PUBLICIDADE

Mundo

Quem será mais favorecido pelo acordo de paz na Ucrânia?

14 fev 2015 - 13h20
Compartilhar

Bridget Kendall

Atirador de elite separatista em Debaltseve (foto: AP)
Atirador de elite separatista em Debaltseve (foto: AP)
Foto: BBC Mundo / Copyright

Analista diplomática da BBC News

Embaixada americana na Ucrânia divulga fotos de satélite mostrando artilharia russa perto de Debaltseve

Poucas horas antes da entrada em vigor de um cessar-fogo negociado pelos líderes da Rússia, Ucrânia, França e Alemanha, os combates entre forças do governo e separatitas continuam intensos na Ucrânia.

A cidade de Debaltseve está em chamas, sofrendo bombardeio pesado de forças separatistas.

A embaixada americana na Ucrânia divulgou fotos de satélite que mostram artilharia russa posicionada próximo à cidade.

Kiev acusa Moscou de apoiar os rebeldes com armas e tropas, mas a informação é negada pelo governo russo.

Também há informações de combates em Mariupol e explosões no em Donetsk, onde estão sediados os separatistas.

O acordo de paz firmado nesta semana em Kiev prevê que um cessar fogo entre em vigor à meia noite deste sábado (20h de Brasília).

Acordo

Mas caso o tratado seja levado adiante, quem será o maior beneficiado? Os separatistas e a Rússia? Ou a Ucrânia?

Em teoria o acordo dá uma vantagem tática imediata aos rebeldes - à Rússia, por consequência.

Pelo tratado, os rebeldes têm que fazer sua retirada da frente de batalha a partir da linha de cessar-fogo definida em um acordo anterior, de setembro do ano passado.

Já as forças ucranianas têm que retrair a partir da linha de frente que controlam atualmente.

Isso quer dizer que o exército ucraniano terá que aceitar se retirar do território pelo qual vinha lutando, frente ao avanço rebelde ocorrido nos últimos meses.

O presidente ucraniano Petro Poroshenko afirmou que esse não foi o único ponto do acordo no qual suas demandas não foram totalmente atendidas.

Separatistas podem sair favorecidos a curo prazo se acordo de paz sair do papel

Ele também havia requisitado um cessar-fogo imediato – mas o que ocorreu foi uma intensificação dos combates até a entrada em vigor da trégua, dois dias depois da assinatura do acordo.

Kiev também queria o compromisso de que todas as tropas estrangeiras fossem retiradas da região. Isso está no texto do tratado, mas será que o presidente Vladimir Putin se comprometerá com esse ponto, uma vez que Moscou nega que suas forças ou armamentos estejam em território ucraniano?

E embora esteja previsto que a Ucrânia retome o controle de suas fronteiras com a Rússia – uma demanda chave, para impedir a entrada de armamentos russos no país – isso não deve acontecer antes do fim de 201,5 e sob certas condições.

Primeiro, uma nova Constituição ucraniana deve entrar em vigor. Ela terá que dar às regiões rebeldes o direito de formar suas próprias forças policiais, apontar seus juízes e realizar comércio internacional com a Rússia.

Longo prazo

Mas apesar da imediata vantagem russa no acordo, se todas as etapas do tratado forem cumpridas ele pode ser favorável à Ucrânia a longo prazo.

Isso porque o documento pressupõe a soberania da Ucrânia – o que significa em último caso que todos os territórios rebeldes e fronteiras deverão voltar ao controle de Kiev em algum momento.

As autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Luhansk não são mencionadas no documento. Também não há referência a sugestões ocorridas anteriormente de que as regiões rebeldes possuam governos próprios – um cenário favorável à Rússia, para diminuir a influência de Kiev no leste do país.

Pelo contrário, agora Moscou está incentivando a reintegração das regiões rebeldes à Ucrânia, o que incluiria a restauração dos laços econômicos com Kiev, cortados no ano passado.

Isso geraria a reabertura de bancos e o pagamento de salários e de pensões, além da retomada de outros serviços – fazendo com que muitos residentes da região não dependam da ajuda humanitária russa.

Aposta de Putin

Possivelmente devido aos atuais problemas econômicos da Rússia, Putin pode ter calculado que não seria vantajoso se sobrecarregar a longo prazo para sustentar a região de Donbas.

Outra tese é a de que Moscou tenha avaliado que pode ser favorável manter áreas de influência dentro do território ucraniano para aumentar seu poder na política ucraniana.

Mas tudo isso ainda está no terreno hipotético. A questão que gera mais pressão hoje é: o acordo de paz conseguirá sair do papel? O cessar-fogo assinado em setembro do ano passado falhou, então o que pode impedir que o novo tratado fracasse?

Uma esperança é a de que houve mudanças de contexto. Desde setembro, o conflito piorou e muitos temem que ele possa sair do controle. Em termos políticos e econômicos as áreas controladas pelos rebeldes estão menos ligadas ao resto da Ucrânia.

Internacionalmente, a fenda entre a Rússia e o Ocidente aumentou de forma alarmante – ao ponto do presidente americano pensar em enviar armas para a Ucrânia.Senso de urgência

Essas mudanças acrescentaram um senso de urgência e de desespero à diplomacia nesta semana. Elas também motivaram os líderes da França e da Alemanha a se oferecer como garantidores do processo.Foi isso que persuadiu os presidentes Putin e Poroshenko a viajarem para Minsk e fez os quatro líderes passarem a noite discutindo para chegar a um cessar-fogo.

Como muitos participantes disseram, essa pareceu a última chance de negociar a paz. Continuar no mesmo rumo levaria ao abismo.

Há muitas armadilhas e fraquezas nessa tentativa de acordo. Não seria necessário fazer muito para derrubar esse castelo de cartas. Mas o medo de um novo fracasso pode dar uma pequena chance a esse potencial acordo.

BBC News Brasil BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Compartilhar
Publicidade