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Estrangeiros se dividem: o assalto de um atleta a mão armada pode manchar Jogos do Rio?

15 ago 2016 - 10h38
(atualizado às 10h57)
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Um assalto contado com cores dramáticas recolocou o tema da segurança no Rio na caneta da imprensa estrangeira e na boca dos usuários de redes sociais.

Mãe de Lochte disse que filho ficou 'abalado' após o incidente
Mãe de Lochte disse que filho ficou 'abalado' após o incidente
Foto: EPA

O incidente, envolvendo o medalhista americano Ryan Lochte e outros três colegas da equipe americana de natação, fez muitos questionarem a segurança no Rio durante os Jogos Olímpicos.

Alguns comentaristas e internautas especulam se as notícias deixarão uma imagem ruim da cidade-sede. Para uma analista da CNN e colunista do jornal USA Today, o episódio é "terrível", "assustador" e "muda o tom destes Jogos de uma hora para outra".

Já uma reportagem do jornal online Christian Science Monitor, de Boston, se recusa a embarcar na onda de pessimismo, perguntando se a criminalidade no Rio "correspondeu ao sensacionalismo" da imprensa.

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'Assustador'

No fim de semana, o nadador Ryan Lochte, detentor de 12 medalhas olímpicas, contou à rede de TV NBC como seu grupo foi assaltado quando voltava de uma festa no Club France, casa com temática francesa na Lagoa Rodrigo de Freitas.

Jornalista Dan Diamond, do site americano 'Político', lista algumas vítimas de violência no Rio durante os Jogos.
Jornalista Dan Diamond, do site americano 'Político', lista algumas vítimas de violência no Rio durante os Jogos.
Foto: Reprodução

"Fomos parados, e esses caras vieram com carteiras da polícia - sem sirene, sem nada, só com carteiras da polícia. Eles sacaram as armas, mandaram os outros nadadores irem para o chão e eles se abaixaram. Eu me recusei, pensei, não fiz nada de errado, não vou me abaixar", disse Lochte.

"Então um cara puxou a arma, preparou, colocou na minha testa e disse 'Se abaixa'. E eu levantei os braços, pensei, tanto faz."

Segundo informações da delegação americana, os atletas estão bem e "cooperando com as autoridades" envolvidas no caso. Mas o episódio reavivou uma onda de críticas sobre o estado da criminalidade na cidade que recebe as Olimpíadas.

Para a colunista Christine Brennan, do USA Today, o assalto à mão armada é "uma imagem terrível e assustadora" que "muda o tom destes Jogos de uma hora para outra".

"Considerada a sede olímpica menos preparada da história, o Rio estava sob forte escrutínio por conta de suas águas poluídas, a infraestrutura incompleta, preocupações orçamentárias e, claro, o vírus Zika", escreveu a colunista. "Os primeiros dias dos Jogos desafiaram todas as previsões."

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Para Brennan, porém, após o assalto a Lochte, "os Jogos entram na segunda semana acompanhados de um crescente sentimento de inquietação e precaução".

'Pânico'

Outras reportagens lembram que delegações de outros países, como Portugual, China, Austrália e Rússia, também foram vítimas de assaltos nas ruas do Rio.

Além disso, houve episódios desconcertantes, como a bala perdida que penetrou a tenda da imprensa no Centro Equestre e a janela quebrada de um ônibus que carregava jornalistas.

Lin Humphrey considera que criminalidade dificulta marketing para o turismo no Rio
Lin Humphrey considera que criminalidade dificulta marketing para o turismo no Rio
Foto: Reprodução

O chefe da segurança da cerimônia de abertura foi vítima de uma tentativa de assalto que terminou com a morte do assaltante, e um homem morreu depois que soldados da Força Nacional entraram por engano numa comunidade do Complexo da Maré e foram atacados por traficantes.

Ainda assim, outros veículos foram menos incisivos e outros até relativizaram o episódio envolvendo o nadador americano.

Para a reportagem do Christian Science, apesar desses casos emblemáticos, as "preocupações com a segurança e previsões de forte criminalidade" não se concretizaram. "A onda de pânico em relação ao risco potencial basicamente diminuiu."

A reportagem do CSM ecoa um artigo publicado na semana passada no Chicago Tribune, para quem o "crime verdadeiro" nos Jogos é a "histeria da mídia" com o problema da segurança.

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Às vésperas da abertura das Olimpíadas, uma reportagem do jornal britânico The Daily Telegraph previa que os Jogos no Rio seriam os mais afetados pela criminalidade.

No mesmo dia, o Washington Post expressava ceticismo com os cenários mais pessimistas, questionando-se: "As Olimpíadas do Rio serão as mais 'problemáticas' - mas elas (as Olimpíadas) não são sempre (problemáticas)?, atiçava a publicação.

'Operação abafa?'

"O cara é assaltado e a culpa é dele?", reagiu no Twitter o professor da PUC-Rio Claudio Ferraz.
"O cara é assaltado e a culpa é dele?", reagiu no Twitter o professor da PUC-Rio Claudio Ferraz.
Foto: Reprodução

O assalto aos nadadores americanos foi inicialmente negado pelo Comitê Olímpico Internacional e só confirmado depois pela mãe do atleta.

Mais tarde, o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, levantou polêmica ao dizer que a segurança durante a Rio 2016 não pode ser medida por "um ou outro fato fora de locais de competições e fora do momento apropriado".

Na internet, muitos usuários de redes sociais criticaram a fala do ministro, por tentar culpar o atleta pelo ocorrido.

"O cara é assaltado e a culpa é dele?", reagiu no Twitter o professor da PUC-Rio Claudio Ferraz. "Ministro deveria pensar duas vezes antes de falar."

Para a blogueira Rachel Glickhouse, do site Rio Gringa, "o ministro do Esporte do Brasil essencialmente disse que Lochte estava no lugar errado na hora errada: uma festa na Lagoa".

O site de celebridades TMZ foi além e disse que se tratou de uma "operação abafa" para não manchar a imagem destes Jogos Olímpicos.

O especialista em marketing Lin Humprey, do Ithaca College, em Nova York, tuitou que "entre problemas de segurança e a qualidade do mar, o Rio tem uma tarefa difícil de turismo de marketing".

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