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Lista de Fachin pode abrir ainda mais espaço para 'outsiders' e igrejas, dizem analistas

12 abr 2017 - 15h15
(atualizado às 15h31)
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A autorização do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), para que sejam investigados oito ministros, 63 congressistas e três governadores citados nas delações da Odebrecht pode abrir ainda mais espaço na política para candidatos que se apresentem como "outsiders" e igrejas, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.

Relator da Lava Jato no STF, ministro Edson Fachin autorizou 76 pedidos de abertura de inquérito
Relator da Lava Jato no STF, ministro Edson Fachin autorizou 76 pedidos de abertura de inquérito
Foto: Reuters

Na terça-feira, Fachin deu sinal verde às investigações, que afetarão grande parte dos mais poderosos políticos e dirigentes partidários brasileiros. O ministro também enviou a instâncias inferiores pedidos para investigar outras duas centenas de pessoas, entre os quais os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Vice-diretora do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília), Flávia Biroli diz que as investigações expõem mais do que um caso de corrupção, e sim "como o Estado brasileiro é permeável à influência dos interesses empresariais".

Nesse cenário, diz ela, "quando os partidos se enfraquecem e há uma percepção de que o sistema está corrompido, podem se fortalecer atores individuais que se dizem independentes do sistema".

Entre essas figuras a professora lista o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Cotados como presidenciáveis, os dois costumam criticar a política tradicional e se apresentar como alheios ao sistema.

Biroli diz, porém, que tanto Doria quanto Bolsonaro "têm uma relação genética com a política, seja via empresariado ou via política partidária".

Ela afirma que, quando a política partidária perde legitimidade, igrejas também ganham força "como canais para a construção de carreiras políticas".

"Me preocupam os atores que, surfando na ideia da apolítica, possam trazer para a política soluções não democráticas."

Renovação?

Também professor de Ciência Política da UnB, David Fleischer diz que as investigações baseadas nas delações da Odebrecht podem levar a uma renovação de até 70% da Câmara dos Deputados na próxima eleição, em 2018. Normalmente esse índice é próximo de 50%, segundo ele.

Fleischer afirma, no entanto, que a renovação poderá ser limitada se os parlamentares aprovarem algumas reformas políticas que estão em discussão.

Uma das principais propostas instituiria, na eleição para a Câmara dos Deputados, o voto em listas definidas pelos partidos. Hoje o voto para deputado é em políticos individuais.

Com a mudança, dirigentes partidários investigados pela Lava Jato teriam mais chances de se reeleger, pois provavelmente estariam entre os primeiros nas listas de suas siglas.

Para Fleischer, os mais cotados a ocupar as vagas de políticos investigados são deputados estaduais.

Mas ele diz que também pode haver mais espaço para figuras como Doria e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), outro empresário a se lançar recentemente na política institucional.

Fleischer diz que partidos menores não afetados pelas denúncias, como PSOL e Rede, terão dificuldades para ocupar eventuais espaços deixados pelos grandes.

Ele lembra que, na eleição municipal em 2016, as duas siglas não conseguiram aumentar seus números de prefeitos e vereadores, embora naquela época a Lava Jato já estivesse golpeando os partidos tradicionais.

Fragilidade

Para Pedro Arruda, professor de ciência política da PUC-SP, as investigações não devem mudar a correlação de forças em Brasília no curto prazo.

Ele diz que pode levar vários anos até que os casos sejam julgados e que muitos políticos alvos de inquéritos "já estavam envolvidos de alguma maneira em denúncias de corrupção".

Mas as investigações debilitam o governo Michel Temer, afirma Arruda, por envolver oito ministros, os presidentes da Câmara e do Senado e os principais dirigentes tucanos e do PMDB, fazendo "com que o governo tenha pouca legitimidade para aprovar as reformas que vem tentando".

O professor diz que um impacto provável das delações é a saída do senador Aécio Neves (PSDB-MG) da lista de candidatos à Presidência em 2018.

Alvo de cinco inquéritos no STF, Aécio "ficou muito fragilizado dentro do partido", segundo o professor.

Com isso, Arruda avalia que o candidato tucano ao Planalto será o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também sob investigação, ou ainda João Doria, caso a situação do governador também se complique.

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