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Médico brasileiro pede à OMS estado de emergência para zika

31 jan 2016 - 18h46
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Vice-presidente da Fiocruz Rodrigo Stabeli apela à Organização Mundial da Saúde por medida emergencial visando agilizar o financiamento do combate ao vírus. Maior inimigo atual é ignorância sobre a natureza do patógeno.

Antecipando a conferência a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta segunda-feira (01/02), em Genebra, o vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Rodrigo Stabeli, pediu ao órgão internacional que declare estado de emergência relativo ao vírus zika.

Falando à DW, o médico explicou que o rápido alastramento da doença pela América do Sul motivou o seu apelo. "Como [a presidente da OMS] Margaret Chan disse, estamos vendo um crescimento explosivo dos casos. Considerando as taxas de transmissão do vírus, acho que Margaret deveria declarar estado de emergência de saúde pública."

Stabeli parte do princípio que a iniciativa agilizaria a liberação de fundos pelos Estados-membros da OMS e por doadores privados, com o fim de combater o vírus. Entre os 22 países atingidos no continente americano, o Brasil é a maior vítima.

O Ministério da Saúde em Brasília estima que haja até 1,5 milhão de cidadãos infectados. Além disso, há 4.180 casos registrados de suspeita de microcefalia – malformação craniana congênita que as autoridades associam ao zika. Dentre esses, porém, somente 270 estão confirmados, e em apenas seis há uma relação comprovada com o agente patogênico.

Relação duvidosa com microcefalia

No entanto, entre as preocupações da comunidade científica brasileira, em meio à epidemia, a principal parece ser a ignorância. "O problema é que sabemos tão pouco sobre a doença", comenta a epidemiologista Denise Valle, também da Fiocruz. "Precisamos entender esse vírus muito melhor, no momento ele ainda é um mistério."

Quanto a uma eventual ligação entre o zika e a incidência de microcefalia, apesar de indicadores fortes, os cientistas brasileiros admitem que uma correlação não significa causalidade. "Os indícios são muito sugestivos, mas não podemos dizer que seja uma certeza científica", explica Stabeli.

Ele acrescenta que o vírus foi encontrado no líquido amniótico de duas gestantes cujos fetos portavam microcefalia. E o Instituto Carlos Chagas demonstrou recentemente que o patógeno é capaz de passar através da placenta.

Com base na taxa de crescimento dos casos de microcefalia ao longo de 2015, a Fiocruz projeta que, até o fim do ano corrente, o Brasil terá 16 mil portadores da malformação. Segundo o doutor Stabeli, essa é a pior crise sanitária no país desde a epidemia de gripe espanhola em 1918.

Testes, vacina e prevenção

Neste sábado, a empresa de biotecnologia Genekam, sediada na cidade alemã de Duisburg, anunciou um teste de DNA para diagnóstico rápido do vírus zika, cujos kits já estariam a caminho do Brasil. Até então, os únicos métodos disponíveis eram em nível molecular, com alto nível de complexidade e apenas eficazes na presença de sintomas clínicos – uma fase breve da infecção, com apenas três a sete dias de duração.

Rodrigo Stabeli também menciona um procedimento diagnóstico a partir do soro sanguíneo, que permitiria detectar a doença precocemente, mas "no momento esse tipo de teste não está no mercado". Além disso, calcula-se que sejam necessários, no mínimo, três anos para se desenvolver uma vacina.

Na falta de alternativas clínicas, o Brasil se concentra na prevenção e no combate ao vetor do vírus zika: o mosquito Aedes aegypti, o mesmo transmissor da dengue. Para tal, a partir de 13 de fevereiro 220 mil soldados irão de casa em casa, educando a população sobre a necessidade de eliminar focos potenciais do inseto, como poças de água parada.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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