wakal (que preferiu não ter seu sobrenome revelado), 35 anos, que deixou o Irã após ser ameaçado de morte devido a divergências religiosas.

Ele e a mulher, a enfermeira iraniana Maboube, 37 anos, chegaram ao Brasil há cerca de dois meses, trazendo o filho de 7 anos. Do Irã a São Paulo o caminho foi longo: antes, Wakal teve de caminhar por uma semana a pé até a Turquia, onde ficou por alguns meses, até decidir cruzar o oceano para começar do zero a vida.

"Mandei cartas para cinco países pedindo refúgio e o Brasil nos aceitou. Quero voltar a ser médico e contribuir com o País. Eu estudei um pouco de português pela internet", contou, em inglês, idioma que domina.

Histórias como a do médico afegão se repetem na turma, embora a maioria tenha fugido da miséria. Boa parte dos alunos que se inscreveram no curso são haitianos, que procuraram o Brasil após o terremoto de 2010, que deixou cerca de 300 mil mortos e mais de três milhões de desabrigados. De acordo com o governo federal, estima-se que pelo menos 4.500 refugiados vivam no Brasil - isso sem contar os haitianos, que aguardam um visto humanitário de permanência.

"Aprender o português era a nossa primeira demanda, desde a fundação. O idioma é fundamental para que eles possam trabalhar, se inserir no mercado de trabalho", disse Victor Mellão, um dos diretores do Adus.

A expectativa é ensinar a língua a pelo menos 144 pessoas ao longo dos próximos dois anos, mas a organização não governamental ainda procura ampliar as parcerias para atender mais refugiados, pois já há lista de espera para participar. "A maioria não têm dinheiro para condução, por isso precisávamos de uma sala de aula no centro", explicou. 

<p>Daniel Orisakwe, 23 anos, teve de fugir da Nigéria após um de seus irmãos ser assassinado e o outro desaparecer. Agora, ele sonha em refazer a vida em São Paulo</p>
Daniel Orisakwe, 23 anos, teve de fugir da Nigéria após um de seus irmãos ser assassinado e o outro desaparecer. Agora, ele sonha em refazer a vida em São Paulo
Foto: Bruno Santos / Terra
Voluntários

As aulas são ministradas por voluntários, que em sua maioria não são professores por formação. Uma das poucas é Ana Cláudia Moreira Moreno, 47 anos, professora universitária de língua portuguesa. "Não tem dinheiro que pague poder ajudar alguém que realmente precisa. Você vê o brilho nos olhos dos alunos, eles realmente querem aprender", disse.

Ana e os demais voluntários participaram de um curso de capacitação na Wizard, que cedeu também o material escolar e a metodologia de ensino.

"O curso todo leva um ano e meio, mas seis meses não é pouca coisa. Porque eles aprendem mais rápido, pois já vivem o idioma nas ruas. A ideia é que se sintam seguros para falar e estimulados a aprender", disse Danielle Santos Kawasaki, coordenadora pedagógica de uma unidade da rede e responsável pelo treinamento dos voluntários.

Recomeçar a vida

A turma é bastante heterogênea inclusive nos idiomas de origem: enquanto muitos falam francês, há alunos que falam espanhol, persa e inglês. É o caso do nigeriano Daniel Orisakwe, 23 anos, que chegou a São Paulo em março.

Ele, que se preparava para começar uma graduação universitária na Nigéria, teve de fugir após um de seus irmãos ser assassinado e o outro desaparecer, também vítimas do conflito político-religioso que acontece no local. Os pais dele, que são líderes religiosos cristãos, permanecem no país, mas ele sonha em poder trazê-los para o Brasil.

"Eu queria estudar economia, abrir meu próprio negócio e ser um empreendedor. Eu não sei se poderei voltar um dia para o meu país. Mas eu espero poder continuar o meu sonho aqui, um dia", disse o jovem, recém-chegado.

Fonte: Terra
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