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Política

Presidente do PSDB: não vamos entregar ruas e internet ao PT

22 abr 2010 - 15h12
(atualizado às 17h56)
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Marcela Rocha

"Não vamos entregar as ruas ao PT. Nem as ruas, nem a internet, nem coisa nenhuma", afirma o senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB e coordenador político da campanha de José Serra à presidência da República. Em entrevista ao Terra, o pernambucano fez um balanço das táticas adotadas por seu partido nessa primeira fase da corrida ao Planalto, avaliou o resultado de pesquisas eleitorais, falou sobre Aécio Neves e não poupou os adversários, Dilma Rousseff e PT, de críticas, embora admita que a orientação de Serra seja por uma campanha paz e amor.

Sérgio Guerra é presidente do PSDB e coordenador político da campanha de José Serra à presidência
Sérgio Guerra é presidente do PSDB e coordenador político da campanha de José Serra à presidência
Foto: PSDB / Divulgação

Segundo o senador, a ofensiva petista aumentou e radicalizou por não encontrar resposta positiva no eleitorado. "Dilma não interagiu com minorias, mas com os poderosos", provocou Guerra após dizer que o "PT tem boas razões para esconder Dilma". "Queremos encontrar essa moça (Dilma) em algum lugar. Esse é o nosso problema", ironiza e prosegue: "eles querem criar um confronto entre os dois últimos governos (FHC versus Lula) porque não querem expor a candidata deles".

Leia abaixo a entrevista:

Terra - O que o senhor achou do resultado da pesquisa divulgada nessa quarta-feira pelo instituto Ibope, em que Serra aparece com 36% das intenções de voto e Dilma com 29%? No último levantamento, ele estava com 35% e ela com 30%.
Sérgio Guerra -
A diferença entre eles cresceu dois pontos, o que é semelhante ao resultado divulgado pelo último Datafolha. Esses dois institutos têm guardado consistência em suas pesquisas. Evidente que têm resultados diferentes, mas são simétricos, guardam a mesma lógica. Tanto no Ibope, quanto na Datafolha, nós aumentamos levemente. Tanto em um instituto, quanto em outro, fica clara uma certa estagnação da ministra Dilma e um certo crescimento de Serra. Vale prestar atenção que, nas regiões em que o PT imaginava ter maioria crescente, - e já a essa altura, muito mais forte do que o candidato do PSDB -, não tem. É o contrário. No Nordeste, região mais difícil para nós, a ministra Dilma tem intenções de voto baixíssimas, tão logo a população a conheceu. Quando foi informado que ela era a candidata do presidente da República, cresceu. Mas depois parou de crescer.

Terra - Os partidos sempre acataram as pesquisas, mesmo que discordassem delas. Por que, agora, o PSDB resolveu investir tanto na fiscalização dos institutos e por que resolveu eleger institutos que consideram legítimos?
Sérgio Guerra -
Nesse caso, é bom deixar claro que não é uma batalha judicial entre os partidos. Temos contestado o que não nos parece certo. Aquilo que temos convicção de que precisa ser visto e precisa transparência, porque tem tudo a ver com a opinião pública. Vamos agir todas as vezes em que considerarmos ter havido desvio. Não vamos permitir. Não estamos fiscalizando um ou outro. O fato é que algumas pesquisas têm desvios evidentes que precisam ser vistos com mais detalhes, como é o caso deste último levantamento da Sensus.

Terra - Podemos dizer que vocês vão fazer uma campanha legalista, recorrendo muito à Justiça?

Sérgio Guerra -

Vamos trabalhar a campanha toda com esse viés. Vamos recorrer à Justiça quantas vezes for necessário. Vamos fazer o máximo para que essa campanha se dê de acordo com a lei. Nós reclamamos muito da campanha antecipada da ministra Dilma. No final, nossa acusação se demonstrou correta. A nossa campanha não tem a ilusão de que pode concorrer com a campanha do PT, no sentido estrutural. Precisamos muito mais do cumprimento da lei do que eles.

Terra - Qual tem sido o critério de escolha dos locais a serem visitados pelo pré-candidato?
Sérgio Guerra -
Temos visitado algumas regiões onde encontramos a normalidade política, ou seja, bons palanques. No mais, temos dado prioridade às áreas que nos são caras. Não necessariamente o Nordeste é o mais importante, mas é natural que seja mais visitado do que os locais onde temos uma vitória mais segura. O Nordeste receberá, de fato, mais atenção. Tanto quanto for possível.

Terra - Não estão perseguindo lugares ainda problemáticos para o PT?
Sérgio Guerra -
Não fazemos a nossa campanha de refluxo, nem a reboque do que faz Dilma.

Terra - Serra tem falado de futebol, tem tentado descontrair, tirar o paletó e a gravata...
Sérgio Guerra -
A orientação do Serra é fazer uma campanha leve, sem confrontos. Por exemplo, não vamos, nos Estados, fazer programações extenuantes. Programações com a base do partido e bases aliadas. Viagens com dois ou três eventos, no máximo, que possam ser facilmente organizadas. Para a condução desses eventos, tem que ser algo popular, simples, leve. Nada que passe a impressão de grandes estruturas. A nossa campanha será assim.

Terra - Que impressão PSDB quer passar com isso?
Sérgio Guerra -
Mesmo se a gente quisesse, não teria a menor chance de concorrer com o PT. A legenda de Lula e Dilma já está fazendo uma campanha de grandes proporções, tanto técnica, quanto econômica. Não vamos competir com isso. Temos um candidato que precisa mostrar. O PT tem uma candidata que precisa produzir e mostrar. E ainda assim será pouco.

Terra - O senhor fala em mostrar o que fez. Qual a relevância da internet nessa campanha? Qual será a importância dela na campanha de Serra?
Sérgio Guerra -
Muito mais relevante do que no passado, mas não terá, nem de longe, a relevância que muitos acham que vai ter. Comparando com a americana, nós, brasileiros, ainda temos uma campanha na internet, muito mal estruturada.

Terra - Qual a maior dificuldade de Serra?
Sérgio Guerra -
Encontrar Dilma. O PT faz um esforço muito grande para esconder a sua candidata. Queremos encontrar essa moça em algum lugar. Esse é o nosso problema. Eles querem criar um confronto entre os dois últimos governos (FHC versus Lula) porque não querem expor a candidata deles. E têm razões para fazer isso.

Terra - Serra não menciona nominalmente membros do governo. Dilma tem feitos criticas diretas. São duas maneiras de fazer campanha. A do PSDB está funcionando?
Sérgio Guerra -
Olha, muito sinceramente, tem funcionado. Esse, na verdade, é um momento da campanha da Dilma. A campanha dela previa que, neste momento, estaria ao menos empatada conosco. Não está. A campanha de Dilma radicalizou. Um processo de radicalização causado pela ausência de crescimento. Eles radicalizam, colocam as coisas como polarizadas, o que acaba sendo bom. Assim, dá espaço para o discurso do Serra de que é o candidato de todos, da união, não é de um lado ou de outro.

Terra - O PSDB tem se preocupado muito em mostrar "mobilização partidária". Isto é uma tentativa de responder à quantidade de militantes que o PT tem?
Sérgio Guerra -
Nós precisamos ter mais militantes e estamos incorporando mais militantes. Não vamos entregar as ruas ao PT. Nem as ruas, nem a internet, nem coisa nenhuma. O que nos cabe fazer é discutir propostas para o país. Abrir o partido é um objetivo estratégico.

Terra - Algumas pessoas do PSDB têm afirmado que o partido está mais à esquerda do que antes. O que isto significa?
Sérgio Guerra -
Não somos de direita. Dividir em dois, direita e esquerda, bom ou ruim, é fantasia de mercado.

Terra - Como o partido vai tratar o tema privatizações?
Sérgio Guerra -
Absoluta e total naturalidade e com a consciência de dever cumprido. Serra não vai evitar esse assunto. Algumas privatizações foram feitas e não foram desfeitas durante o governo que está aí. O Brasil está bem melhor com as privatizações do que antes.

Terra - O senhor tem tentado convencer Aécio Neves a ser vice de Serra? Alguém tem feito isso?
Sérgio Guerra -
Não, dentro do partido não faremos mais isso. Agora, vamos aguardar a decisão dele sobre o que é o mais correto, tanto para Minas, quanto para o País.

Terra - É a primeira vez que teremos duas mulheres concorrendo à presidência. O senhor acredita que isso muda o debate?
Sérgio Guerra -
Isso é um preconceito. Não muda nada. As pesquisas já mostram que o eleitorado não se divide dessa forma (homens-mulheres).

Terra - Dilma tem trabalhado essa questão em sua campanha...
Sérgio Guerra -
A única coisa com a qual Dilma tem liga, da qual as pessoas vão se lembrar, foram os últimos meses de governo. A única mulher importante que tratou com ela foi Lina Vieira, da Receita Federal. Dilma não interagiu com minorias, mas com os poderosos.

Terra - No Ceará, o PSDB vive um impasse. Como o senhor pensa em equacionar?
Sérgio Guerra -
Tanto nós, quanto PT, dependemos dos movimentos de Ciro Gomes (PSB), que, de alguma maneira, estão ligados aos de Tasso Jereissati (senador do PSDB-CE).

Terra - No Rio de Janeiro, Fernando Gabeira, do PV, não decidiu ainda se fechará chapa com DEM e PSDB. O que o senhor pretende fazer?
Sérgio Guerra -
Todo o esforço possível para resolver com Gabeira. Se não for possível com ele, tentaremos resolver com nossos aliados por lá mesmo.

Fonte: Terra Magazine
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