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Após escândalo da carne, Brasil tenta reverter queda no comércio

27 mar 2017 - 16h52
(atualizado às 21h07)
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Média diária de exportação cai 19% após deflagração da Operação Carne Fraca, há dez dias. Governo interdita seis frigoríficos, assegura controle sanitário e tenta melhorar imagem manchada nos mercados interno e externo.A Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal (PF) no último dia 17, provocou turbulências no mercado interno e de exportação de carne, as quais o governo brasileiro e empresas citadas ainda tentam reverter. A média diária de exportação de carne caiu 19% na semana posterior à operação, passando de 62,2 milhões de dólares para 50,5 milhões de dólares, segundo dados do Ministério de Indústria e Comércio Exterior, divulgados nesta segunda-feira (27/03).

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, passou a última semana fazendo contatos com governos estrangeiros para tentar reverter os danos à imagem do Brasil no exterior. Em entrevista coletiva, ele afirmou que espera um aumento das exportações em breve.

O país é um dos maiores exportadores de proteína animal do mundo e tem contratos de exportação com cerca de 150 mercados. A carne de frango - congelada, fresca ou refrigerada - equivale a 3,24% do total da pauta de exportação do Brasil, e a carne bovina, a 2,11%.

O impacto da Operação Carne Fraca também obrigou o governo brasileiro a se pronunciar e prestar esclarecimentos sobre o ocorrido na Organização Mundial do Comércio (OMC) e assegurar compromissos de controle sanitário.

Apesar de Chile e Egito darem um voto de confiança ao governo brasileiro e restabelecerem o comércio de carne, e a China, segunda maior importadora de carne bovina do Brasil, anunciar a reabertura do mercado interno para o produto, a comunidade internacional ainda observa o cenário e cobra mais rigor na fiscalização.

Os Estados Unidos informaram ao Brasil que, embora não haja embargo, a rotina de inspeção e fiscalização das mercadorias estará mais rigorosa a partir de agora.

A União Europeia (UE) suspendeu a importação de frigoríficos investigados pela PF, aumentando a pressão no âmbito da negociação do acordo comercial com o Mercosul.

O comissário europeu para assuntos de saúde e segurança alimentar, Vytenis Andriukaitis, está no Brasil. Nesta segunda-feira ele afirmou, no Rio, que é preciso restaurar a credibilidade dos produtos brasileiros. De acordo com a assessoria de imprensa do ministério da Agricultura, o comissário deve se encontrar com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, nesta quarta-feira em Brasília.

O governo brasileiro ainda não divulgou uma posição oficial sobre a retomada das relações comerciais com Hong Kong, o maior importador de carnes do Brasil. Comerciantes do país asiático retiraram os produtos brasileiros das prateleiras, e o governo pediu informações oficiais ao Brasil. Maggi anunciou que tem uma videoconferência com autoridade do território marcada nesta segunda-feira para tentar reverter a proibição.

Frigoríficos afetados

Conduzida pela Polícia Federal brasileira, a Operação Carne Fraca apontou irregularidades em 21 frigoríficos que processam carne bovina, de aves e suína, a maior parte deles no Paraná. A PF descobriu e desarticulou um esquema de corrupção envolvendo frigoríficos, fornecedores e fiscais agropecuários, que recebiam propina para amenizar fiscalizações.

Foi revelado que produtos impróprios para o consumo, vencidos, podres e até mesmo adulterados com ácido ascórbico, chegaram ao mercado interno e externo.

Os 21 estabelecimentos suspeitos de irregularidades passaram por novas auditorias e inspeções do Ministério da Agricultura e todas as autorizações de exportação desses frigoríficos foram suspensas temporariamente. Até agora, seis deles tiveram as operações interrompidas, segundo o governo brasileiro.

Os frigoríficos Peccin, Souza Ramos e Transmeat foram obrigados a fazer o recall de produtos e tirá-los do mercado, restituindo os consumidores. A JBS (das marcas Friboi e Seara) e a BRF (das marcas Sadia e Perdigão), gigantes do setor, também tiveram sua imagem afetada.

A JBS informou, em nota, que "um funcionário da empresa na unidade de Lapa, no Paraná, foi citado na investigação", mas que nenhum dirigente ou executivo da empresa é alvo de medida judicial.

"A JBS não compactua com qualquer desvio de conduta de seus funcionários e tomará todas as medidas cabíveis. Os lamentáveis casos citados na imprensa sobre produtos adulterados não envolvem nenhuma das marcas da JBS. Nenhuma planta da JBS foi interditada pelas autoridades", diz a nota.

O ministro da Agricultura afirmou nesta segunda-feira que as primeiras análises feitas em 12 das 174 amostras recolhidas nos 21 frigoríficos investigados não indicaram risco para o consumo.

"Apenas 21 unidades"

A fiscalização alcançou 30 empresas fornecedoras de grandes frigoríficos e 33 fiscais federais. O Banco Central informou que foram bloqueados dois milhões de reais em contas de 46 investigados.

No pronunciamento que fez na OMC, o governo brasileiro fez questão de frisar que o Brasil tem "4.837 unidades de processamento de produtos de origem animal sujeitas a inspeções sanitárias federais", e entre elas apenas 21 foram citadas pela Polícia Federal.

O Ministério da Agricultura reiterou aos países-membros da OMC que dos 2.300 auditores de inspeção sanitária "apenas 33 indivíduos estão sendo investigados por conduta imprópria".

"Todos esses funcionários públicos foram suspensos na pendência da conclusão de processos administrativos em andamento, além da já iniciada investigação criminal", afirmou o ministério.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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