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Site de vídeo se transforma em ferramenta de busca

20 jan 2009 - 14h09
(atualizado às 14h10)
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Para escrever um trabalho escolar sobre um animal australiano, Tyler Kennedy começou da mesma forma que muitos outros estudantes hoje em dia: pesquisando na Internet. Mas Tyler não usou o Google ou o Yahoo. Ele buscou informações sobre os ornitorrincos no YouTube.

Tyler Kennedy, 9 anos, faz pesquisas no YouTube para seus trabalhos escolares e para caçar dicas e avançar no videogame
Tyler Kennedy, 9 anos, faz pesquisas no YouTube para seus trabalhos escolares e para caçar dicas e avançar no videogame
Foto: Noah Berger / The New York Times

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"Achei alguns vídeos que me deram boas informações sobre como ele acasala, sobrevive e se alimenta," disse Tyler. De forma semelhante, quando Tyler não consegue avançar em seus jogos favoritos no Wii, ele busca no YouTube dicas para prosseguir. E quando quer explorar os detalhes de colecionar as cartas do Bakugan Battle Brawlers, ligadas a um anime japonês, ele vai ao YouTube novamente.

"Quando não tem bons resultados no YouTube, aí eu uso o Google," disse Tyler, que tem 9 anos e vive em Alameda, Califórnia. A maneira de Tyler se relacionar com a web - primariamente pelo vídeo - pode não ser a predominante, pelo menos não ainda. Mas seu uso do YouTube como ferramenta de busca favorita revela uma mudança muito mais ampla do que os hábitos peculiares das crianças.

A explosão de todo tipo de conteúdo em vídeo no YouTube e outros sites está rapidamente transformando os vídeos online de um meio estritamente voltado para entretenimento e notícias para outro que é também uma ferramenta de referência. Como resultado, a busca por vídeo, no YouTube e em outros sites, se torna um novo ponto de acesso à web que pode rivalizar com a busca tradicional para atender a muitos tipos de consulta.

"Existe um número crescente de pessoas que está fazendo buscas em vídeo para complementar e melhorar o que fazem em suas vidas desconectadas," disse Suranga Chandratillake, chefe-executivo da Blinkx, uma ferramenta de busca de vídeos.

Com câmeras baratas inundando o mercado e uma proliferação de websites hospedando aparentemente um número ilimitado de clipes, nunca foi tão fácil criar e colocar um vídeo na web. Você pode encontrar vídeos online sobre praticamente qualquer assunto. Vídeos ensinam como reparar uma banheira, oferecem resenhas sobre os últimos telefones de tela sensível e dão a oportunidade de sentir como é atravessar a ponte Vecchio, de Florença, Itália.

O consumo de vídeo segue uma trajetória similar. Em novembro, 146 milhões de americanos assistiram a vídeos online, com 12,6 bilhões de vídeos transmitidos, ou cerca do dobro de há apenas 20 meses, segundo a comScore.

O próprio YouTube cresce ainda mais rápido. Sua proporção de vídeos transmitidos do total disponível disparou para 40% em novembro, de 17% em março de 2007.

E agora o YouTube, concebido como um site de hospedagem e compartilhamento, se tornou uma genuína ferramenta de busca. As buscas dos americanos no site recentemente bateram as no Yahoo, que há muito tempo era a ferramenta de busca número 2, atrás do Google, que, aliás, é o dono do YouTube. Em novembro, foram 2,8 bilhões de buscas no YouTube apenas nos Estados Unidos, cerca de 200 milhões a mais do que no Yahoo, segundo a comScore.

A estatística impressionante fez com que Alex Iskold, fundador e chefe-executivo do site Adaptiveblue.com, perguntasse em uma postagem de seu blog, "será o YouTube o próximo Google?" Em outras palavras, poderá o YouTube se tornar uma ferramenta de busca efetiva e disseminada e substituir ou rivalizar com o Google algum dia?

Os questionamentos de Iskold foram parcialmente inspirados por uma conversa com Ian Kennedy, pai de Tyler, acerca dos hábitos de busca de seu filho. Para testar a idéia, ele realizou uma série de consultas no YouTube e avaliou os resultados. Sem surpresas, algumas buscas (aspirar carpetes, burro do Shrek) produziram melhores resultados que outros (George Washington, astrofísica).

À medida que mais vídeos são adicionados à web, a proporção de buscas de vídeos que trazem respostas satisfatórias crescerá também. A questão é, até que ponto o vídeo pode ser uma alternativa ao texto?

Iskold disse que dois fatores naturalmente limitariam o potencial do vídeo de suplantar o texto na web. Primeiro, muitos conteúdos não servem bem para o vídeo. Além disso, a internet deriva muito de sua utilidade da rede de links conectando seus sites. Mas Iskold disse que uma mudança em direção ao vídeo continuaria acontecendo, e que os internautas mais jovens, como Tyler, apenas acelerariam o processo. (Nos comentários à postagem de Iskold, dois outros pais disseram que o seus filhos também usam o YouTube como primeira ferramenta de busca.)

No YouTube, Hunter Walk, diretor de gerência de produtos, disse que uma guinada em direção ao vídeo não necessariamente levaria ao declínio do consumo de textos ou outras mídias. Vídeo, texto e outros formatos, disse, se complementarão de formas interessantes.

Walk disse que um bom exemplo era o anúncio a favor de Hillary Rodham Clinton durante as primárias presidenciais dos democratas - em que uma voz questionava "quem você quer atendendo ao telefone na Casa Branca?" às três da manhã no meio de uma crise. Uma busca por "Hillary Clinton 3 da manhã" no Google traria as notícias sobre o anúncio e as controvérsias em torno dele. No YouTube, a mesma busca trouxe o vídeo original, uma resposta da campanha de Barack Obama, comentários de especialistas e um conjunto de paródias, dando aos usuários uma compreensão bem diferente de como a história se desenvolveu, disse Walk.

"O vídeo faz parte do processo de descoberta," disse. "Dependendo do usuário e do tipo de conteúdo, os internautas talvez queiram começar pelo vídeo ou pelo texto."

O YouTube não mostra buscas por categoria, mas Chandratillake disse que na Blinkx, algumas das pesquisas que mais crescem são nas categorias referentes a dinheiro, viagem, saúde e alimentação. Categorias mais tradicionais, como entretenimento, esporte e conteúdo gerado pelo usuário, permanecem mais populares, mas crescem a taxas mais lentas, sugerindo uma mudança.

O pai de Tyler, Ian Kennedy, que é gerente de produto na Nokia, disse que já observou Tyler e seus amigos irem do Wii ao computador e vice-versa vezes o bastante para entender o quanto o uso do vídeo online está mudando. "Nós de uma certa idade pensamos no vídeo como um meio associado à televisão e não como uma referência," disse Kennedy. "É outro método de busca que ainda não valorizamos totalmente."

Tradução: Amy Traduções

The New York Times
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