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Ásia

Tsunami no Japão: as histórias de objetos devolvidos depois de cruzar o oceano

11 mar 2016 - 07h36
(atualizado às 07h54)
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Segundo governo japonês, 20 milhões de toneladas de detritos já foram recolhidas após terremoto; tragédia matou 16 mil pessoas
Segundo governo japonês, 20 milhões de toneladas de detritos já foram recolhidas após terremoto; tragédia matou 16 mil pessoas
Foto: BBC Brasil

Verão de 2012. O dia amanhece sombrio e cinza no meio do Oceano Pacífico. Mas um pequeno ponto branco persiste no horizonte.

No início, autoridades acharam que era uma baleia, mas à medida que se aproximaram do local, perceberam se tratar de um grande barco de pesca abandonado com caracteres em japonês.

"Foi quando tudo aconteceu. Esse objeto pertencia a alguém, é de alguém", lembra Marcus Eriksen, um ambientalista que liderou uma expedição em 2012 para investigar a grande quantidade de destroços lançado ao oceano por causa de um tsunami provocado pelo terremoto de grandes proporções que atingiu a costa nordeste do Japão, em 11 de março de 2011.

A tragédia matou quase 16 mil pessoas. Segundo o governo japonês, 20 milhões de toneladas de detritos já foram recolhidas do mar após o tremor.

Muitos desses destroços afundaram, mas cinco anos depois alguns deles ainda continuam aparecendo ao longo do litoral oeste da América do Norte, do Alasca ao Havaí. Desde setembro de 2015, 64 objetos foram descobertos e oficialmente identificados como escombros do tsunami.

Sediado no Estado americano do Havaí, o Programa de Destroços Marinhos da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês) vem trabalhando em conjunto com o governo japonês, por meio de consulados locais, para identificar tais objetos, alguns dos quais trazem consigo histórias surpreendentes. E, vez ou outra, são posteriormente reconciliados com seus proprietários.

Motocicleta

Motocicleta Harley-Davidson pertencia ao japonês Ikio Yokohoma
Motocicleta Harley-Davidson pertencia ao japonês Ikio Yokohoma
Foto: BBC Brasil

Uma motocicleta Harley-Davidson, por exemplo, foi encontrada na Ilha Graham, na província da Colúmbia Britânica, no oeste do Canadá, em um contêiner que seu dono, Ikio Yokohama, usava para armazená-la no Japão.

O americano Peter Mark, que fez a descoberta em abril de 2012, percebeu que o veículo possuía uma placa japonesa e poderia ser um dos destroços do tsunami. A partir dali, deu-se início a uma longa busca até descobrir o paradeiro do proprietário.

Depois de avaliar as possibilidades de enviar o motociclista de volta ao Japão para ser restaurada, o dono optou por permitir sua exibição no Museu da Harley-Davidson, em Milwaukee, nos Estados Unidos, como um memorial de todos aqueles que morreram na tragédia.

Yokoyama perdeu vários familiares por causa do tsunami.

Placa

Placa foi descoberta em outubro de 2013
Placa foi descoberta em outubro de 2013
Foto: BBC Brasil

O vilarejo de Tanohata foi devastado pelo terremoto e tsunami de 2011. Grande parte do vilarejo na prefeitura de Iwate foi varrida pelas águas.

Entre os destroços, estava uma placa de madeira. Com aproximadamente três metros de comprimento, o objeto tinha o mesmo nome do edifício residencial de onde provinha - "Shimanokoshi”.

Objeto foi devolvido em julho
Objeto foi devolvido em julho
Foto: BBC Brasil

A placa foi descoberta em outubro de 2013, a cerca de 6 mil quilômetros de sua origem, na praia de Kahuku, na ilha de Oahu, no Havaí. E em julho de 2014, foi finalmente devolvida.

O vilarejo decidiu exibir a placa, como uma lembrança para as gerações futuras.

Futebol

Misaki Murakami havia perdido bola de futebol em tsunami
Misaki Murakami havia perdido bola de futebol em tsunami
Foto: BBC Brasil

Misaki Murakami, de 16 anos, perdeu tudo o que tinha quando o tsunami atingiu sua casa em Rikuzentakata.

Mas pouco mais de um ano depois, no litoral da ilha de Middleton, no Alasca, David e Yumi Baxter encontraram uma bola de futebol que Misaki havia recebido de presente de seus colegas de turma muitos anos antes, quando mudou de escola. Natural do Japão, Yumi pôde traduzir o nome, a escola e mensagem de "boa sorte" escrita no objeto, permitindo que ele fosse devolvido ao dono.

"Fiquei chocado, mas também fiquei feliz ao poder ter recuperado pelo menos um dos meus pertences", afirmou Misaki.

Barco a remo

Barco pertencia à escola de ensino médio em Rikuzentakata
Barco pertencia à escola de ensino médio em Rikuzentakata
Foto: BBC Brasil

Um barco a remo, ou esquife, foi encontrado no dia 7 de abril de 2013 no litoral de Crescent City, no Estado americano da Califórnia.

O barco, conhecido como Kamome (Gaivota), pertencia a uma escola de ensino médio em Rikuzentakata, que foi completamente arrasada pela onda gigantesca que atingiu a cidade dois anos antes.

Embarcação foi descoberta por escola americana
Embarcação foi descoberta por escola americana
Foto: BBC Brasil

Após retirar as cracas que o cobriam, alunos da escola de ensino médio Del Norte, nos Estados Unidos, trabalharam em conjunto com autoridades japonesas e americanas para devolver o objeto de volta ao país.

A partir daí, os dois colégios organizaram visitas de intercâmbio e se tornaram formalmente "escolas-irmãs". A história do barco, e as conexões que ele permitiu forjar, foi contada em um livro ilustrado bilíngue para crianças.

Navio de pesca

Navio de pesca de lula se tornou símbolo da tragédia
Navio de pesca de lula se tornou símbolo da tragédia
Foto: BBC Brasil

Um dos destroços que se tornou símbolo da tragédia mas não pode ser recuperado foi o "navio-fantasma" flagrado pela primeira vez no litoral da província canadense da Colúmbia Britânica, no dia 23 de março de 2012, lentamente à deriva em um corredor de transporte marítimo.

Por causa do risco que o Ryou-Un Maru representava para outros navios, e as dificuldades de recuperá-lo, autoridades não tiveram outra escolha senão afundá-lo.

O navio de pesca de lula foi afundado a cerca de 314 km de Sitka, no Alasca, por tiros de canhão naval.

Embarcação foi batizada de 'navio-fantasma'
Embarcação foi batizada de 'navio-fantasma'
Foto: BBC Brasil

Mas se objetos maiores continuam atraindo a maior parte da atenção, a vasta maioria dos destroços é muito menor.

São esses detritos que hoje flutuam no Pacífico. Os objetos abaixo d’água só se deslocam por meio de correntes. Alguns desses itens se acumularam em uma área chamada Grande Porção de Lixo do Pacífico.

O impacto do tsunami ainda está sendo largamente sentido e medido a milhares de quilômetros de seu local de origem. As pessoas encontram objetos, eles são registrados por cientistas, oceanógrafos tiram o modelo dos itens e os ambientalistas avaliam seu impacto.

A cada nova descoberta de um objeto, cientistas podem aprender sobre as correntes marítimas, fluxo dos oceanos e dos ventos e também dos destroços que contam as histórias das vidas atingidas pelo tsunami de 2011.

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