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Reaproximação EUA-Cuba domina reunião de cúpula do Mercosul

17 dez 2014 - 23h11
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O restabelecimento de relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba, após 53 anos, caiu como uma luva no meio da 47ª Reunião de Presidentes do Mercosul – o mercado comum, integrado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela. A anfitriã do encontro – a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner -, interrompeu os discursos para dar a noticia, considerada por todos “histórica”.

Ela elogiou a "dignidade” do governo cubano, que soube defender seus ideais, apesar das décadas de embargo econômico, imposto pelos Estados Unidos. “Estamos muito felizes como argentinos, como sul-americanos, como cidadãos do mundo e finalmente como militantes políticos pelo que aconteceu e que nunca pensávamos que ia acontecer”, disse Cristina Kirchner, que nesta quarta-feira (17) passou a presidência pro tempore do Mercosul à presidenta Dilma Rousseff.

Dilma disse estar “honrada” em assumir o cargo pela segunda vez, “num dia histórico”. Ela elogiou os presidentes dos Estados Unidos e de Cuba, e acrescentou: “Nós, lutadores sociais, imaginávamos que jamais iríamos ver esse momento de retomada das relações entre os Estados Unidos e Cuba”.

As negociações entre os governos norte-americano e cubano – intermediadas pelo papa Francisco – se transformaram no principal assunto da reunião do Mercosul, que neste momento passa por um momento difícil. A queda no preço do petróleo, principal produto de exportação venezuelano, e a redução nos índices de crescimento das economias brasileira e argentina, estão afetando o comércio entre os países do bloco.  Só o comércio bilateral entre Brasil e Argentina sofreu queda de 27% nos 11 meses de 2014, comparado com o mesmo período do ano passado.

No Brasil e no Uruguai, que este ano realizaram eleições presidenciais, empresários e políticos da oposição questionaram a integração regional, argumentando que tinha motivações mais politicas do que econômicas. Por isso, a decisão do presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, de dar o primeiro passo para normalizar as relações entre seu país e Cuba, foi vista como uma vitória regional.

Em entrevista, Dilma Rousseff elogiou os presidentes Barak Obama e Raul Castro, além do papa Francisco, que intermediou o acordo e que nesta quarta-feira comemorou seu 78º aniversario. Ela aproveitou para responder àqueles que, durante a campanha eleitoral, criticaram a decisão do governo brasileiro de ajudar a financiar a construção do Porto de Mariel, em Cuba. A obra, que custou 957 milhoes de dólares (dos quais 682 milhões financiados pelo BNDES), foi feita pela construtora brasileira Norberto Odebrecht, em parceria com a cubana Quality.

Outros temas foram tratados na reunião do Mercosul, mas passaram para segundo plano, diante da notícia do princípio do fim de um conflito herdado dos tempos da Guerra Fria. Entre os assuntos estavam os acordos-quadro assinados pelo Mercosul com a Tunísia e o Líbano; o desejo de acelerar acordos econômicos com Chile, Colômbia, Equador, Peru e México; e a decisão de obrigar os veículos novos do Mercosul a usarem placa regional a partir de janeiro de 2015.

Mas o momento mais emocionante foi a homenagem de Dilma Rousseff ao presidente do Uruguai, Jose Pepe Mujica, que entregará o cargo ao seu sucessor, Tabaré Vasquez, no próximo dia 1º de marco. Com lágrimas, ela disse que foi um “privileéio” ter conhecido o ex-guerrilheiro que governa o país vizinho há cinco anos e que sempre colaborou com ela, no seu discurso. “Seu legado é um exemplo para todos nós”, disse Dilma, referindo-se ao estilo de governar de Mujica, que doa 90% de seu salário presidencial a obras sociais.

A homenagem foi aplaudida de pé por todos os presentes. “Nao nasci presidente, mas sou um lutador social”, respondeu Mujica, ao defender a integração regional e a parceria do Mercosul com a China.

Agência Brasil Agência Brasil
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