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Política

Delação de executivo da Odebrecht cita Temer e abala cúpula do Legislativo

10 dez 2016 - 17h05
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A delação premiada de um executivo da construtora Odebrecht voltou a abalar os alicerces da política brasileira ao acusar a cúpula do Legislativo de ter recebido repasses ilegais da empresa, em um novo escândalo que envolve inclusive o presidente Michel Temer.

Ministros, deputados, senadores, assessores e até o próprio Temer. Dezenas de políticos foram citados pelo ex-vice-presidente de Relações Instituições da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, em uma delação pactuada em troca de uma redução de pena e vazada aos veículos de comunicação nesta sexta-feira.

No documento de 82 páginas o nome de Temer é citado 43 vezes. A declaração de Melo Filho afirma que o atual presidente pediu ao empresário Marcelo Odebrecht R$ 10 milhões para as campanhas do PMDB em 2014.

Nesse período, Temer era vice-presidente do governo de Dilma Rousseff, destituída da presidência no último dia 31 de agosto.

Melo Filho revela que "tratou poucas vezes diretamente com Temer", já que se valia das figuras do atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e do secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimento, Moreira Franco.

"Sempre soube que Eliseu Padilha representava a figura política de Michel Temer", narra o executivo.

Segundo o testemunho, do montante total solicitado, R$ 4 milhões foram recebidos via Padilha, que afirmou em uma nota que tudo é "mentira".

O executivo também relata, com provas anexadas, sua relação com a cúpula do Legislativo, que recebia "apoio financeiro", supostamente não declarado, da construtora em troca de que deputados e senadores elaborassem leis favoráveis para a atividade da empresa.

A delação também menciona os nomes dos presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do Senado, Renan Calheiros.

No documento há um capítulo específico referente a Maia (DEM-RJ), a quem Odebrecht pediu "apoio" para a tramitação de uma lei e este lhe solicitou em troca "uma contribuição" para a campanha eleitoral à prefeitura do Rio de Janeiro em 2012.

"Decidi contribuir com o valor aproximado de R$ 100 mil, que foi pago no início do mês de outubro de 2013", detalha Melo Filho.

Maia, que aparece identificado com o apelido de "Botafogo" no chamado "departamento de propinas" da Odebrecht, era visto como "o ponto de interlocução dentro da Câmara dos Deputados em defesa dos interesses da empresa".

A assessoria de Maia, que qualificou as informações de "absurdas", declarou em comunicado que nunca participou de qualquer negociação com Odebrecht "para a aprovação de leis ou de qualquer outra proposta".

Quem mais uma vez também é citado no documento é o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que aparece no registro de cobranças com o codinome de "Justiça".

"Em 2010, como consta dos documentos que minha empresa entregou ao Ministério Público, se repassou uma contribuição financeira a Renan Calheiros, com o apelido de 'Justiça'", declara Melo Filho, que acrescenta que a quantia total enviada foi de R$ 500 mil, efetivada em dois pagamentos.

O testemunho também menciona as reuniões que teve com o presidente do Senado sobre legislações que afetavam a Odebrecht.

Em um delas, Melo Filho destaca que Renan lhe pediu "expressamente" apoio para seu filho, que seria candidato ao governo do estado de Alagoas, e que verificasse "se a empresa poderia contribuir".

"Acredito que o pedido de pagamento para a campanha de seu filho ao governo do estado de Alagoas (...) era uma contrapartida pelo forte apoio dado à renovação dos contratos de energia", revela Melo Filho, que interpretou que, se não realizasse o pagamento, "poderia prejudicar à empresa de alguma forma".

Investigado em outros casos de corrupção pelo Supremo Tribunal Federal, Renan assegurou que "a possibilidade de encontrar irregularidades em suas contas pessoais ou eleitorais é zero".

A delação premiada deste executivo é uma das primeiras a vazar após o acordo de leniência alcançado pela Odebrecht com a Justiça no marco da Operação Lava Jato.

A empresa pediu desculpas publicamente pelo envolvimento no esquema de corrupção e se comprometeu a pagar cerca de R$ 6,8 bilhões de multa.

EFE   
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