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5 perguntas sobre o escândalo de doping russo e como isso afeta a Olimpíada

18 jul 2016 - 17h36
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Uma investigação da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) divulgada nesta segunda-feira aponta que o governo da Rússia operava um esquema estatal de doping que foi amplamente usado nos preparatórios para a Olimpíada de Londres, em 2012, e nos Jogos de Inverno de 2014, sediada pelo próprio país em Sochi.

De acordo com o relatório, o Ministério do Esporte russo "dirigiu, controlou e supervisionou" a manipulação de amostras de urina dos atletas e fraudou resultados.

A divulgação do relatório elevou a pressão para que a Rússia, que já teve a equipe de atletismo banida da Rio 2016 por doping, seja agora excluída por completo dos Jogos.

A BBC Brasil responde algumas das principais perguntas sobre o escândalo e como isso pode afetar a Olimpíada, que começa daqui apenas três semanas.

1) Como começaram as investigações?

A apuração começou a partir das denúncias do ex-diretor do laboratório antidoping russo Grigory Rodchenkov.

Ele afirmou ter dopado dezenas de atletas, inclusive pelo menos 15 medalhistas, na preparação para os Jogos de Sochi.

Segundo Rodchenkov, isso era resultado de um esquema elaborado e orquestrado pelo governo russo, que explorava o status de anfitrião para subverter o programa antidoping.

O governo já negou diversas vezes as acusações.

Rodchenkov, que está escondido nos Estados Unidos, também afirma ter dopado atletas antes da Olimpíada de 2012, em Londres, durante o Campeonato Mundial de Atletismo em Moscou, em 2013, e no Campeonato Mundial de Natação de Kazan, em 2015.

2) Como o esquema funcionava?

A Rússia teria decidido fraudar os resultados dos exames antidoping dos atletas depois da performance aquém do esperado nos Jogos de Inverno de Vancouver, em 2010, quando o país conquistou apenas 15 medalhas - um número bem baixo para seus padrões.

A primeira medida da chamada "Metodologia de Desaparecimento de Positivos" foi eliminar os testes antidoping positivos dos laboratórios em 2011, fazendo com que os exames sumissem, diz o relatório da Wada.

Logo antes dos Jogos de Inverno de Sochi, a Rússia teria criado um banco de urinas "limpas", ou seja, que teriam resultado negativo se testadas para doping.

O serviço secreto do país (FSB) funcionaria em um prédio do lado do laboratório em Sochi, e o esquema envolveria a troca de frascos de urina contaminada, que eram esvaziados e preenchidos com amostras "limpas" acrescidas de sal, para que todas tivessem o mesmo peso.

Um agente do FSB teria acesso ao laboratório ao se disfarçar de encanador. Mas, ao trocar as amostras de urina, os agentes teriam deixado pequenas marcas nos frascos, o que facilitando o trabalho dos investigadores, liderados por Richard McLaren.

O esquema envolveria atletas de várias modalidades entre 2011 e 2015, incluindo atletismo, levantamento de peso, hóquei, futebol, biatlo, vôlei de praia, natação, esqui, patinação e canoagem, entre outros.

Esquema teria favorecido atletas nos Jogos de Inverno em Sochi, na Rússia
Esquema teria favorecido atletas nos Jogos de Inverno em Sochi, na Rússia
Foto: Svetlana_Dodukh / BBC News Brasil

3) Que integrantes do governo estariam envolvidos?

Segundo o relatório, seria "inconcebível" que o ministro dos Esportes, Vitaly Mutko, não soubesse do esquema de fraudes.

Ele está no cargo desde 2008 e é membro do comitê executivo da Fifa, além de ser presidente do comitê organizador da Copa de 2018, que será realizada na Rússia.

O documento aponta que Mutko interferiu pessoalmente em encobrir pelo menos um caso de doping de um jogador de futebol da liga russa e no desaparecimento de 11 exames positivos de outros atletas.

Mas seria o vice-ministro, Yuri Nagornykh, quem de fato era informado sobre todos os exames de doping positivos de atletas russos, de todas as modalidades, desde 2011.

Além disso, ele decidiria quem se beneficiava do acobertamento e quem não seria "protegido", em completa violação das regras da Agência Mundial Antidoping.

4) Como isso repercutiu na Rússia?

A imprensa russa já havia antecipado o resultado da investigação.

O portal de notícias gazeta.ru disse que o relatório marcaria o início da "semana mais difícil na história do esporte russo", enquanto o jornal Moskovsky Komsomolets afirmava que o movimento olímpico todo enfrenta seu dia mais sombrio.

O portal de notícias esportivas Sport Ekspress avaliou que o relatório poderia ter "consequências irreversíveis para a Rússia por muitos anos", enquanto o site de esportes championat.ru acusava a investigação de ser uma ação coordenada contra a Rússia.

5) Quais serão os efeitos na Olimpíada do Rio?

Por enquanto, a equipe de atletismo do país já está barrada dos Jogos pela decisão da Associação das Federações de Atletismo, que comanda a modalidade no mundo, de manter toda a Federação de Atletismo Russa (Araf) banida das competições globais.

A Araf espera reverter a suspensão - na próxima quinta-feira deve ser tornada pública a resposta ao apelo feito no Tribunal Arbitral do Esporte.

Seja qual for o resultado, um pequeno grupo de atletas russos capazes de provar que estavam "limpos" poderá competir no Rio como parte da delegação do COI.

O presidente do comitê internacional, Thomas Bach, descreveu as descobertas do relatório da Wada como "chocantes e um ataque sem precedentes à integridade do esporte e dos Jogos Olímpicos" e prometeu que serão aplicadas "as mais duras sanções existentes" contra os implicados.

O relatório não faz recomendações, mas seus resultados devem alimentar os pedidos para que a Rússia seja completamente banida da Olimpíada do Rio.

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