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"Será que não podem ajudar?" O que os gregos pensam da crise

Com dificuldades para resgatar benefício, aposentados gregos contam o que pensam da crise e como vão votar no referendo no domingo

1 jul 2015 - 08h11
(atualizado às 11h33)
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Maioria dos aposentados com que o repórter conversou teve problemas para receber a aposentadoria do mês, por conta do fechamento temporário dos bancos
Maioria dos aposentados com que o repórter conversou teve problemas para receber a aposentadoria do mês, por conta do fechamento temporário dos bancos
Foto: BBC

Nas ruas de Atenas, para cada café aberto, há dezenas de outros fechados.

Alguns estão fechados há tanto tempo que a placa de "Aluga-se" já está até desbotada pelo sol.

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É nesse cenário que eu fui parar no café Kareneio, onde meia dúzia de gregos de meia idade ou idosos estava sentados debaixo do toldo, fumando, diante de uma mesa com pratos de (quitutes típicos) e garrafinhas de vinho tinto.

A maioria deles já deveria ter recebido a aposentadoria deste mês. O problema, pelo menos para Yannis (que preferiu não ser fotografado e nem dar seu sobrenome), é que muitos não tem cartão de crédito. Assim, se os bancos continuarem fechados, ele não tem como sacar seu dinheiro.

Yannis quer que essa situação acabe logo. Ele vai votar "sim" no referendo de domingo e quer que a Grécia aceite as propostas da Europa e do FMI, apesar do risco de que isso leve a novos sacrifícios, como possíveis cortes na aposentadoria.

'Não nessa Europa'

Dimitris, que votará no "não", não acata esse argumento. Quando ele fica sabendo que eu trabalho para a BBC, começa a criticar David Cameron, a Grã-Bretanha, as economias europeias... Mas ele logo começa a me falar da sua vida.

Muitos estabelecimentos comerciais em Atenas estão fechados há anos
Muitos estabelecimentos comerciais em Atenas estão fechados há anos
Foto: BBC

Com seus mais de 60 anos, ele teve de fechar, em fevereiro, seu papelaria – após 43 anos de negócio. Seus filhos planejam sair da Grécia – um deles está pensando em ir para Austrália.

"Eu quero ficar na Europa", ele me diz. "Mas não nessa Europa."

Em pouco tempo, estamos em meio a uma discussão tensa que passa por temas tão distintos como a Segunda Guerra Mundial, o império britânico e o nascimento do Estado grego.

A História tem muito valor para esses homens, especialmente para Dimitris. Eles se sentem injustiçados pelas potências europeias.

Dimitris me pede que diga à rainha Elizabeth 2ª que ela deveria ter apoiado publicamente a Grécia durante sua visita recente à Alemanha. Eu prometo passar o recado quando encontrá-la da próxima vez.

'Somos todos europeus'

Victor, que também votará no "não", trabalhava com construção civil e como segurança. Ele está desempregado há quatro anos.

"Talvez eles estejam com inveja de nós, que estamos sentados no sol", diz Victor, em referência aos alemães e aos outros países ricos da zona do euro.

Thanasis conta que não tem dinheiro nem para viajar a sua cidade natal para votar no referendo
Thanasis conta que não tem dinheiro nem para viajar a sua cidade natal para votar no referendo
Foto: BBC

Ele culpa essas nações pela atual crise grega. "Eles deveriam saber que um país pequeno como o nosso jamais poderia pagar uma dívida desse tipo, mas eles continuaram a nos dar dinheiro."

"Era para sermos iguais. Mas todos esses país grandes têm tanta experiência, e a Grécia é tão pequena... Será que eles realmente não podem nos ajudar a sair dessa bagunça?"

Victor também diz estar perplexo com a repentina chegada de jornalistas estrangeiros.

"Onde eles estavam nesses anos todos? Nossa situação agora não está muito diferente de alguns anos atrás."

Thanasis não vai votar no referendo de domingo, mas não por questões políticas. Ele está registrado para votar na cidade de Kalamata, no sudeste do país, e não tem como pagar a passagem de ônibus até lá. Thanasis trabalha desde os 17 anos, principalmente como motorista de ônibus.

Victor está desempregado há quatro anos
Victor está desempregado há quatro anos
Foto: BBC

Nenhum deles considera a hipótese de deixar a Grécia.

Pouco antes de eu me levantar, eles me oferecem um café grego e se recusam a me deixar pagar, mesmo depois de eu explicar que isso é contra a política interna da BBC.

"Somos todos europeus", me diz Dimos, que trabalha no café, enquanto recusa meu dinheiro e me estende a mão. "Tudo o que queremos é respeito mútuo."

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