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Conferência no Paraná aborda riqueza medida por sorrisos

22 nov 2009 - 06h42
(atualizado às 07h24)
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A Felicidade Interna Bruta (FIB), conceito que propõe medir a riqueza das nações pelo bem-estar real dos cidadãos, alegria de viver, sorrisos, e não pelo dinheiro, como o Produto Interno Bruto (PIB), é o assunto de um conferência mundial realizada em Foz do Iguaçu (PR).

Medir a riqueza das nações pela felicidade das pessoas, em vez de por quanto as economias valem em dinheiro, é a proposta de especialistas de todo o mundo que participam do dia 20 deste mês e até amanhã da 5ª Conferência Internacional sobre Felicidade Interna Bruta.

Reunidos em Foz do Iguaçu, psicólogos, antropólogos e sociólogos, além de economistas, buscam dar um impulso ao conceito do FIB, aparentemente tão óbvio quanto revolucionário e, de quebra, tentar colocar em evidência as carências do PIB.

"O PIB não serve mais. Mede a guerra, os desastres e os acidentes. Precisamos de uma alternativa que inclua o desenvolvimento sustentável e o bem-estar das pessoas", disse à Agência Efe a psicóloga americana estabelecida no Brasil Susan Andrews, uma espécie de embaixadora da FIB no país.

O uso do PIB para medir a riqueza dos países é algo que foi questionado até pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, que chegou a chamá-lo de "religião do número", que serve para "nunca falar das desigualdades".

Sarkozy inclusive encomendou um estudo de como complementar o indicador a uma comissão da qual fizeram parte o indiano Amartya Sen e o americano Joseph Stiglitz, ambos agraciados com o Prêmio Nobel de Economia.

O mais recente a se juntar à corrente contra o PIB foi o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que, após saber que o indicador caiu 4,5% no terceiro trimestre em seu país, disse que "chegou a hora de mudar a forma de medir a economia".

Mas muito antes, no início dos anos 90, a mesma preocupação levou à criação na ONU do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), instrumento para classificar os países com critérios não meramente econômicos e levar em conta questões como educação, saúde e difusão de condições de vida digna.

O surpreendente é que esse tema que ultimamente ocupa a mente do presidente francês e de alguns nomes da economia é algo que já tinha sido percebido há mais de 30 anos pelo então rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck.

Quando o monarca decidiu lançar o desenvolvimento em seu diminuto Estado, situado nos pés da cordilheira do Himalaia, percebeu que o mundo ocidental media a riqueza por fatores que não sintonizavam com as profundas raízes e tradições budistas de seu país.

Longe da concepção de desenvolvimento como a mera acumulação de bens materiais, o Butão buscou abrir espaço ao conceito de Felicidade Interna Bruta.

Concretamente, são nove os fatores que compõem a FIB: o bem-estar psicológico (otimismo e auto-estima), saúde, quantidade de tempo livre para o lazer, vitalidade comunitária, educação, cultura, meio ambiente, envolvimento em assuntos da vida política e nível de vida.

O atual primeiro-ministro do Butão, Jigme Yoser Thinley, também esteve em Foz do Iguaçu para explicar como a FIB foi introduzida em seu país na Constituição democrática, recentemente aprovada.

"Cada programa, cada política ou projeto deve ter agora algum valor em FIB", disse Thinley, que também destacou que isso se traduz em medidas como ter um Ministério do Bem-Estar Psicológico, "Ao longo dos séculos, a felicidade foi relegada pelos interesses privados (...), Mas não podemos ser felizes como seres individuais quando alguém sofre a nosso redor", ressaltou.

"A verdadeira felicidade chega de uma profunda sensação de satisfação, mas os ricos só têm o prazer fugaz de cômodas posses", acrescentou, enquanto falou do ser humano como "animal econômico", vítima do "consumismo na catedral do mercado".

A FIB enfatiza o cuidado ao meio ambiente, algo que o primeiro-ministro explicou perguntando "como podemos ser felizes se sabemos que nosso estilo de vida fará com que as novas gerações tenham que enfrentar desafios tão grandes para sobreviver".

"Chegou a hora de tomar, de desenvolver e adotar uma definição do bem e do crescimento mais verdadeira e humana. Precisamos redefinir o que é a prosperidade (...). A felicidade é algo muito sério", concluiu.

EFE   
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