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América Latina

"É impossível encontrar emprego", diz agrônomo haitiano

12 jan 2011 - 08h06
(atualizado às 08h32)
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Alessandra Corrêa
Da BBC Brasil

No início do ano passado, o agrônomo haitiano Christo Léger, 28 anos, comemorava a boa fase pessoal e profissional em que se encontrava. Trabalhava na Organização Não-Governamental (ONG) World Vision, ensinando técnicas de melhoramento de plantas, e economizava para se casar com Christine, sua namorada havia dez anos e mãe de seu filho, Woodkerven, sete anos.

Sem conseguir emprego, Christo Léger, 28 anos, sobrevive como motorista
Sem conseguir emprego, Christo Léger, 28 anos, sobrevive como motorista
Foto: BBC Brasil

Assim como milhares de haitianos, Léger teve seus planos interrompidos pelo terremoto de 12 de janeiro. Christine estava no trabalho no momento do tremor e morreu soterrada. O prédio onde Léger trabalhava foi destruído, e ele perdeu o emprego. "Minha vida mudou completamente", diz Léger, um ano depois da tragédia.

Fluente em quatro idiomas (inglês, francês, espanhol e crioulo haitiano) e com uma especialização em técnicas solares cursada na República Dominicana, ele hoje sobrevive com trabalhos esporádicos como motorista. "Gostaria de voltar a trabalhar como agrônomo, mas é impossível encontrar um emprego. A situação no país está muito difícil."


Léger divide uma casa em Porto Príncipe com a mãe, o filho e três irmãs. Apesar de ter seu próprio carro, nem sempre consegue trabalho como motorista. Quando consegue, enfrenta as dificuldades impostas pelo racionamento de combustível, comum no país.

Adventista, Léger afirma que, mesmo diante de tantas dificuldades, não perdeu a fé. Ele diz esperar que, quando seu filho for adulto, o Haiti seja um país melhor.

Sobre o seu futuro, diz que não espera conseguir voltar a exercer a profissão. Diz também que ainda sente muita falta de Christine e pretende passar o resto da vida sozinho. "Nunca vou encontrar alguém como ela."

Desemprego
A história de Léger é semelhante à de milhares de sobreviventes do terremoto. Depois da tragédia, a taxa de desemprego no país, que já era alta, chegou a 80%. A economia sofreu retração de 7% no ano passado.

A maioria da população tenta sobreviver com o comércio informal. As ruas da capital, Porto Príncipe, são tomadas por vendedores e ambulantes, que oferecem todo tipo de produto, desde roupas e calçados até comida, eletrônicos e medicamentos.

Mesmo para a pequena parcela da população que tem um emprego, a situação é difícil. O policial Jean René Bermude Junior, 32 anos, chegou a cursar três anos da Faculdade de Direito, interrompida por falta de dinheiro.

Os planos de se casar com a namorada, retomar os estudos, se formar e ser juiz foram adiados depois do terremoto. "No Haiti, depois do terremoto, tudo vai mal", diz. "Tenho sorte de ter esse emprego", afirma, sobre o trabalho na Polícia Nacional do Haiti (PNH).

Salário
Junior diz que, mesmo com um salário melhor do que o da maioria da população, enfrenta dificuldades no dia-a-dia. "Eu tenho um emprego, mas não posso comprar nada. Gostaria de ter um carro, mas não tenho dinheiro. Estou economizando para comprar uma moto", afirma.

Junior mora com a mãe, duas irmãs, um sobrinho e uma sobrinha. O pai, professor, vive em Boston, nos Estados Unidos. Ele diz que gostaria de ir aos Estados Unidos ou outro país para estudar, mas que não pensa em abandonar o Haiti. "Gostaria de sair, estudar, e voltar para ajudar o meu país."

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