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África

Em meio a críticas, Mugabe é reeleito no Zimbábue pela 7ª vez

3 ago 2013 - 12h40
(atualizado às 14h03)
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O Comitê Eleitoral do Zimbábue anunciou neste sábado que Robert Mugabe foi reeleito com 61% dos votos, enquanto seu opositor, o premiê Morgan Tsvangirai, obteve 34% dos votos.

Antes da publicação oficial, Tsvangirai se manifestou mais uma vez dizendo que a eleição foi conduzida de forma "fraudulenta" e prometeu entrar com ação na justiça para questionar os resultados.

Ele também ressaltou que seu partido, o Movimento para Mudança Democrática (Movement for Democratic Change - MDC), não irá se aliar mais ao partido de Mugabe, o Zanu-PF.

Aos 89 anos, Mugabe é o mais velho líder da África e esse será seu sétimo mandato como presidente. Ele comanda o país desde 1980, quando era primeiro-ministro.

O partido de Mugabe, o Zanu-PF, conquistou 137 das 210 cadeiras do Congresso.

A reeleição de Mugabe está cercada de declarações totalmente opostas. De um lado, líderes de seu partido, o Zanu-PF, e observadores da União Africana e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês) garantem que a votação e a apuração foram livres, justas e transparentes.

A mesma opinião é compartilhada pelo representante do governo brasileiro convidado a acompanhar o pleito, que ocorreu na quarta-feira. "A votação foi extremamente tranquila e muito organizada. Bem diferente do que vimos na eleião anterior (em 2008)", disse o diplomata Antonio Carlos de Souza Leão, que é da embaixada do Brasil em Pretória, na África do Sul.

"Houve, sim, problemas com as listas eleitorais, que foram distribuídas muito em cima da hora. Mas isso não impediu que os partidos topassem participar", disse Leão, que visitou sessões eleitorais na periferia da capital Harare.

'Farsa'

No entanto, opositores de Mugabe e um grupo nacional que monitorou a eleição denunciaram inúmeras fraudes, especialmente nas áreas rurais, que abrigam os redutos eleitorais do presidente.

Tsvangirai, que tem 61 anos e lidera o partido Movimento para Mudança Democrática (MDC), disse que a eleição foi uma farsa.

"A credibilidade desse processo eleitoral foi minada por violações administrativas e legais, que prejudicam a legitimidade desse resultado", disse. "Essa eleição é uma farsa que não reflete o desejo das pessoas."

A Rede de Apoio á Eleição no Zimbábue (Zesn, na sigla em inglês), que é o maior grupo de monitores nacionais, com cerca de 7 mil pessoas espalhadas pelo país, também denunciou fraudes generalizadas.

Na quinta-feira, o grupo afirmou que as eleições haviam sido "seriamente comprometidas", com até um milhão de pessoas sendo impedidas de votar.

A Zesn afirmou ainda que potenciais eleitores foram constantemente barrados em seções eleitorais nas áreas urbanas, onde o apoio a Tsvangirai é mais forte. O grupo afirma ainda que até um dos 6,4 milhões de eleitores foram impedidos de votar.

'Perfeita'

No grupo dos que endossaram o processo eleitoral no país está o líder da União Africana, o ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo. Ele afirmou que a eleião foi livre e justa, mas admitu que houve incidentes "que poderiam ter sido evitados".

"Mas em termos gerais, não acreditamos que esses incidentes vão impactar no resultado, afetando o a vontade do povo. Eu nunca vi uma eleição tão perfeita."

Já os monitores da SADC também elogiaram a votação, mas disseram ser cedo demais para dizer que elas foram justas.

"Em uma democracia, nós não apenas votamos e fazemos campanha, nós aceitamos fatos difíceis, particularmente os resultados", disse o chefe da missão da Sadc no Zimbábue, Bernard Membe.

O Zanu-PF e o MDC formam, desde 2009, uma coalizão governamental instável. O acordo entre rivais colocou fim à onda de violência que tomou conta do país após a divulgação dos resultados das eleições presidenciais no ano anterior.

Mas o futuro da coalizão é incerto após o resultado das eleições. "Se alguém não estiver satisfeito, os tribunais estão aí para isso. Faço um convite a Tsvangirai para ir à Corte se ele tiver como justificar o que está dizendo", disse o ministro da Justiça do Zimbábue, Patrick Chinamasa (Zanu-PF).

Nosso rei

Nos últimos anos, enquanto a economia do Zimbábue ia de ruim para péssima, chegando a um patamar desastroso, muitos anunciaram a decadência física e política de Mugabe - uma previsão que foi frustrada, pelo menos por enquanto.

Nos anos 70, ele era visto como um herói revolucionário, que lutou pela liberdade do seu povo contra a minoria branca que comandava o país. E em respeito a esse passado que muitos líderes afrianos se recusam a criticá-lo.

Décadas depois, o país que ele ajudou a libertar mergulhou em uma crise financeira sem precedentes, com uma inflação anual de 100.000% e a economia que mais encolhia no mundo.

Mas Mugabe disse que uma país jamais iria à falência e culpou as sanções internacionais pelos caos econômico.

Politicamente, seu maior golpe ocorreu em 2008, quando ele ficou em segundo lugar no primeiro turno da eleição, atrás de Tsvangirai. Ele então convocou sua milícia, que entrou em confronto com opositores, levando o país a uma onda de violência que deixou dezenas de mortos - e fazendo com que o opositor abrisse mão da disputa.

Em seu aniversário do ano passado, ele negou os relatos de que estaria com câncer, como diziam documentos vazados pelo Wikileaks.

"Eu morri muitas vezes - por isso posso dizer superei Cristo, que morreu e ressuscitou somente uma vez", disse Mugabe, rindo, durante a festa, que custou mais de US$ 400 mil e teve um bolo de 89 quilos para celebrar a idade do presidente.

Após mais de três décadas no poder e prestes a completar 90 anos, muitos se questionam porque Mugabe não escolhe um sucessor - alguém que não investigasse seus mandatos ou as acusações de violação de direitos humanos que pesam contra ele.

Mas um de seus aliados, Didymus Mutasa, contou em uma entrevista a BBC que na cultura do Zimbábue, reis só são substituídos quando morrem. "E Mugabe é nosso rei", disse.

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