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Netanyahu afirma que líder palestino convenceu Hitler a exterminar judeus

21 out 2015 - 11h50
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Então mufti de Jerusalém, Amin al-Husseini teria sugerido o Holocausto ao líder nazista. Historiadores afirmam que a versão não faz sentido e que o extermínio dos judeus era um tema central da ideologia de Hitler.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, causou indignação no seu país ao afirmar que Adolf Hitler não pretendia exterminar os judeus, mas acabou sendo convencido disso por um líder religioso palestino, o então mufti de Jerusalém, Amin al-Husseini. Ele teria tido um papel central no Holocausto, segundo Netanyahu.

A declaração foi dada pelo primeiro-ministro na noite de terça-feira (20/10), durante um discurso num congresso sionista em Jerusalém, poucas horas antes de embarcar para uma visita à Alemanha. Netanyahu se encontra na noite desta quarta-feira com a chanceler federal Angela Merkel, em Berlim.

A reunião entre Husseini e Hitler aconteceu em 1941 em Berlim. Na versão apresentada por Netanyahu, o encontro foi decisivo para que o líder nazista tomasse a decisão de iniciar uma campanha de extermínio dos judeus.

"Naquele momento, Hitler não queria exterminar os judeus, ele queria expulsar os judeus", declarou Netanyahu durante o discurso. "E Amin al-Husseini se dirigiu a Hitler e disse: 'Se você os expulsar, eles vão retornar'." Segundo Netanyahu, Hitler teria então perguntado: "'E o que eu deveria fazer com eles?'" A resposta teria sido: "'Queime-os.'"

Netanyahu, que é filho de um historiador famoso, foi duramente criticado por especialistas em Holocausto e por políticos da oposição, que disseram que ele está distorcendo os fatos. Autoridades palestinas disseram que o premiê parece querer inocentar Hitler e colocar a culpa pela morte de 6 milhões de judeus nos muçulmanos.

"É um triste dia para a história quando o líder do governo de Israel odeia tanto seu vizinho, a ponto de estar disposto a absolver o mais notório criminoso de guerra da história, Adolf Hitler, do assassinato de seis milhões de judeus", declarou Saeb Erekat, secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina.

Até o ministro da Defesa de Israel, Moshe Yaalon, um aliado próximo de Netanyahu, declarou que o primeiro-ministro se equivocou. "Certamente não foi [Husseini] que inventou a solução final", declarou Yaalon à rádio das Forças Armadas de Israel. "Isso saiu do cérebro maligno de Hitler."

Historiadores disseram que a versão de Netanyahu distorce a ordem dos fatos. O encontro entre Husseini e Hitler aconteceu em 28 de novembro de 1941, em Berlim. Em janeiro de 1939, Hitler discursou no Reichstag (então o Parlamento alemão) e falou claramente sobre a sua determinação de exterminar os judeus.

"Dizer que o mufti foi o primeiro a mencionar para Hitler a ideia de matar ou queimar os judeus não é correto", afirmou a historiadora Dina Porat, da Universidade de Tel Aviv e historiadora-chefe do Yad Vashem, o principal museu dedicado ao Holocausto em Israel.

"A ideia de livrar o mundo dos judeus era um tema central da ideologia de Hitler muito antes do encontro com o mufti", afirmou. Ela lembra que o extermínio dos judeus começou em junho de 1941, antes, portanto, do encontro.

O historiador Moshe Zimmermann, um dos principais estudiosos do Holocausto e pesquisador na Universidade Hebraica de Jerusalém, disse que o argumento de Netanyahu não se sustenta e que um comentário como esse basicamente o transforma num negador do Holocausto. "Qualquer tentativa de retirar esse peso de Hitler é só uma outra forma de negar o Holocausto", declarou à agência de notícias Associated Press.

AS/rtr/ap

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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