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Mundo

Peruanos mais necessitados castigam sua classe política

11 abr 2011 - 05h30
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Os peruanos mais necessitados, aqueles que representam 32% da população que ainda vive na pobreza, deram neste domingo um duro golpe na sua classe política ao decidir que a Presidência do país seja disputada em um segundo turno pelo nacionalista Ollanta Humala e a populista Keiko Fujimori.

O cenário terrível de um confronto entre o câncer terminal e a aids do qual falou no ano passado o escritor Mario Vargas Llosa se tornou realidade em uma eleição que, paradoxalmente, foram realizadas com toda tranquilidade.

Terrível para uma grande quantidade de peruanos imersos em um sistema econômico neoliberal que transformou seu país em uma das estrelas do crescimento latino-americano, com uma média de 6,5% anual, mas também mostrou claramente as fissuras e exclusões de um desenvolvimento que não chega a muitos.

É que apesar de suas grandes campanhas proselitistas, que incluíram quase todo o aparelho midiático do país, os candidatos defensores do "sistema", como o ex-presidente Alejandro Toledo, o ex-ministro Pedro Pablo Kuczynski e o ex-prefeito Luis Castañeda se aperceberam da realidade de um país inconformado.

Apesar dos augúrios quase apocalípticos dos políticos conservadores e a rejeição ríspida dos cidadãos que temem perder os avanços econômicos, os milhões de postergados (denominados com as frias siglas como "setores C, D e E") decidiram que a eleição seja decidida pelo "antissistema" Humala.

De nada valeram as advertências que mostram que Humala pensa em destruir o sistema econômico, romper os contratos com as empresas estrangeiras e nacionalizar tudo o que for nacionalizável se finalmente esses peruanos marginalizados não gozarem dos benefícios de um Peru que brilha em nível internacional.

Um cenário impensado até há pouco levará Humala a enfrentar Keiko Fujimori, uma congressista com grande arraigamento popular escorado, sobretudo, pelo fervor que gera em alguns setores da sociedade as políticas assistencialistas de seu pai, o ex-presidente preso Alberto Fujimori.

Para os seguidores de Keiko, ou de Alberto, que para o caso é o mesmo, importa mais que o ex-presidente "pacificou" o país e melhorou a infraestrutura do povoado mais remoto, do que o golpe de Estado de 1992 ou as acusações de violações dos direitos humanos que o levaram a prisão ou a gigantesca rede de corrupção de seu Governo.

Agora, com a quase confirmação de seu confronto no segundo turno do dia 5 de junho, se intui um cenário "muito tenso", segundo comentou à Efe o analista político Fernando Rospigliosi.

Para Rospigliosi, existe um nível de rejeição a suas candidaturas muito forte, apesar de que Humala conseguiu fazer "um primeiro turno muito bomn" e Keiko manteve 20% das intenções de voto que a catapultou para as portas da Presidência.

"Veremos se Humala pode manter essa campanha no segundo turno e, embora Keiko não tenha descido nem subido, vai ter de fazer uma campanha diferente para tentar conseguir um novo rosto", disse.

O também analista Santiago Pedraglio lembrou que Humala repetiu "e inclusive melhorou" nestas eleições os resultados de sua votação de 2006 quando chegou ao segundo turno com o atual presidente Alan García, que o venceu por uma margem estreit.

"Acho que o que não vai ser igual é o segundo turno, é diferente que Humala enfrente agora Keiko Fujimori, que em 2006 Alan García, acho que é uma vantagem maior a que tem, são oito pontos de diferença, e não 5 como teve nesse momento", explicou.

Para Pedraglio, "a mensagem da votação é que há pelo menos um terço dos peruanos que querem que aconteçam mudanças, para também se beneficiarem do crescimento da economia e da democracia".

"Humala e Keiko têm maior resistência, mas ao mesmo tempo maior apoio dos setores populares, porque é uma votação socialmente muito parecida, baixa nos setores A e B e muito alta nos setores C, D e E", destacou.

Isto permite determinar, segundo o analista, que se trata de uma votação "socialmente muito semelhante".

Sergio Bendixen, outro analista em temas políticos, considerou que o resultado levava a "uma situação bastante irônica, que o país na América Latina com maior crescimento econômico, de maior progresso em muitos sentidos, agora tem que escolher entre a filha de um ditador e um candidato que representa a extrema esquerda".

"Neste momento é quase impossível dizer quem vai passar, muito terá que ver com o que decidirem Kuczynski, Toledo e Castañeda, sobre quem vão apoiar", disse, ao tentar perfilar o futuro de um pleito no qual Humala e Keiko deverão buscar alianças para alcançar a chefia do Governo.

EFE   
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