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Política monetária acirra temores sobre economia chinesa

13 ago 2015 - 12h38
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Crescimento fraco, mercado financeiro volátil, intervenção na moeda e exportações em queda põem mundo de olho no país asiático. Mas especialistas temem que problemas sejam ainda mais sérios que números oficiais sugerem.

A China divulgou uma série de dados econômicos mais fracos do que o esperado na quarta-feira (12/08), aumentando as preocupações crescentes sobre o estado da segunda maior economia do mundo.

A produção industrial e as vendas no varejo cresceram em julho em um ritmo mais lento do que as projeções dos analistas. Investimentos em ativos fixos, que medem os gastos do governo em infraestrutura, tiveram aumento de 11,2% no primeiro semestre do ano – também abaixo das estimativas e no nível mais baixo desde dezembro de 2000.

Os números foram revelados um dia depois que o banco central chinês, o Banco Popular da China, surpreendeu os investidores ao anunciar três desvalorizações consecutivas da moeda do país – o yuan, também conhecido como renminbi.

O banco prometeu que sua decisão seria uma medida única e disse que a tomou num esforço para dar aos mercados uma maior influência na fixação da taxa de câmbio da moeda, até agora rigidamente controlada pela China.

Disputa cambial

Os analistas da agência de consultoria britânica Capital Economics afirmam que a medida do banco central chinês foi interpretada pelos investidores como um sinal de que as autoridades chinesas entraram numa trajetória de desvalorização competitiva.

Mas a mudança em termos de como o banco central define sua taxa de referência visa, principalmente, ser um movimento em direção a uma maior liberalização dos mercados de câmbio antes da decisão do Fundo Monetário Internacional sobre se deve ou não incluir a moeda chinesa em sua bolsa de reservas, segundo escreveu Julian Evans-Pritchard, economista especializado em China do think tank baseado em Londres.

Segundo ele, a suspeita de que haveria um esforço político orquestrado para desvalorizar a moeda parece "exagerada". No entanto, a desvalorização do yuan provocou temores de novas tensões e outras grandes economias, como os EUA e a Europa. Um yuan mais fraco beneficia as exportações da China num momento em que Pequim tem que lidar com um crescimento mais lento.

Preocupações

A expansão econômica da China caiu para 7% nos dois primeiros trimestres do ano, seu ritmo mais lento em três décadas. O mercado financeiro do país também apresentou um aumento da volatilidade recentemente, com uma série de quedas que testaram a determinação das autoridades em escorar as bolsas.

Além disso, crescem as preocupações sobre acumulação de bolhas na economia. Por exemplo, analistas do banco Credit Suisse acreditam que a China está passando por uma "bolha tripla" – uma combinação entre a terceira maior bolha de crédito, a maior bolha de investimento e a segunda maior bolha imobiliária de todos os tempos.

A dívida do setor privado chega a 196% do PIB da China, 40% acima da sua tendência de longo prazo. Além disso, o investimento, que representa uma parcela de 44% do PIB, foi maior do que em qualquer outro país na história, segundo escreveram analistas da equipe de pesquisa global do Credit Suisse em um relatório publicado em julho.

Os especialistas também argumentam que a China está passando por uma "clara bolha imobiliária", apontando para a participação do setor na economia do país em proporção a seu PIB. A quota, em torno de 23%, representa o triplo da dos EUA em seu auge e é similar aos níveis de pico na Espanha e na Irlanda. Os analistas acrescentam que o mercado imobiliário chinês também apresenta excesso de oferta e supervalorização.

"Apenas para referência"

Por isso, há temores crescentes de que essas vulnerabilidades possam levar a uma grande crise econômica na China, que também pode ameaçar as perspectivas de crescimento de outros países.

O que ainda aumenta as preocupações dos investidores sobre a China é a complexidade da tarefa de se medir a saúde da economia chinesa. O Instituto Nacional de Estatísticas chinês coleta dados de várias fontes para calcular a produção econômica, mas muitos continuam céticos sobre a confiabilidade destes valores.

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, até disse certa vez que os números considerados para se medir o PIB do país são "apenas para referência", e que ele prefere não confiar neles. Li afirmou em 2007 que avaliava o desempenho econômico na província de Liaoning, onde ele era secretário do Partido Comunista na época, com a ajuda de dados relacionados ao consumo de eletricidade, ao crescimento do crédito e ao volume de carga ferroviária.

Fantasia ou realidade?

Além disso, em 2013, os pesquisadores da Comissão de Análise Econômica e de Segurança EUA-China avaliaram a confiabilidade dos dados econômicos chineses e concluíram que as estatísticas oficiais da China "não são tão confiáveis quanto as produzidas nos Estados Unidos e na Europa".

Erik Britton, um macroeconomista da britânica Fathom Consulting, explica o que acredita serem os problemas nos números oficiais da China. Em primeiro lugar, afirma, os dados são entregues dentro de uma janela improvavelmente curta depois de o trimestre ter acabado e, depois, nunca são revistos – diferente de qualquer outro país do mundo. Em segundo lugar, de acordo com Britton, os números são sempre estranhamente próximos das previsões feitas pelo governo.

"E, em terceiro lugar, eles não casam com outros dados que os próprios funcionários chineses argumentam ser mais precisos", disse ele, acrescentando que "parece que eles refletem muito mais aquilo que as autoridades gostariam de ver do que o que realmente está acontecendo: mais fantasia do que realidade".

Os economistas da Capital Economics também apontam para falhas na forma com que o PIB da China é calculado, o que conduziu a uma taxa de crescimento exagerado, bem como a uma pressão para redução de preços.

No entanto, sublinham que outros indicadores apoiam a visão de que "o crescimento se estabilizou ou até mesmo sobe, mesmo que a um nível inferior ao que os números oficiais mostram". A China, segundo os especialistas, também tem um fundo de guerra de cerca de 3,7 trilhões de dólares em reservas cambiais, para superar quaisquer desafios econômicos graves que o país possa enfrentar.

No entanto, o fraco crescimento e o mercado de ações volátil, juntamente com as questões relacionadas à excessiva dependência da economia em investimento e construção para a expansão concentram as mentes dos políticos da China, que têm se esforçado para transformar uma economia dependente da exportação em uma sustentada por uma forte demanda interna.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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