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Piratas digitais estão vencendo a batalha contra Hollywood

6 fev 2009 - 08h28
(atualizado às 12h27)
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No dia em que Batman: O Cavaleiro das Trevas chegou aos cinemas, em julho passado, o estúdio Warner Brothers tinha em curso um plano vigoroso de combate à pirataria, que envolveu meses de planejamento e medidas de monitoração de cada cópia física do filme. A campanha fracassou miseravelmente. Pelo final do ano, cópias ilegais do filme de Batman haviam sido baixadas mais de sete milhões de vezes em todo o mundo, de acordo com a BigChampagne, uma empresa de mensuração de mídia, e isso fez do episódio um símbolo visível da impotência de Hollywood contra o crescente problema da pirataria online de vídeos.

Piratas anônimos colocaram Batman, o Cavaleiro das Trevas à disposição na internet
Piratas anônimos colocaram Batman, o Cavaleiro das Trevas à disposição na internet
Foto: Divulgação

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Os culpados, no caso, eram piratas anônimos que colocaram o filme na internet, permitindo que milhões de usuários os assistissem. Devido à ampla disponibilidade de acesso em banda larga e de uma nova onda de sites que apresentam vídeos em formato stream, assistir a vídeos piratas na web se tornou surpreendentemente fácil - um desdobramento preocupante para os executivos dos estúdios e os advogados especializados em direitos autorais.

Hollywood pode enfim estar passando pelo seu momento Napster, ou seja, está enfrentando a versão vídeo do saque digital que causou o naufrágio das gravadoras.

As empresas de mídia dizem que a pirataria - algumas delas preferem definir a prática como "roubo digital" para enfatizar a natureza criminosa da prática - é atividade cada vez mais comum. Ao mesmo tempo, as vendas de DVDs, por muito tempo uma fenomenal fonte de renda para os estúdios, estão em queda. Em 2008, os embarques de DVDs caíram ao seu mais baixo volume em cinco anos. Os executivos do setor estão preocupados, igualmente, com a possibilidade de que a desaceleração da economia leve mais usuários a roubar programas e filmes.

"Os jovens, em especial, concluem que nada que seja tão fácil pode ser errado", diz Richard Cotton, diretor jurídico da NBC Universal. As pessoas trocam cópias ilegais de canções, programas de TV e filmes via internet há anos. Os tediosos downloads, muitos dos quais realizados por meio da tecnologia BitTorrent de troca de arquivos, requeriam paciência e certa dose de sofisticação da parte dos usuários.

Agora, os usuários nem precisam mais de downloads. Usando um serviço de busca, qualquer internauta consegue localizar cópias de filmes ainda em cartaz nos cinemas em questão de minutos. Programas clássicos de TV como a série Seinfeld também são transmitidos livremente. Algumas das cópias digitais são reproduzidas de versões piratas, e outras são cópias dos DVDs que os estúdios enviam a críticos e distribuidores antes de um lançamento.

O TorrentFreak.com, um site baseado na Alemanha que acompanha os programas mais baixados, estima que cada episódio da série Heroes, exibida pela rede de TV NBC, tenha cinco milhões de downloads, o que representa substancial prejuízo para a rede. (Heroes tem uma média de 10 milhões de telespectadores por semana nos Estados Unidos.)

Uma série de sites de streams de vídeo, que permitem que as pessoas comecem a assistir vídeos de imediato sem transferir uma cópia completa do programa ou filme aos discos rígidos de suas máquinas, tornam mais fácil que nunca assistir a conteúdo de Hollywood online. Muitos desses sites se localizam em países onde os esforços de combate à pirataria são pouco entusiásticos, como a China, e essas atividades são difíceis de monitorar, de modo que as empresas de mídia não têm um senso exato do volume de conteúdo que está sendo roubado.

Mas muitos analistas e especialistas setoriais dizem que a prática está se tornando muito mais comum.

"Os streams de vídeo se tornaram eficientes e baratos a ponto de oferecer aos usuários mais controle do que eles teriam com um download. É para esse caminho que a pirataria parece estar seguindo", disse James McQuivey, analista da Forrester Research. "Os consumidores estão sob a impressão de que tudo que desejam assistir deveria ser facilmente transmitido em forma de stream".

Algumas das primeiras disputas sobre a pirataria de vídeos na internet envolveram o YouTube, o site de vídeos controlado pelo Google que apresentou a muita gente o formato do stream de vídeo. Algumas disputas judiciais entre o YouTube e detentores de direitos autorais ainda não foram resolvidas, especialmente um processo judicial de US$ 1 bilhão aberto pela Viacom, mas "o panorama melhorou muito", disse Cotton. O YouTube usa filtros e um sistema de alertas gerados por usuários para eliminar o conteúdo ilegal.

Mas se as empresas de mídia estão vencendo a batalha contra os videoclipes ilegais, estão perdendo no que tange aos episódios completos de filmes e seriados de televisão. A Motion Picture Association of America, associação setorial dos grandes estúdios de cinema dos Estados Unidos, diz que downloads ilegais e streams são responsáveis agora por cerca de 40% da receita que o setor perde anualmente em função da pirataria.

"É um comportamento que está se tornando dominante, em muitas faixas etárias", diz Eric Garland, da BigChampagne.

Em parte como resposta ao problema da pirataria, uma cornucópia de sites legais de vídeo agora oferece os mais recentes episódios de praticamente todos os programas de TV. Os estúdios estão experimentando sistemas de venda direta de filmes pela internet e outras maneiras de atender diretamente às necessidades dos usuários.

A oferta de alternativas legítimas ajudará a sufocar a pirataria, as companhias esperam. O setor de música, em comparação, demorou muitos anos para oferecer opções legítimas de download aos usuários. "É assim que se começa a marginalizar a pirataria - não só com repressão, mas com estímulo", disse Garland.

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times
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