Há 100 anos nascia Carlos Lacerda, o maior inimigo de Vargas
Um dos personagens mais controversos da política brasileira, Carlos Lacerda completaria nesta quarta-feira 100 anos se estivesse vivo. Carioca, Lacerda é considerado um ícone da política nacional porque esteve presente nos momentos de grandes transformações do século passado. O principal deles se refere ao suicídio do ex-presidente Getúlio Vargas. Lacerda foi um dos principais articuladores da queda de Vargas, sendo assim considerado o seu grande inimigo.
O duelo ideológico entre os políticos tomou corpo após o atentado que Lacerda sofreu ao chegar em casa. O fato ficou conhecido como "Atentado da Toneleros". Na situação, Lacerda foi ferido no pé, mas resultou na morte do major-aviador Rubens Florentino Vaz, integrante de um grupo de oficiais que protegia o político. O episódio deflagrou um movimento das Forças Armadas pedindo a renúncia de Getúlio, que se suicidou dias depois.
Como político, exerceu cargos de vereador, deputado e governador do estado da Guanabara, atual município do Rio de Janeiro. Mas uma de suas marcas foi a controvérsia política, como pode ser registrada em algumas passagens da sua vida. Na década de 30, participou da articulação da Aliança Nacional Libertadora (ANL), com um viés mais popular. Em 1947, integrou a União Democrática Nacional (UDN), com uma linha mais liberal. Com um movimento aberto contra Getúlio Vargas, defende publicamente, em especial por meio do seu jornal "Tribuna da Imprensa", a intervenção militar. Porém, dois anos depois do golpe de 1964, articula com os ex-adversários políticos, como João Goulart e Juscelino Kubitschek, a Frente Ampla, contrária ao regime.
Lacerda não foi apenas um político combatente, mas também um jornalista e empresário. Na área da comunicação, o destaque foi o jornal Tribuna da Imprensa, no qual publicou os seus artigos e editorais mais conhecidos. Nas atividades empresariais, se dedicou às companhias Crédito Novo Rio e Construtora Novo Rio.
Para ver e ler
Para quem gosta da literatura e de cinema tema oportunidade de conhecer um pouco mais sobre Carlos Lacerda. No cinema, nesta quinta-feira entra em cartaz o filme "Getúlio". Com direção de João Jardim, o longa mostra os últimos dias do ex-presidente do Brasil antes de cometer suicídio. O período histórico coincide com o atentado que o jornalista Carlos Lacerda, vivido pelo ator Alexandre Borges, sofre, e que amplia a pressão contra Getúlio, interpretado por Tony Ramos.
Na literatura, Lacerda está presente no livro "A República das Abelhas", lançado no final do ano passado, pela Companhia das Letras, pelo escritor Rodrigo Lacerda, neto do político. A obra retrata o perfil do político, utilizando a trajetória da família que começou por volta de 1970.
Trajetória de Carlos Lacerda
30 de abril de 1914: Carlos Frederico Werneck de Lacerda nasce no Rio de Janeiro
1929: começa a carreira profissional escrevendo artigos para o Diário de Notícias
1932: ingressa na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro
1935: participa da fundação da Aliança Nacional Libertadora (ANL), sendo, que em pouco tempo é fechada por decreto do então presidente Getúlio Vargas
10 de novembro de 1937: é preso após o golpe que instaurou o Estado Novo
1939: rompe com os segmentos comunistas
1947: é eleito vereador pelo Distrito Federal pela União Democrática Nacional (UDN)
1949: fundou a Tribuna da Imprensa. É por meio do jornal que faz forte oposição ao então presidente Getúlio Vargas
5 de agosto de 1954: Lacerda sofre atentado ao chegar em sua casa. Responsável pela proteção de Lacerda, o major-aviador Rubens Florentino Vaz morre no ataque
12 de agosto de 1954: lançou movimento pedindo que as Forças Armadas exijam a renúncia de Vargas
22 de agosto de 1954: aumenta a pressão pela renúncia de Vargas nos meios militares
24 de agosto de 1954: Getúlio Vargas suicidou-se
1955: ao longo do ano fez vários artigos defendendo a interferência das forças armadas na vida política do País
Em novembro de 1955: Lacerda é aconselhado a deixar o Brasil e se muda para os Estados Unidos
1956: retorna ao Brasil sendo recebido por uma manifestação popular. Ao reassumir mandato de deputado federal e a direção da Tribunal da Imprensa, faz ataques a Juscelino Kubitschek
1959: começa a articular a candidatura de Jânio Quadros à Presidência da República
1960: é empossado como primeiro governador do recém-criado estado da Guanabara
1964: é deflagrado o movimento político-militar que derrubou o presidente João Goulart. A partir de então passa a apoiar os governos militares, mas a aliança durou pouco
1966: busca ajuda do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e de antigos adversários políticos, como Juscelino Kubitschek e João Goulart, para formar a Frente Ampla, contrário ao regime militar
13 de dezembro de 1968: é preso pelo regime militar, mas solto uma semana depois
1969: com os direitos políticos suspensos, ele se afasta da política e segue no jornalismo e no ramo empresarial
21 de maio de 1977: morre no Rio de Janeiro
*Com informações do Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930, da FGV