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Turquia diz que presidente alemão não será perdoado

24 abr 2015 - 19h18
(atualizado às 19h18)
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Após falar em genocídio durante homenagem a 1,5 milhão de armênios massacrados em 1915, Joachim Gauck abre crise diplomática com Ancara. No Bundestag, parlamentares alemães também usam termo negado pelos turcos.

As declarações do presidente da Alemanha, Joachim Gauck, reconhecendo como genocídio o massacre de cerca de 1,5 milhão de armênios geraram uma crise diplomática com a Turquia. Nesta sexta-feira (24/04), o ministério turco do Exterior divulgou uma nota repudiando as palavras de Gauck, e afirmando que "o povo turco não vai esquecer suas palavras nem perdoar o presidente alemão".

O comunicado diz ainda que Gauck não tem autoridade para lançar uma acusação sobre a nação turca que vai de encontro a fatos legais e históricos. Por fim, o ministério alerta sobre possíveis "efeitos negativos a longo prazo" sobre a relação turco-alemã.

Na quinta-feira, durante discurso num culto ecumênico em Berlim, Gauck abandonou a linha de cautela adotada pelo governo alemão a fim de evitar atritos com a Turquia – país de origem de 3,5 milhões de seus cidadãos – e usou a palavra genocídio para falar do massacre ocorrido há 100 anos.

"Com o nosso conhecimento atual e no contexto dos horrores políticos e humanitários das décadas passadas, hoje nos é muito claro: o destino dos armênios é parte da história de extermínios massivos, limpezas étnicas, deportações e genocídios, que marcou terrivelmente o século 20", afirmou Gauck . "Neste caso, nós alemães, coletivamente, temos ainda que fazer uma avaliação, ou seja, se há responsabilidade partilhada e talvez cumplicidade no genocídio dos armênios."

Bundestag também fala em genocídio

Também nesta sexta-feira, o Bundestag (câmara baixa do Parlamento) usou o mesmo termo para classificar o massacre dos armênios. "Aquilo que aconteceu no Império Otomano em plena Primeira Guerra, sob os olhos do mundo, foi um genocídio", declarou o presidente do Bundestag, Norbert Lammert, diante do Parlamento.

Para os parlamentares alemães, não se trata de acusar os turcos pelas mortes. Assim como a Alemanha não tem orgulho de seu passado nazista, afirmaram porta-vozes de todos os partidos representados na Casa, a Turquia também deveria aprender a lidar com seu passado.

A chanceler federal Angela Merkel e o ministro do Exterior Frank-Walter Steinmeier participaram da sessão no Bundestag e assistiram calados ao discurso de Lammert.

Turquia contesta

O governo turco rechaça o uso do termo genocídio para se referir à matança de armênios ocorrida entre 1915 e 1917 na área da atual Turquia. No início deste mês, Ancara retirou seus embaixadores de Viena e do Vaticano depois que a Áustria e o papa Francisco descreveram o massacre como genocídio.

O ministério turco do Exterior também condenou nesta sexta-feira o presidente da Rússia, Vladimir Putin, pela referência a genocídio durante eventos em homenagem às vítimas armênias. "Considerando as mortes em massa, exílios (...) que a Rússia executou no Cáucaso, na Ásia Central e no Leste da Europa no século passado (...), achamos que o país deveria ser o que melhor sabe o que é um genocídio e quais são as suas dimensões legais", afirma a nota de Ancara.

Dia de homenagens

Homenagens às vítimas do massacre de armênios ocorreram em diversas partes do mundo nesta sexta-feira. Uma cerimônia na capital da Armênia, Yerevan, reuniu líderes mundiais, que fizeram um minuto de silêncio e discursaram, lembrando a tragédia. Entre as autoridades estavam Putin e o presidente francês, François Hollande.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que "compartilha a dor" dos armênios, mas, como havia feito na quinta-feira, novamente refutou a descrição das mortes como genocídio.

O dia 24 de abril de 1915 marcou o início das perseguições à população armênia, que há séculos vivia sob domínio otomano. Centenas de milhares de armênios foram deportados, e a maioria de seus bens foi confiscada.

O termo "genocídio" foi definido pela ONU em 1948 como atos cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Mais de 20 países – entre eles Rússia e França – reconhecem a matança de armênios como tal.

MSB/dpa/rtr/afp/ap

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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