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Lava Jato

João Santana: auge e queda do homem que elegeu 7 presidentes

24 fev 2016 - 09h36
(atualizado às 09h37)
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Considerado um gênio do marketing político, João Santana deve perder muito prestígio após ser preso pela Lava Jato
Considerado um gênio do marketing político, João Santana deve perder muito prestígio após ser preso pela Lava Jato
Foto: Jeso Carneiro/Flickr / O Financista

Com uma capacidade estratégica fora dos padrões e um talento de tirar vários coelhos de cartola em corridas eleitorais praticamente perdidas, o publicitário João Santana – que já emplacou seis presidentes – está prestes a ver um escândalo manchar sua prestigiada carreira em questão de dias.

Os dias de reconhecimento de Santana podem estar contados após a 23ª fase da Operação Lava Jato, também conhecida como Operação Acarajé, que decretou a prisão temporária do marqueteiro, de sua mulher, Mônica Moura, e de outras seis pessoas. O casal é suspeito de receber pagamentos ocultos no exterior realizados pela Odebrecht e pelo operador financeiro do esquema de corrupção na Petrobras Zwi Skornicki, de acordo com o Ministério Público Federal.

Segundo o MPF, há evidências de que a Odebrecht transferiu US$ 3 milhões entre abril de 2012 e março de 2013 para uma conta mantida no exterior por Santana e Mônica. Para os procuradores, trata-se de um "valor sobre o qual pesam indicativos de que consiste em propina oriunda da Petrobras que foi transferida aos publicitários em benefício do PT".

Santana trabalhou nas duas campanhas da presidente Dilma Rousseff e na reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além deles, conduziu outras quatro campanhas presidenciais: Mauricio Funes (El Salvador, 2009), Danilo Medina (República Dominicana, 2012), José Eduardo dos Santos (Angola, 2012) e Hugo Chavez/Nicolás Maduro (Venezuela, 2012 e 2013).

Considerado um gigante do marketing político, o baiano Santana se formou em jornalismo – chegou a trabalhar no Jornal da Bahia, no Jornal do Brasil, em O Globo e nas revistas Veja e Isto É -, mas não gosta de conceder entrevistas. Não esconde de ninguém, porém, que adora manter boas relações com quem está no poder.

Com conhecimento de sobra para administrar crises, Santana faz a linha "ame-o ou deixe-o". Além da genialidade e competência, seriedade e exigência seriam outras características constantemente atribuídas ao publicitário por quem o conhece.

Em suas campanhas, o marqueteiro usa e abusa de recursos que encarecem as produções, como diversos cenários, atores e figurantes. Quando as disputas estão um pouco mais acirradas, ele não economiza em pincelar as campanhas com agressividade.

O próprio Santana já fez uma análise sobre sua atuação em campanhas políticas. De acordo com ele, o marketing adapta a política ao gosto do eleitor e o maior problema na aceitação do trabalho do marqueteiro está exatamente em compreender a diferença entre persuasão e manipulação.

Em Um marqueteiro no Poder (Editora Record), sua biografia escrita pelo jornalista Luiz Maklouf Carvalho, o próprio Santana afirma que "há um limite entre essas duas ações e muita confusão desde a Grécia antiga. Os detratores da publicidade política-eleitoral acham que nós apenas manipulamos e que a massa é imbecil. Hoje, o meu corpo, o meu afeto e minha relação afetiva e sexual passam pelo mundo da mídia. Por que a política não passaria por aí? E o que fazem o marketing e a propaganda política? Um exercício de persuasão, usando instrumentos legítimos. E a democracia é isso: o choque de elementos de persuasão".

De acordo com números disponíveis no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), sua empresa, a Pólis Propaganda e Marketing, recebeu, do PT nacional, R$ 13,7 milhões pela campanha de Lula em 2006, R$ 9,8 milhões pela de Marta Suplicy em 2008, R$ 42 milhões pela de Dilma em 2010 e R$ 30 milhões pela de Fernando Haddad em 2012. Um total de R$ 95,6 milhões. É o que há no TSE até 2012. Não existe TSE ou semelhantes para as campanhas internacionais. O suposto faturamento de US$ 65 milhões de Santana na campanha presidencial de Angola nunca foi confirmado nem desmentido pelo marqueteiro.

Repercussão da prisão

Após a decretação da prisão de Santana, o presidente nacional do PT, Rui Falcão foi um dos primeiros a se pronunciar sobre o tema e foi contundente ao afirmar que a detenção do marqueteiro não tem relação com a sigla, “cuja finança é legal e declarada à Justiça”.

"Santana vai prestar depoimento e vai se explicar. Do ponto de vista do PT, as nossas declarações foram apresentadas à Justiça Eleitoral e todas as doações são legais. A prisão de Santana não tem nenhuma relação com o PT", disse Falcão.

Candidato à reeleição na República Dominicana, Medina, para quem Santana dedicava seu tempo profissional ultimamente, lamentou que o marqueteiro tenha deixado sua campanha e afirmou que o brasileiro era “um assessor importantíssimo”.

Já o líder do PT na Câmara dos Deputados, Afonso Florence, minimizou a prisão e criticou os recentes passos das investigações.

"A Operação Lava Jato começa a correr o risco de cair em descrédito. A operação insiste na busca de pistas contra o presidente Lula, que recebe uma abordagem condenatória”, afirmou o petista. “Há um ambiente em que as delações premiadas e as instituições começam a ficar sob risco de perder credibilidade. Parece mais um diversionismo", completou.

O vice-líder do PMDB na Casa, Manoel Júnior, chamou a atenção para a atuação da presidência durante a campanha, tentando evitar que a prisão de Santana respingasse na imagem do vice-presidente, Michel Temer, também do PMDB.  

“Se tem essas provas de pagamento de caixa 2, é complicado. O governo tem que se explicar sobre isso, já que a própria assessoria da Presidência da República foi responsável pelo processo eleitoral, a parte institucional do partido, tem que se explicar”, pontuou.

Revolta dos opositores

Enquanto os governistas se esforçam para demonstrar que a relação entre PT e Santana não carrega nenhuma irregularidade, membros da oposição estão munidos de críticas ao publicitário e ao governo.

Antonio Imbassahy, líder do PSDB na Câmara, destaca que o foco da nova fase da Operação Lava Jato é Santana, marqueteiro da campanha de Dilma, principal publicitário do PT e conselheiro da presidente, frequentador assíduo do Palácio do Planalto e da Alvorada.

“Antes tinha sido o tesoureiro da campanha, o João Vaccari; essa combinação deixa a clareza de que a campanha da Dilma em 2014 foi irrigada por dinheiro de propina do petrolão. Acho que o TSE agora vai ter uma indicação muito mais robusta e que, certamente, pode levar à cassação da presidente. É uma coisa muito constrangedora para o país, porque o PT produziu esse péssimo exemplo e que vai ter o preço pago nas ações que estão em curso", criticou o deputado tucano.

No mesmo sentido, o senador José Agripino Maia, do DEM, declarou que a prisão de Santana “constata a recorrência de um hábito do PT que vem desde o caso Duda Mendonça, que também declarou receber pagamento com recursos do exterior. A acusação agora é a mesma. Se as denúncias forem comprovadas, isso mostra que esse é um hábito antigo praticado nas campanhas presidenciais do PT".

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