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Por que fortes terremotos são menos mortais no Chile?

17 set 2015 - 21h47
(atualizado em 18/9/2015 às 00h21)
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Um forte terremoto voltou a atingir o Chile na última quarta-feira e, assim como no tremor de 2014, o número de mortos e os danos materiais foram relativamente pequenos em comparação com eventos sísmicos recentes no Nepal e no Haiti, por exemplo.

Ainda que as autoridades estejam avaliando as consequências do terremoto, ao menos 11 pessoas morreram e casas, edifícios antigos e ruas foram afetados na região de Coquimbo, no centro-norte do país, a área mais afetada pelo abalo de magnitude 8,3.

Construção destruída pelo terremoto na cidade de Illapel, ao norte de Santiago, no Chile.
Construção destruída pelo terremoto na cidade de Illapel, ao norte de Santiago, no Chile.
Foto: EFE

Em abril do ano passado, um tremor de magnitude 8,2 deixou seis vítimas e danificou 2,5 mil residências.

Em ambos os casos, as consequências foram muito menos graves do que os terremotos que atingiram neste ano o Nepal, em 25 de abril e em 12 de maio. Juntos, eles custaram a vida de 8 mil pessoas, e povoados inteiros ficaram em ruínas.

Também chama a atenção que estes dois tremores tiveram uma magnitude menor que os do Chile: o primeiro foi de 7,8 e o segundo, de 7,3.

O abalo sísmico que atingiu o Haiti em janeiro de 2010 também foi bem menos potente, de magnitude 7,7, mas levou a uma tragédia muito maior, com 220 mil mortos e 1 milhão de desabrigados.

Mas por que os terremotos no Chile são menos mortais do que nestes outros países?

1. Evacuação em massa

O terremoto mais recente no país foi sentido às 19h55 do horário local. O governo ordenou então a evacuação preventiva de áreas costeiras entre Arica e Puerto Aysén, recomendando que as pessoas se abrigassem a pelo menos 30 metros acima do nível do mar.

No fim da noite, mais de 600 mil pessoas haviam abandonado suas casas. "As medidas foram tomadas rapidamente, e a evacuação foi muito bem feita. Sei que é duro para estas pessoas, mas precisamos proteger suas vidas", disse a presidente chilena Michelle Bachelet.

Esta resposta imediata a um tremor foi uma lição que as autoridades chilenas aprenderam depois de fevereiro de 2010, quando um abalo de magnitude 8,8 deixou 525 mortos, a maioria deles por causa do tsunami que veio em seguida.

O número de pessoas afetadas passou dos 2 milhões, com danos a 370 mil residências. Cinco anos depois, ainda resta reconstruir 17.178 delas.

O Chile aprendeu não só com este terremoto, mas com outros que o país sofreu ao longo dos anos, inclusive o maior registrado na história, de magnitude 9,6, que atingiu a cidade de Valdivia, no sul, em 1960.

Isso fez com que não só as autoridades reajam rápido, mas também os cidadãos. Desde pequenos, os chilenos participam de simulações no colégio e aprendem a manter a calma para que a evacuação ocorra de forma segura e eficaz.

Além disso, os chilenos dizem que "estão acostumados" aos terremotos, porque vivem no lugar "com mais abalos sísmicos do mundo".

As pesquisas sobre abalos sísmicos também são de "alto nível", como frequentemente destaca o Centro Sismológico do Chile, apesar de reconhecer em seu site que o país ainda carece de uma "rede de instrumentos maior e mais profissional para analisar dados".

Neste sentido, Sergio Barrientos, diretor científico do Serviço Sismológico da Universidade do Chile, destacou que "é necessário estabelecer um sistema de observação que permita detectar os tremores iniciais menores e, acima de tudo, criar uma rede de medições para forneça informação suficiente para determinar quais forças estão atuando."

2. Construções antiterremotos

O palácio presidencial do Haiti veio abaixo com o terremoto de 2010. A Cidade do México ficou em ruínas após o tremor de 1985. Como é possível, então, que o mesmo não ocorra no Chile, que enfrenta abalos mais potentes?

Segundo especialistas, as vigas de concreto armado, as formas de dissipar a energia liberada pelo terremoto e os estudos do solo exigidos em lei costumam ser cumpridos à risca na construção de residências e edifícios.

"É impensável não atender estas normas, ao menos em áreas urbanas", disse à BBC o presidente da Associação de Arquitetos do país, Sebastián Gray.

No Haiti e no Nepal, a realidade é muito diferente. As casas no Nepal, tanto em áreas urbanas quanto nas rurais, têm pouca qualidade. Não porque não existem normas para edificações seguras, mas porque elas não costumam ser cumpridas.

No Chile, as regras preveem o uso de concreto e aço, que deve ser suficientemente flexível e resistente para permitir que uma construção se mova e balance, mas não caia.

"No Chile, as leis garantem a integridade de uma residência de forma que seja possível salvar vidas", esclarece o arquiteto Jaime Díaz, professor da Universidade do Chile.

"As construções mais modernas precisam ainda incorporar materiais isolantes e dissipadores de energia, que fazem com que o movimento da terra não seja transmitido para um edifício e, caso isso ocorra, a energia seja absorvida."

Por fim, o estudo do solo permite que as fundações sejam adequadas. "Cada tipo de solo necessita de um cálculo específico para determinar seu tamanho, forma, profundidade e resistência", explica Grav.

Mas estas medidas são caras e dificilmente são aplicadas em países mais pobres.

3. Fatores naturais

Por mais preparado que um país e seus habitantes estejam, os fatores naturais fogem do controle humano. É também graças a eles que o Chile tem condições melhores de enfrentar tremores do que o Haiti ou o Nepal.

O Nepal fica em uma zona de colisão continental, onde a placa tectônica da Índia se choca com a da Ásia. A velocidade em que essa colisão ocorre é de 4,5 cm por ano, fazendo com que os grandes terremotos estejam separados por décadas.

A falha geológica chilena, no entanto, é um enorme buraco no fundo do oceano Pacífico que avança para debaixo do continente sul-americano a uma velocidade de quase 10 cm por ano.

Isso torna os terremotos nesta área muito mais frequentes, fazendo com que ser capaz de resistir a eles seja uma prioridade nacional.

Além disso, o nível de destruição gerado por um abalo tem a ver não apenas com sua magnitude, mas com seu epicentro. O terremoto de quarta-feira ocorreu a cerca de 177 km ao norte da cidade costeira de Valparaíso, a uma profundidade de 11 km.

No Haiti, o epicentro foi a apenas 25 km da capital, Porto Príncipe, e foi mais superficial, a 10 km de profundidade.

Este tremor mais recente no Chile também não gerou um tsunami, o que causou a maioria das vítimas em 2010 no Haiti.

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