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Skatista e desempregado viram estrelas na mídia com o Occupy

8 dez 2011 - 16h22
(atualizado às 17h02)
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Carla Ruas
Direto de Nova York

Apesar do cerco à midia, cerca de 200 mil pessoas acompanharam ao vivo a retirada dos acampados do Occupy Wall Street em Nova York, no dia 15 de novembro. As imagens, disponibilizadas na internet, vieram do smartphone de Tim Pool, 25 anos, com o apoio de Henry Ferry, 31 anos. Um skatista e um desempregado que, quase sem querer, viraram um fenômeno midiático pela cobertura de eventos ao vivo via celular.

Eles se conheceram no Parque Zuccotti, em meio às barracas, e se uniram para mostrar uma perspectiva interna do dia a dia do acampamento e das manifestações. Inspirados pela recém lançada tecnologia 4G, passaram a filmar pelo celular e transmitir ao vivo pelo site ustream.com. Em pouco tempo, o live stream estava sendo reproduzido na capa dos sites da grande mídia americana, como revista Time e Reuters.

O sucesso veio da ideia de transmitir até 21 horas ininterruptas de vídeo por dia, sem a ajuda de equipamentos profissionais. Além disso, da narrativa pessoal e espontânea de Tim, que durante a filmagem faz comentários, realiza entrevistas e interage com os espectadores via Twitter. "As pessoas dizem que tenho uma jeito novo de contar as histórias", diz.

Ele define seu estilo mais como antropológico do que jornalístico. "Sou um observador. Quero mostrar ao mundo o que está acontecendo sem influenciar", diz. E também afirma que é imparcial, apesar de ter apoiado o Occupy Wall Street no início. "Hoje em dia não concordo com tudo o que eles pregam. Só quero mostrar a verdade, mesmo que fira o movimento".

A iniciativa só foi possível gracas à parceria com Henry, que criou a ONG de apoio "The other 99%", ou os outros 99%, para levantar fundos especialmente para as transmissões de Tim. Aos poucos, outros colaboradores passaram a escrever matérias e o grupo construiu um site próprio, além de contas de Twitter e Facebook. Hoje eles se consideram uma verdadeira agência de notícias e já têm até escritório no Soho em Manhattan.

E mesmo após a desocupação de Nova York, continuam cobrindo eventos esporádicos e os acampamentos em outras cidades. Para o futuro, querem contar outras histórias que nem sempre saem nas páginas dos jornais, numa espécie de jornalismo underground. "Você não pode desocupar uma ideia", afirma Henry.

Três meses que mudaram suas vidas

Em três meses, Tim viu sua vida mudar completamente. Antes do Occupy Wall Street ele fazia bicos na área da computação, mas ainda não tinha encontrado um ofício que realmente o instigasse. "Eu sou de Chicago onde tinha aula em casa porque nunca me adaptei à escola. Por um tempo trabalhei no Greenpeace, mas depois me senti desmotivado", lembra.

Ele agora tem uma secretária, é gerenciado por uma produtora e é entrevistado regularmente, entre outros, pelo The New York Times. Tim ganhou até uma página na Wikipedia onde é citado como referência na area de tecnologia e mídia social. "Eu inventei uma nova ferramenta e inspirei muita gente. Foi uma ótima oportunidade".

Henry, por outro lado, tinha sido despedido em julho do seu emprego numa editora de livros. Ele estava sem rumo, até que um dia, por acaso, assistiu a uma assembleia geral do movimento. "Quando vi aqueles garotos que estavam dispostos a dormir na praça senti que tudo era possível, que era realmente um momento único", diz.

Agora, ele gerencia uma organização de mídia. "Quero continuar oferecendo informação a partir de uma fonte objetiva, de graça e sem filtros". Para que isso seja possível, precisa que as doações continuem chegando.

Fonte: Especial para Terra
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