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"Indignados" espanhóis prosseguem protesto à sombra do triunfo da oposição

23 mai 2011 - 15h08
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Os milhares de jovens acampados em muitas praças espanholas para reivindicar uma mudança no sistema político e social e em nome de uma democracia mais participativa no país mantiveram nesta segunda-feira seu protesto e declararam que as manifestações devem se estender às cidades de toda a Espanha.

Os seguidores do "Movimento 15-M" (devido ao dia em que começaram os protestos, 15 de maio) fizeram assim vista grossa à vitória do Partido Popular (PP, centro-direita) nas eleições municipais e regionais realizadas neste domingo e voltaram a defender o "apartidarismo reivindicativo", que em apenas uma semana sacudiu muitas consciências do país.

Alguns dos protestos, como o que acontece em Madri, continuarão em princípio até o próximo domingo, embora sejam as assembleias gerais que são organizadas diariamente em quase 70 cidades espanholas que devem decidir o futuro do movimento nos próximos dias.

Os visitantes da Porta do Sol, epicentro da ebulição popular, puderam nesta segunda-feira observar os participantes do "15-M" voltando a se reunir em assembleias de centenas de pessoas, se dividindo em debates isolados ou se empenhando em coordenar seus próximos passos.

O acampamento da "Sol" é composto por dezenas de toldos de plástico e barracas, agrupados em torno da estátua do rei Carlos III, em uma complexa organização que permitiu ao protesto sobreviver à reta final de eleições nas quais tiveram boa dose de protagonismo.

Os analistas ainda debatem se o protesto teve êxito ou não com sua recomendação "contra o sistema" de não votar nos dois grandes partidos, o opositor PP e o governista Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), e de desviar os votos para os partidos minoritários, a abstenção ou o voto em branco.

O PP obteve uma arrasadora vitória nas eleições, nas quais ganhou em 11 das 13 regiões onde houve votação e tirou dos socialistas alguns de seus redutos municipais e autônomos tradicionais.

No entanto, também foi observado um aumento no número de votos em alguns partidos minoritários de esquerda e progressistas, e mais significativamente no número de cédulas em branco, o que fez com que alguns olhares tenham se voltado, inquisitivos, para a Porta do Sol.

"Em nenhum momento estivemos focados em mudar o rumo destas eleições. Estamos tentando mudar este sistema, que após as eleições continua. Por isso, as pessoas seguem vindo aqui, para prosseguir reivindicando seus direitos", explicou em declarações à Agência Efe Dani, um dos porta-vozes de comunicação do "15-M".

Dani confirmou a intenção de estender o movimento por bairros vizinhos. "Esperamos que esteja tudo organizado em alguns dias", assinalou.

O importante, disse, "é encontrar os pontos de união. Sobretudo a queixa a um sistema que não nos dá soluções. Não somos mercadorias de banqueiros, não somos votos de políticos, não somos euro. Somos pessoas com deveres que vamos cumprir, mas também com direitos que vamos exigir".

A ideia de estender a rede do protesto, explicou Alba, da comissão de bairros, "é organizar assembleias populares em uma praça de cada bairro e povoado de Madri e em outras localidades espanholas".

Segundo disse à Efe Abuy Nfubea, um espanhol de ascendência guineana que coordenava a mesa de imigrantes no acampamento do 15-M, esta "revolução pacífica" não partiu do nada, pois vem das detenções sofridas por grupos de imigrantes no início da década passada e em protestos como o dos sem-teto.

Abuy destacou entre as exigências do "15-M" na questão da migração o fechamento dos centros de detenção de imigrantes ilegais, que comparou a "Guantánamos europeus", e o fim das batidas policiais contra supostos imigrantes irregulares, que qualificou de "racistas".

Em outra mesa próxima, a da Comissão Legal, ocorria um debate entre um dos jovens que a atendia, Daniel Rodríguez, e uma visitante ocasional do acampamento de "indignados".

"Os políticos deveriam compreender que quando uma pessoa não tem nada a perder, pode ser perigosa para esse sistema. Têm que entender que somos muitas vozes e merecemos ser escutados", afirmou Daniel, economista que, em outro dos paradoxos deste heterogêneo movimento, trabalha para os bancos, um dos demônios do "15-M".

EFE   
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