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Ladrão internacional de ovos raros está foragido depois de ter prisão decretada no Brasil

12 jan 2017 - 07h03
(atualizado às 08h35)
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Um ladrão de ovos raros conhecido mundialmente está foragido depois de ter a prisão decretada no Brasil.

A informação foi confirmada por autoridades brasileiras à BBC Brasil.

Ex-soldado do Serviço Aéreo Especial (SAS na sigla em inglês), unidade das Forças Armadas do Reino Unido, o irlandês nascido no Zimbábue Jeffrey Lendrum, de 55 anos, foi condenado por transportar sem autorização ovos de falcão peregrino, espécie ameaçada de extinção.

Na ocasião, a prisão dele teve grande destaque ao redor do mundo.

Ele havia sido detido em outubro de 2015 pela polícia no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, a partir de uma denúncia do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), quando tentava embarcar com o material em um voo para a Johanesburgo, na África do Sul, com escala em Dubai, nos Emiradores Árabes Unidos.

Em Dubai, onde a falcoaria (arte de criar, treinar e cuidar de falcões e outras aves para a caça) é considerada um esporte nacional, Lendrum pretendia vender cada ovo por cerca de 5 mil libras (R$ 20 mil, em valores atuais) no mercado negro.

Corridas envolvendo esse tipo de ave ─ a mais rápida do planeta, com velocidades superiores a 320 km/h ─ são comuns no emirado e podem render prêmios milionários.

Na bagagem dele, além de quatro ovos, havia três incubadoras e material de escalada.

Cada ovo de falcão peregrino seria vendido em Dubai por cerca de R$ 20 mil
Cada ovo de falcão peregrino seria vendido em Dubai por cerca de R$ 20 mil
Foto: Greg Hume / BBC News Brasil

Quando foi detido, Lendrum afirmou que os ovos eram de galinha. Mas depois confessou à polícia brasileira tê-los roubado em Santiago, no Chile. Eles foram devolvidos ao país de origem.

Pouco depois de ser preso, em dezembro de 2015, ele foi denunciado pelo MPF (Ministério Público Federal) por crime ambiental e condenado a uma pena de quatro anos e seis meses de prisão. Mas pôde recorrer da decisão em liberdade.

No entanto, como descumpriu a medida de comparecer a cada dois meses à Justiça para comprovar endereço e justificar atividade, a Procuradoria Regional da República da 3ª Região (SP e MS) pediu a prisão preventiva de Lendrum ─ decretada em outubro do ano passado, junto com o julgamento da apelação, que manteve a condenação.

Segundo a Justiça Federal de São Paulo, há mandados de prisão expedidos contra o irlandês na Interpol, a polícia internacional.

A PF (Polícia Federal) também confirmou que Lendrum está foragido.

"A Polícia Federal recebeu o mandado de prisão para cumprimento, que encontra-se em aberto. O nome do cidadão foi incluído no Sistema Nacional de Procurados e Impedidos, o que significa que o indivíduo será preso assim que localizado", informou o órgão em nota enviada à BBC Brasil.

Histórico de crimes

Em 2010, Lendrum foi detido na Inglaterra por tentar embarcar com ovos de falcão peregrino como os acima
Em 2010, Lendrum foi detido na Inglaterra por tentar embarcar com ovos de falcão peregrino como os acima
Foto: RSPB / BBC News Brasil

Antes do Brasil, Lendrum já havia cumprido pena no Canadá, Reino Unido e Zimbábue pelo mesmo crime.

No Reino Unido, ele foi condenado a 30 meses de prisão, posteriormente reduzidos para 18 porque apelou da decisão.

Lendrum foi detido no aeroporto de Birmingham, na Inglaterra, ao tentar embarcar com 14 ovos de falcões peregrinos roubados de uma reserva florestal no sul do País de Gales.

Ele tentaria vendê-los no mercado negro por cerca de 70 mil libras (R$ 270 mil).

Dos 14 ovos, 11 foram retornados aos ninhos.

Na ocasião, um alerta de terrorismo foi emitido no aeroporto depois de um faxineiro ter flagrado Lendrum agindo de forma suspeita na sala de embarque.

Ele confessou à polícia que estava tentando analisar a condição dos ovos, escondidos em meias e amarrados a seu corpo.

Em entrevista à BBC, Bob Elliot, chefe do setor de investigações da Sociedade Real para a Proteção dos Pássaros (RSPB, na sigla em inglês), ONG britânica dedicada à proteção da vida selvagem, afirmou que Lendrum roubava "nossa herança natural debaixo de nossos narizes".

Lendrum já havia cumprido pena pelo mesmo crime em outros países, como Reino Unido, Canadá e Zimbábue; acima, funcionários da RSPB retornam ovos a ninho
Lendrum já havia cumprido pena pelo mesmo crime em outros países, como Reino Unido, Canadá e Zimbábue; acima, funcionários da RSPB retornam ovos a ninho
Foto: RSPB / BBC News Brasil

Ladrão profissional

Lendrum nasceu no Zimbábue, mas tem cidadania irlandesa; ele é ex-soldado das Forças Armadas Britânicas
Lendrum nasceu no Zimbábue, mas tem cidadania irlandesa; ele é ex-soldado das Forças Armadas Britânicas
Foto: Polícia de Birmingham / BBC News Brasil

Autoridades dizem acreditar que Lendrum usa táticas que aprendeu quando era militar para roubar os ovos raros, localizados em áreas de difícil acesso.

A retirada de ovos de rapina é uma atividade complexa, que exige conhecimento específico. Falcões peregrinos só depositam ovos em penhascos de pedra. Além disso, é preciso saber o tempo certo de retirá-los dos ninhos.

Ele foi condenado pela primeira vez pelo crime em 1984 no Zimbabué. Em 2002, Lendrum aparece em um vídeo descendo de rapel de um helicóptero para roubar ovos no Canadá.

Irlandês aparece em vídeo descendo de rapel de helicóptero para roubar ovos no Canadá
Irlandês aparece em vídeo descendo de rapel de helicóptero para roubar ovos no Canadá
Foto: Unidade Nacional de Crime de Vida Selvagem / BBC News Brasil

"Pôde-se extrair dos autos que ele (Lendrum) se trata de um criminoso ambiental profissional, pois ele já esteve envolvidos em casos semelhantes na Inglaterra e no Canadá. Ele mesmo assumiu que fora pego anteriormente nessas ocasiões, mas deu respostas absurdas em juízo. Ele não é um mero observador de pássaros, mas um caçador profissional que deliberadamente interfere na natureza", afirmou por email à BBC Brasil Ellen Cristina Chaves, procuradora da República responsável pelo caso.

A BBC Brasil tentou entrar em contato com o advogado brasileiro de Lendrum, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

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