Sarney comanda vasta "teia" de indicações no poder público
O senador José Sarney (AP) está longe de perder o poderio. Apesar de viver uma crise na presidência do Senado, o maior cacique do PMDB comanda uma vasta "teia" de indicações no poder público. Agências reguladoras, fundos de pensão, autarquias. É impossível calcular o tamanho dos tentáculos de Sarney nos órgãos brasileiros, principalmente pela maneira "clandestina" que atua na hora de indicar seus afilhados políticos, segundo afirma um cacique do PSDB.
"Lula e Dilma dizem que precisam do PMDB para governar. Mas o Ministério de Minas e Energia é mais que o suficiente para pagar essa dívida política", afirma o presidente do PT no Maranhão, deputado Domingos Dutra. "O governo, no entanto, está pagando essa dívida a peso de ouro. O PMDB só tem o pudim. Eles têm ainda a presidência da Câmara e do Senado. E nós temos que ficar nos humilhando."
Sarney tem sofrido pressões para deixar o cargo desde que começou a ser envolvido em uma série de denúncias. Ele é acusado de contratar parentes e aliados através dos chamados atos secretos - decisões do Senado que não foram oficialmente publicadas -, além de ter indicado para o cargo o ex-diretor-geral da Casa acusado de comandar a edição desses atos, Agaciel Maia. Além disso, Sarney teria ocultado da Justiça Eleitoral uma mansão milionária em Brasília e é acusado de favorecer seu neto para negociar empréstimos consignados de servidores da Casa.
Setor elétrico
O ministério de Minas e Energia é a menina dos olhos de Sarney. O partido recebeu a pasta de porteira fechada. E foi justamente nesse ministério que o peemedebista teve um dissabor: o afastamento do ex-ministro Silas Rondeau, que pediu demissão do cargo depois de ter sido investigado pela Polícia Federal durante a operação Navalha por suspeita favorecer a empreiteira Gautama em uma licitação do programa Luz para Todos. Afastado do ministério, Rondeau exerce hoje a função de conselheiro na Administração da Petrobras, onde recebe mais que um ministro de Estado para participar de reuniões mensais.
O poderio de Sarney no setor elétrico vai muito além da Esplanada. Ele indicou para a a presidência da Eletrobrás José Maria Muniz. Assim como indicou Astrogildo Quental para diretor financeiro e de Relações com Investidores. Quental foi secretário de Infraestrutura no governo de Edison Lobão (1991-1994) e depois no de Roseana Sarney (1995-2002) no Maranhão. Antes da Eletrobrás, Quental foi diretor administrativo da Eletronorte.
Na Agência Nacional de Petróleo (ANP), Sarney colocou Alan Kardec Duailibe como diretor. Duailibe é genro de José Carlos Sousa e Silva, administrador da Fundação José Sarney. Já na Valec, empresa responsável pela construção da ferrovia Norte-Sul, está Ulisses Assad, investigado pela Polícia Federal devido a sua ligação com Fernando Sarney em processos fraudulentos de licitação.
Comunicações
O Ministério das Comunicações, com Orçamento para 2009 de R$ 270 milhões, também é bem quisto por Sarney. A família do senador é dona da concessão da TV Mirante, a retransmissora da Rede Globo no Maranhão. A TV está no ar desde 1987. Além de Minas e Energia e Comunicações, os ministérios de Agricultura, Defesa, Integração Nacional e Saúde também estão sob o domínio do PMDB. Somados, eles têm previstos no Orçamento de 2009 mais de R$ 52 bilhões.
De maneira geral, as indicações de Sarney são para os órgãos de infraestrutura, que geram as grandes obras e, consequentemente, trazem os grandes financiadores de campanhas. É o que afirma o senador Artur Virgílio (PSDB-AM), autor de denúncias contra o presidente do Senado no Conselho de Ética. "Sarney representa uma política que não cabe mais no País. Um político patrimonialista que faz questão de cargos de R$ 2,7 mil (uma referência ao cargo ocupado pelo ex-namorado da neta de Sarney, Henrique Bernardes, nomeado por ato secreto)."