Mensalão: 'melhor agora que na eleição de 2014', diz Jefferson
- Gustavo Gantois
- Direto de Brasília
O ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) afirmou preferir que o julgamento do suposto esquema do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ocorra em plena campanha para as eleições municipais do que em 2014, quando estará em jogo a Presidência da República. "É claro que tem sempre um efeito político. Mas é melhor que seja agora do que na eleição de governador, deputado federal, estadual, senador. Exaure-se agora", disse o delator dos pagamentos a políticos da base aliada para que apoiassem o governo.
Saiba quem são os 38 réus do mensalão
Ele acredita que seu julgamento e dos outros 37 réus do processo, que começa no próximo dia 2 no STF, vai atingir o Partido dos Trabalhadores (PT). "A exposição pública de imagem afeta. Claro que afeta. O José Dirceu, primeiro a ser julgado, primeiro da denúncia, vai afetar o PT. O segundo, o José Genoino, vai afetar o PT", disse o atual presidente do PTB.
"São os ícones do partido, os homens que construíram o partido que chegou ao poder", justifica o ex-deputado que, em 2005, denunciou o suposto esquema de pagamento de mesada de R$ 30 mil por parte do PT para que os congressistas aliados apoiassem o governo. Mas reconhece que a legenda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não será a única atingida pelo julgamento: "Roberto Jefferson? Vai afetar o PTB".
Roberto Jefferson classificou ainda como "absurda decisão política do Ministério Público" seu indiciamento por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A defesa do delator do mensalão deverá recorrer à mesma artimanha utilizada pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello em seu julgamento no Supremo, em 1994. O advogado do ex-deputado dirá que a acusação não conseguiu provar a existência do "ato de ofício", quando há materialidade de que alguém tirou proveito de uma suposta corrupção.
O ex-deputado demonstrou convicção de seu julgamento. "Eu não serei preso. Não serei. Não sei os outros réus. Minha convicção é com base no meu coração. Não serei preso".
Saúde
O presidente nacional do PTB será operado às vésperas do julgamento. Ele foi diagnosticado com um tumor no pâncreas. Segundo a assessoria de imprensa do PTB, o tumor é benigno e está em fase inicial. Inicialmente, o partido havia informado que Jefferson havia sido diagnosticado com câncer. O político será internado no dia 27 no Hospital Samaritano, em Botafogo, no Rio de Janeiro, e no dia seguinte passará pela cirurgia.
O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.
No relatório da denúncia, o ministro Joaquim Barbosa apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.
Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.
O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.
Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.