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1923: Publicado "Elegias de Duíno", exemplo de lirismo no século 20

13 fev 2017 - 06h08
(atualizado às 07h05)
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No dia 13 de fevereiro de 1923, foi publicada em Leipzig a coletânea "Elegias de Duíno", de Rainer Maria Rilke. Esta obra, concluída um ano antes, é considerada um dos mais importantes exemplos de lirismo no século 20.No dia 13 de fevereiro de 1923, foram publicadas as Elegias de Duíno, do poeta austríaco Rainer Maria Rilke (1875-1926). Um contemporrâneo do escritor chegou a duvidar que alguém lesse o livro, considerado incompreensível. Críticos literários, no entanto, classificariam o volume de dez poemas como a principal obra lírica de língua alemã. O próprio Rilke o considerou sua obra-prima.

Escritas ao longo de mais de dez anos, as Elegias foram iniciadas no Castelo de Duíno, perto de Trieste, onde o escritor morou, entre 1910 e 1911, a convite da princesa Maria von Thurn und Taxis. Trata-se de uma poesia hermética, em que o poeta exprime um espiritualismo fantástico. Em oposição ao cristianismo, Rilke inventou anjos como criaturas ideais ou homens que, com a morte, se convertem em seres majestosos. Frutos da morte, esses seres transfigurados logram uma existência perfeita, uma plenitude sobre-humana.

Segundo o próprio Rilke, nas Elegias a afirmação da vida e da morte se revela como uma só coisa. Nós, seres do aqui e agora, em nenhum instante nos sentimos satisfeitos com o mundo temporal. O ser humano suspeita, vislumbra, imagina origens e futuros. Esse mundo imaginário acompanha-o mais do que o real, como demonstra a história das religiões. "Nós somos as abelhas do invisível", escreveu. Rilke também foi admirador e tradutor de André Gide, que propôs o angelismo dos filhos pródigos, que fogem da domesticação familiar para serem livres.

Vida errante e crise existencial (PT_BR): 1923: Publicado ...

Rainer Maria Rilke nasceu em Praga, a 4 de dezembro de 1875, e morreu em Val Mont, perto de Montreux, na Suíça, a 29 de dezembro de 1926. Na vida real, o escritor também teve fantasias, pelas quais foi muito criticado. Era filho de um ferroviário, mas inventou para si uma origem aristocrática e viveu, sem jamais exercer uma profissão, às custas de suas amigas nobres.

Frequentou por pouco tempo as universidades de Praga e Munique (onde passou os anos da Primeira Guerra Mundial), mas era um autodidata e viajante permanente. Por conta das "madrinhas" aristocráticas, teve estadas na Rússia, Espanha, África e em Paris.

Os primeiros versos de Rilke, publicados na virada do século 19 para 20, eram imitações bonitas e sentimentais da poesia do escritor alemão Heinrich Heine. Como fruto das viagens à Itália e à Rússia, escreveu o Livro de Horas, uma espécie de breviário, que usa imagens cristãs para manifestar uma religião decididamente anticristã, panteísta. Durante quase 30 anos, esse foi o livro de poesia mais lido em língua alemã.

Depois de sua passagem pela França (1905-1906), escreveu Novos poemas, que, segundo os críticos, reúne "as poesias mais perfeitas de Rilke". A riqueza de metáforas nessa obra lembra o estilo barroco, mas em algumas poesias anuncia-se a crise existencial do poeta, que se manifesta com toda força nas Elegias de Duíno.

Não é preciso ser místico para entender Rilke. Pode-se também interpretar sua obra como um retrato da angústia ocidental diante da dessacralização ou secularização do mundo, defendida pelos existencialistas. Em sua novela rilkeana A Náusea (1938), Jean Paul Sartre chega a escrever que "tudo o que existe nasce sem razão, continua vivendo por debilidade e morre por acaso". Por isso, segundo o crítico espanhol José Joaquín Blanco, boa parte do enorme êxito obtido por Rilke nos anos 30 e 40 não pode ser atribuído apenas a seu valor poético.

"Ele oferecia uma resposta semi-religiosa, não-cristã, à cultura europeia, que criticava o cristianismo, mas não sabia nem podia existir sem soluções religiosas", diz Blanco. Indispensável para a compreensão da poesia de Rilke é a leitura de sua vasta correspondência. O livro Cartas a um jovem poeta, publicado em 1929, foi uma espécie de bíblia de uma geração inteira de poetas em todo o mundo. (gh)

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