Tunísia é uma mensagem de alerta ao mundo árabe, dizem analistas
15 jan2011 - 11h17
(atualizado às 14h44)
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Para analistas, países árabes poderão seguir o exemplo da Tunísia
Analistas ouvidos pela BBC Brasil disseram que os violentos protestos na Tunísia, que culminaram com a renuncia do presidente Zine Al-Abidine Ben Ali na última sexta-feira, servem como uma mensagem de alerta aos governos da região de que um novo ativismo começa a surgir no mundo árabe. Segundo eles, governos totalitários enfrentam cada vez mais a insatisfação popular com a falta de soluções para os problemas econômicos, sociais e de liberdades individuais.
No entanto, dizem que ainda é cedo para falar em reações semelhantes em outros países árabes em médio prazo. "Embora muitos tenham ficado perplexos com os protestos que sacudiram a Tunísia nas últimas semanas, eles não podem ser vistos como uma surpresa para aqueles que acompanham o cenário da região", disse o analista político libanês Rami Khouri, do Instituto Fares da Universidade Americana de Beirute. De acordo com Khouri, a região vive um renascimento do ativismo árabe entre as populações mais jovens e mais conscientes, com fome de liberdades individuais, emprego e desenvolvimento.
"O problema que assola a região é comum a todos -, a atual ordem política e econômica do mundo árabe, que é instável e insustentável, porque traz instatisfação para a imensa maioria de seus cidadãos". O clima de tensão na Tunísia começou no dia 17 de dezembro, quando o desempregado Sidi Bouzeid, de 26 anos e com formação superior, foi abordado por policiais enquanto vendia verduras na rua. Após ter sua mercadoria apreendida, ele foi impedido de prestar queixa. Desesperado, o jovem ateou fogo no próprio corpo e morreu dias depois no hospital. A morte de Bouzeid iniciou uma série de protestos que se espalharam rapidamente pelo país e a capital Túnis. Centenas de milhares de pessoas, entre estudantes, sindicatos e partidos de oposição, protestaram contra o desemprego, corrupção e falta de democracia.
Consciência árabe
O presidente Zine Al-Abidine Ben Ali, que estava no poder há 23 anos, tentou reprimir as manifestações com policiais nas ruas. Grupos de direitos humanos afirmam que mais de 60 pessoas morreram nos confrontos e centenas de manifestantes ficaram feridos. Antes de renunciar, Ben Ali dissolveu o Parlamento e governo, e deixou o país junto com sua famíla. O anúncio foi feito na TV estatal tunisiana pelo primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi, que disse estar assumindo o poder no país. "A Tunísia é um modelo de mudança na região porque foi orquestrado por seus cidadãos, que chegaram em um ponto de enfrentar as forças de repressão. O que se viu nas ruas de Túnis foi uma mensagem clara aos ditadores árabes, de que quando os cidadãos não temem mais as balas das armas dos governantes, então os dias destes ditadores estão contados", salientou Khouri.
Para o egípcio Haitham Bahy, analista político e diretor da Academia de Democracia Egípcia, as populações árabes mais conscientes não se deixam mais levar pelas velhas desculpas dos governantes. Segundo ele, durante décadas, os ditadores árabes usavam Israel ou países ocidentais como desculpa para seus próprios fracassos. "Para justificar suas políticas e incompetências, presidentes e monarcas árabes colocavam sempre a culpa em Israel ou outros países estrangeiros como forma de ganhar apoio popular e legimitização de seus poderes". Ele aponta os novos tempos - fluxo de informação, globalização e ativismo na internet - como implacáveis para os ditadores da região, que não conseguem mais controlar os corações e mentes como antes. "Os governantes árabes deveriam aprender as lições da Tunísia, de que já é hora de promover reformas democráticas no mundo árabe, e os líderes da região deveriam fazer isso antes que sofram do mesmo destino do agora ex-presidente tunisiano", diz.
Transformações
Haitham Bahy acredita que os acontecimentos na Tunísia irão repercutir durante algum tempo na região. Ele diz que ainda é cedo para avaliar o sucesso dos acontecimentos no país do norte da África, mas acha que a Tunísia deverá avançar em vários aspectos após a queda do presidente Ben Ali. "Arrisco dizer que uma nova era começou na região, e as massas populares muito provavelmente se espelharão no sucesso dos protestos na Tunísia. Os países da região reúnem uma combinação de fatores comum a todos: pobreza, desemprego e repressão política", diz.
Para ele, o próximo país a ser palco de conflitos poderá ser a Argélia, onde já acontecem protestos por motivos econômicos e sociais. "Embora em menor escala, os protestos na Argélia, inspirados por seus vizinhos, podem muito bem aumentar e resultar em mudanças naquele país", disse. No entanto, o libanês Rami Khouri não acha que que mudanças em médio prazo ocorrerão em países de peso no mundo árabe, como Egito, Síria e Árabia Saudita. "Estamos falando de Estados fortemente protegidos por um aparato de segurança e forças militares. Protestos semelhantes aos da Tunísia nestes países seriam muito mais complexos", explicou Khouri.
Entretanto, ele acredita que em um longo prazo, o mundo árabe não poderá escapar de seu destino de mudanças. "Eu venho dizendo isso por anos, que nós não podemos prever quando, onde, como e por quem as transformações de autocracias para democracias começarão no mundo árabe. Mas nós sabemos que essas trasnformações inevitavelmente começarão".
Manifestante joga bomba de gás lacrimogêneo durante confronto com policiais em Regueb
Foto: AFP
Manifestantes atiraram pedras contra as forças de seguranças tunisianas
Foto: AP
Estudante passa mal após entrar em confronto com forças de segurança em Regueb
Foto: AFP
A revolta popular na Tunísia contra o alto custo de vida deixou neste fim de semana entre 14 e 20 mortos
Foto: AP
Unidades antimotins tentaram dispersar a manifestação de estudantes
Foto: AFP
Distúrbios e protestos ocorrem contra a carestia da vida e o desemprego desde meados de dezembro
Foto: AP
Militares montam guarda em frente ao palácio do governo no bairro Cite Ettadhamen em Túnis, na Tunísia
Foto: AFP
Manifestantes entram em confronto com a polícia em região próxima a capital, Túnis
Foto: Reuters
Tanque blindado patrulha a praça principal de Sidi Bouzid, perto da capital Túnis
Foto: Reuters
quipes de resgate evacuam feridos durante os violentos distúrbios em Túnis
Foto: AP
27 de dezembro de 2010 - Manifestantes entram em confronto com membros das forças de segurança de Túnis
Foto: AFP
27 de dezembro de 2010 - Pessoas, uma deles segurando um pão, protestam em Túnis para mostrar sua solidariedade com os habitantes de Sidi Bouzid, que realizaram manifestações contra o desemprego e as más condições de vida
Foto: AFP
09 de janeiro - Pneu é queimado nas ruas de Regueb, cidade perto de Sidi Bouzid, durante confronto de manifestantes com as forças de segurança
Foto: AFP
09 de janeiro - Fumaça é vista nas ruas de Regueb, cidade perto de Sidi Bouzid, durante confronto de manifestantes com as forças de segurança
Foto: AFP
10 de janeiro - Membro das forças de segurança da Tunísia mira na direção de um manifestante tunisiano que se prepara para atirar uma pedra em direção a eles durante os confrontos entre manifestantes e forças de segurança em em Regueb, cidade perto de Sidi Bouzid
Foto: AFP
10 de janeiro - Manifestante tunisiano se prepara para lançar gás lacrimogêneo durante confrontos com as forças de segurança em Regueb, cidade perto de Sidi Bouzid
Foto: AFP
12 de janeiro - Militares montam guarda em frente ao palácio do governo no bairro Cite Ettadhamen em Túnis, onde manifestantes queimaram veículos e atacaram escritórios do governo na noite anterior
Foto: AFP
13 de janeiro - Tunisianos se reúnem na frente de um shopping que foi incendiado no bairro de Cite Ettadhamen em Túnis, onde manifestantes queimaram veículos e atacaram escritórios do governo na noite anterior
Foto: AFP
13 de janeiro - Policiais militares montam guarda no centro de Túnis após tentativa de protesto que aconteceu no início do dia
Foto: AFP
14 de janeiro - Manifestante protestam em frente ao ministério do Interior na avenida Habib Bourguiba, em Túnis, após o discurso do presidente tunisiano Zine El Abidine Ben Ali à nação
Foto: AFP
14 de janeiro - Fumaça é vista depois de confrontos entre forças de segurança e manifestantes em Túnis, após o discurso do presidente tunisiano Zine El Abidine Ben Ali à nação
Foto: AFP
14 de janeiro - Manifestantes confrontam-se com a polícia na avenida Mohamed V em Túnis
Foto: AFP
14 de janeiro - Manifestantes jogam pedras durante confrontos com forças de segurança na avenida Mohamed V em Túnis
Foto: AFP
14 de janeiro - Manifestantes jogam pedras durante confrontos com forças de segurança na avenida Mohamed V em Túnis
Foto: AFP
14 de janeiro - Soldados enfrentam manifestantes em tanque blindado na avenida Mohamed V em Túnis
Foto: AFP
15 de janeiro - Centenas de soldados e tanques de guerra patrulharam as ruas de Túnis, capital da Tunísia, após os violentos protestos no país
Foto: Zohra Bensemra / Reuters
15 de janeiro - Tunisianos que moram na França saíram para protestar contra o presidente do país africano, Zine al-Abidine Ben Ali
Foto: Robert Pratta / Reuters
Fumaça era vista em mercado francês e tunisiano na cidade de La Gazella
Foto: AFP
Transeunte na Tunísia observa carro que acabou queimado após onda de protestos na cidade de La Gazella
Foto: AP
Funcionários limpam estação de trem prejudicada durante manifestação que ocorreu noite a dentro na Tunísia
Foto: AFP
Imigrantes da Tunísia protestam na Bélgica contra o presidente Zine Abidine El Ben Ali
Foto: AP
Mulher segura cartaz de Zine Abidine El Ben Ali com a escrita de "procurado", em manifestação ocorrida na França
Foto: AP
Após protestos, soldados garantem a segurança do prédio onde fica o parlamento da Tunísia
Foto: AP
Presidente interino da Tunísia, Fued Mebaza, tomou o cargo após o líder do país Zine El Abidine Ben Ali fugir
Foto: AP
17 de janeiro - Policial corre atrás de manifestante que protestava, no centro de Túnis
Foto: Reuters
17 de janeiro - Homem protesta enquanto militares soltam gás lacrimogêneo para dispersar a manifestação, em Túnis
Foto: Reuters
17 de janeiro - Homem grita enquanto soldado tenta remover manifestantes, na capital Túnis
Foto: AP
17 de janeiro - Soldados tentam dispersar manifestação, no centro de Túnis
Foto: AFP
17 de janeiro - Manifestantes protestam contra o ex-presidente Zine El Abidine Ben Ali, em Túnis
Foto: AP
17 de janeiro - Em Marselha, na França, homem grita em protesto contra o presidente tunísio, Ben Ali, em frente ao consulado da Tunísia
Foto: AFP
17 de janeiro - Mulher tenta beijar soldado durante protesto contra o ex-presidente Ben Ali, nas ruas da capital do país
Foto: AP
17 de janeiro - Manifestante enfrenta policiais nas ruas de Túnis
Foto: AFP
17 de janeiro - Em visita aos Emirados Árabes Unidos, o Secretário-Geral das Nações Unidas pediu o restabelecimento da ordem na Tunísia
Foto: AP
17 de janeiro - O premiê Mohamed Ghannouchi anuncia novo governo de união nacional durante entrevista coletiva em Túnis
Foto: Reuters
17 de janeiro - Polícia tenta conter manifestantes em Túnis: mesmo após a renúncia de Ben Ali, protestos contra o ex-presidente persistem na capital
Foto: Reuters
17 de janeiro - Leila Ben Ali, mulher do presidente deposto da Tunísia, é suspeita de ter retirado uma reserva 1,5 tonelada de ouro do país e levado consigo na partida em direção aos Emirados Árabes Unidos. A foto acima é de outubro de 2008
Foto: AP
17 de janeiro - Retratos dos ex-presidentes Ben Ali e Habib Bourguiba são encontrados em edifício oficial da capital Túnis, no mesmo dia do anúncio do governo de "união nacional"
Foto: EFE
18 de janeiro - Tunisianos protestam na Avenida Roma, em Túnis. A polícia usou gás lacrimogêneo e entrou em confronto com os manifestantes, que protestavam contra o novo governo do país
Foto: AFP
18 de janeiro - Policiais dispersam manifestantes que protestavam contra novo governo na avenida Roma, em Túnis
Foto: AFP
18 de janeiro - Policial cobre o rosto após terem lançado gás lacrimogêneo contra manifestantes que protestavam contra o novo governo em Túnis
Foto: AFP
18 de janeiro - Tunisianos protestam na avenida Roma, em Túnis, contra o novo governo do país
Foto: AFP
19 de janeiro - Manifestantes são empurrados para trás por policiais durante uma manifestação na cidade de Túnis
Foto: Reuters
19 de janeiro - Protesto compara o governo do presidente Zine al-Abidine Ben Ali com o nazismo; família de Ben Ali também virou alvo
Foto: Reuters
20 de janeiro - Soldado empurra manifestante em frente à sede do partido de Ben Ali, a Agrupação Democrática Constituicional (RDC)
Foto: Reuters
20 de janeiro - Soldado empunha arma com flor, durante manifestação na capital Túnis
Foto: Reuters
20 de janeiro - Manifestantes tunisianos entregam flores aos militares durante protesto contra o governo de Ben Ali
Foto: AP
20 de janeiro - Enrolada na bandeira da Tunísia, mulher protesta em frente à sede do partido do presidente deposto, Bel Ali
Foto: Reuters
24 de janeiro - Depois de desafiar o toque de recolher, manifestantes entraram em confronto com a tropa de choque na região central de Túnis
Foto: AFP
25 de janeiro - Moradores de Sidi Bouzid and Kasserine, na região central da Tunísia, fazem protesto em frente ao palácio governamental de Túnis
Foto: AFP
25 de janeiro - Soldados fazem guarda em frente ao escritório do premiê Mohammed Ghannouchi
Foto: AFP
25 de janeiro - Carcereiros e parentes de prisioneiros islamitas protestam dentro do Ministério da Justiça, em Túnis
Foto: AFP
25 de janeiro - Soldado tunisiano fala com manifestante enrolado na bandeira nacional durante protesto na frente do palácio do governo
Foto: AFP
25 de janeiro - Moradores da região de Sidi Bouzid and Kasserine, fazem protesto em frente ao escritório do premiê Ghannouchi
Foto: AFP
25 de janeiro - Moradores de Sidi Bouzid and Kasserine, na região central da Tunísia, incendeiam imagem do presidente deposto Ben Ali
Foto: AFP
26 de janeiro - Moradores da região de Sidi Bouzid, no centro da Tunísia, entram em confronto com as forças de segurança em frente ao gabinete do primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi em Túnis
Foto: AFP
26 de janeiro - Morador de Túnis atira uma pedra enquanto um policial lança gás lacrimogêneo em manifestantes na frente do gabinete do primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi em Túnis
Foto: AFP
26 de janeiro - Manifestante ferido é evacuado após confrontos com a polícia durante protesto na frente do escritório do primeiro-ministro em Tunis
Foto: AFP
26 de janeiro - Moradores da região de Sidi Bouzid, em Túnis, atacam um oficial em um carro da polícia, durante as manifestações o governo interino
Foto: AFP
5 de maio - Policial com roupas discretas desfere chute contra manifestante durante repressão a protesto em Tunis, onde centenas de manifestantes cobraram do governo da Tunísia as reivindicações feitas durante a revolução que derrubou, no início do ano, o ex-presidente Ben Ali, após mais de 23 anos de poder
Foto: AP
5 de maio - Agente sem uniforme policial chuta manifestante que já está caído, durante manifstação para cobrar exigências da revolução, em Tunis
Foto: AP
5 de maio - Policial enfrenta manifestante que tenta dialogar, em rua de Tunis
Foto: AP
5 de maio - Policial reprime protesto e bate em manifestantes caidos em calçada, na capital Tunis
Foto: AP
5 de maio - Manifestante é arrastado por policial após ser preso em protesto que cobrou cumprimento das reivindicações da revolução e questionou boato sobre suposta preparação de golpe militar para julho
Foto: AFP
5 de maio - Manifestantes carregam jovem ferida durante repressão das forças de segurança da Tunísia a protesto, na região central de Tunis