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Conheça o bioconcreto, material que fecha as próprias rachaduras

27 ago 2016 - 12h38
(atualizado às 14h13)
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O concreto é o material mais consumido do mundo, atrás apenas da água, segundo o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável
O concreto é o material mais consumido do mundo, atrás apenas da água, segundo o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A ideia soa tão atraente quanto a ficção científica: edifícios que fecham suas próprias rachaduras, como seres vivos curando suas feridas. Para o cientista holandês Henk Jonkers, não se trata de um projeto fantástico, mas uma realidade muito concreta - literalmente.

Pesquisadores da Universidade Técnica de Delft, na Holanda, desenvolveram o que chamaram de bioconcreto, um material literalmente vivo e capaz de regenerar construções desgastadas.

"Nosso concreto vai revolucionar a maneira como construímos, pois nos inspiramos na natureza", disse Jonkers, por ocasião de receber o prêmio de melhor europeu inventor em 2015 .

Pesquisadores acreditam que o bioconcreto possa fortalecer estruturas e assim reduzir o potencial de estrago causado por terremotos
Pesquisadores acreditam que o bioconcreto possa fortalecer estruturas e assim reduzir o potencial de estrago causado por terremotos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Mais do que inspirado na natureza, o bioconcreto é feito dela. É que as propriedades extraordinárias domaterial se devem à presença de bactérias.

Duras de matar

Para preparar o bioconcreto, os cientistas misturam concreto tradicional com colônias da bactéria Bacillus pseudofirmus, que em seu estado natural pode habitar ambientes tão hostis quando crateras de vulcões ativos.

"O surpreendente é que essas bactérias formam esporos e podem sobreviver por mais de 200 anos nos edifícios", diz Jonkers. A essa mistura acrescenta-se lactato de cálcio - alimento das bactérias - e o material está pronto.

Sem oxigênio e em estado latente, as bactérias que compõem o bioconcreto podem permanecer vivas por séculos, dizem cientistas
Sem oxigênio e em estado latente, as bactérias que compõem o bioconcreto podem permanecer vivas por séculos, dizem cientistas
Foto: Science Photo Library / BBC News Brasil

Quando aparecem fissuras nos edifícios construídos de bioconcreto, as bactérias que aí habitam ficam expostas aos elementos físicos, principalmente água.

A umidade que penetra nas fissuras "acorda" os microorganismos, que começam a consumir lactato de cálcio e, como produto final da digestão, produzem calcário. O calcário repara as rachaduras no bioconcreto em apenas três semanas.

Economia de custo

"Não há limite para a extensão da rachadura que o nosso material pode reparar. Pode ser de centímetros a quilômetros", diz Henk Jonkers. Para a rachadura em si, no entanto, há um limite: a fissura não pode ser mais larga que 8 milímetros.

Material pode reparar rachaduras de qualquer extensão, desde que não tenham uma abertura maior que oito milímetros
Material pode reparar rachaduras de qualquer extensão, desde que não tenham uma abertura maior que oito milímetros
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Ainda assim, o bioconcreto pode economizar bilhões de dólares na manutenção de estruturas como paredes de edifícios, pontes ou barragens.

Segundo a HealCon, organização que pretende promover o uso de novo material, só na Europa são gastos anualmente US $ 6,8 bilhões (mais de R$ 22 bilhões) para reparar edifícios enfraquecidos.

"Apesar de ser mais caro que o concreto tradicional, o benefício econômico é perceptível, pois economiza em custos de manutenção", disse o cientista ao jornal britânico The Guardian

Henk Jonkers afirma que o material já foi empregado na construção de canais de irrigação no Equador, país altamente sísmico.

O material também seria uma esperança para prédios antigos e cheios de rachadura, susceptíveis a colapsar mesmo com tremores de terra leves.

A técnica forma a base de um spray, também desenvolvido pela Universidade Técnica de Delft, que usa os mesmos princípios e pode ser aplicado diretamente sobre pequenas rachaduras.

Teste do mercado

Mas apesar da visão tentadora de edifícios capazes de se autorreparar, o bioconcreto ainda precisa superar o teste mais duro de todos: do mercado.

Cidades grandes, como a Cidade do México, combinam construções novas com edifícios antigos e fragilizados
Cidades grandes, como a Cidade do México, combinam construções novas com edifícios antigos e fragilizados
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O custo do novo produto poderia elevar demasiadamente o valor de grandes projetos de infraestrutura .

Segundo o Guardian, enquanto o metro cúbico de concreto tradicional custa pouco menos de US$ 80 (R$ 260), o novo material passaria dos US$ 110 (R$ 360) - um acréscimo de quase 40%. Para ser bem sucedido, essa conta é agora a principal lacuna que o bioconcreto deve fechar.

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