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Análise: O impacto da revolução egípcia no Oriente Médio pós-Mubarak

Para o especialista em Oriente Médio Roger Hardy, situação no Egito está longe de uma solução.

12 fev 2011 - 15h31
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Ministro da Defesa egípcio, Mohamed Hussein Tantawi, comandará o país

Como nós estávamos errados. Quando a agitação começou na Tunísia, a maioria dos especialistas (inclusive eu) disse que o homem forte do país, Ben Ali, iria esmagá-la e sobreviver.

Quando ele abruptamenet deixou o país e a tensão se espalhou para o Egito, a maioria dos especialistas (inclusive eu) disse que o Egito não era a Tunísia e que o homem forte do país, Hosni Mubarak, iria esmagá-la e sobreviver.

As últimas semanas mudaram todas as expectativas e levaram até os observadores mais moderados a imaginar para onde a região estava indo.

Aqui vão algumas ideias, de um observador moderado, sobre o provável resultado.

Primeiro, a renúncia do presidente Mubarak e a sua saída do Cairo não significam que a Crise no Egito esteja caminhando logo para uma resolução rápida.

Pelo contrário, Mubarak simplesmente largou seus dilemas no colo dos principais líderes militares do país.

Se eles podem lidar com estes problemas melhor do que Mubarak lidou - e se os militares podem até mesmo manter a sua própria coesão - é algo longe de certo.

Poder do povo

Em segundo lugar, o sucesso do "poder do povo" no Egito é bem mais significativo para os árabes em outros países do que foi o sucesso da Tunísia.

O Egito é o maior e mais poderoso Estado árabe. Mubarak o governou por três décadas.

O exemplo egípcio já agitou a opinião pública por toda a região, onde uma série parecida de problemas - autocracia, corrupção, desemprego, o déficit de dignidade - prevalece.

Autocratas cujos serviços de segurança são menores e mais fracos do que os do Egito estão mais vulneráveis ao vento gelado da revolta popular.

Aqueles que têm dinheiro para subornar os dissidentes já estão tentando fazê-lo. Estados mais pobres, como a Jordãnia e o Iêmen, terão de tomar empréstimos para conseguir isto.

Em terceiro lugar, o impacto da crise nas economias regionais - em setores óbvios, tais como preço do petróleo, turismo, a capacidade de atrair investimentos estrangeiros - já está sendo duro.

Em quarto, a queda de Mubarak afetará inúmeras questões da região - o processo de paz entre árabes e israelenses, a influência crescente do Irã, a batalha contra o extremismo muçulmano - de maneiras que são difíceis, se não impossíveis, de prever.

Os temores de revoluções islâmicas aparecendo em todo lugar são errôneas. A maior parte das dissidências atuais parecem ser motivadas por um sentimento mais nacionalista que religioso.

No Egito e em outros lugares, os islâmicos estão pegando carona em um carro que outras pessoas colocaram em movimento.

Ao mesmo tempo, o medo de que a crise incline a balança de poder na região em favor do Irã é, por motivos parecidos, prematuro. O Irã está observando estes eventos tumultuados, e não os conduzindo.

Lições para o Ocidente

Finalmente, os governos ocidentais ficaram com dilemas de orientação política para os quais, em curto prazo, não há solução.

A maneira como o governo Obama lidou com a crise no Egito foi inepta. A União Europeia não fez muito melhor.

Mas, mesmo se a sua resposta fosse bem-feita, o enigma que está por trás seria o mesmo.

O Ocidente, por décadas, tem feito da estabilidade uma prioridade maior que a democracia e os direitos humanos.

Algumas reavaliações urgentes estão ocorrendo agora, enquanto os responsáveis pelas políticas públicas se debatem para aprender as lições corretas.

A outra lição dolorosa para as potências ocidentais é quão pouca influências elas têm, mesmo em países para o quais elas dão ajudas generosas.

Dinheiro não compra amor - e nem, quando os jogos estão na mesa, permite que você salve um aliado próximo da ira do povo.

Roger Hardy é especialista em políticas públicas do Woodrow Wilson Center, em Washington DC.

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