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Oriente Médio

Yoani vê "silêncio" da América Latina sobre direitos humanos em Cuba

18 fev 2013 - 20h13
(atualizado às 20h58)
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A blogueira dissidente cubana Yoani Sánchez, que chegou ao Brasil nesta segunda-feira, disse que a América Latina tem ignorado as violações de direitos humanos supostamente cometidas em Cuba e criticou essa postura.

Blogueira cubana Yoani Sánchez fala a jornalistas em Feira de Santana, na Bahia, nesta segunda-feira. 18/02/2013
Blogueira cubana Yoani Sánchez fala a jornalistas em Feira de Santana, na Bahia, nesta segunda-feira. 18/02/2013
Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

Mais conhecida ativista de oposição da ilha comunista, Yoani finalmente recebeu autorização para sair de Cuba e escolheu o Brasil como a primeira parada de uma viagem que a levará a diversos países.

"No geral, vejo em toda a América Latina, em especial, um certo silêncio, uma certa distância do tema de direitos humanos em relação a Cuba. Para não incomodar (o presidente) Raúl Castro e tratar de integrá-lo, vamos não falar das violações de direitos humanos que se comete em Cuba", afirmou a jornalistas em Feira de Santana, na Bahia.

"Isso não me parece uma boa política, porque ao final se esquece do povo que em toda diplomacia tem que ser o centro... Sou partidária da diplomacia popular", disse.

A blogueira cubana está em Feira de Santana para participar de uma série de debates e eventos com temáticas sociais, incluindo uma exibição do documentário "Conexão Cuba x Honduras", do cineasta Dado Galvão, no qual ela é uma das entrevistadas.

Nesta noite, um dos eventos foi interrompido por manifestantes e a polícia foi chamada ao local.

Ao chegar ao país nesta segunda-feira, Yoani foi alvo de protestos nos aeroportos de Recife, onde fez escala antes de seguir à Bahia, e de Salvador de uma dezena de manifestantes que a acusaram de agir sob influência dos Estados Unidos, mas essas demonstrações não a surpreenderam.

"Nem me assusta, nem dói. É um cenário de democracia.... Eu gostaria que um dia os cubanos pudessem ter o direito de, quando não gostarmos de alguém que nos visite, ou quando não gostarmos de algo ou alguma lei, sair às ruas e ser respeitados nessa negativa."

Yoani disse que o caminho da democracia para Cuba tem que passar pelo restabelecimento das relações com os Estados Unidos, que mantêm um embargo econômico, comercial e financeiro à ilha desde 1962. Havana considera a medida como um "bloqueio".

"O que acontece é que nessa normalização de relações, não se pode esquecer do tema dos direitos humanos. Não se pode deixar de lado uma lista de requisitos necessários que a ilha deve cumprir para poder estabelecer relações não apenas com os Estados Unidos, mas com muitos outros países", afirmou ela a jornalistas.

A opositora citou que algumas reformas estão em andamento no país, ainda que de forma muito lenta. Disse não conhecer uma solução para mudar o regime de seu país, mas afirmou que esse "marco de liberdade tem que passar pela aceitação de outras forças políticas, o direito à associação, o direito às pessoas."

"Se em Cuba se despenalizar a discrepância, der garantia às pessoas de que podem apresentar projetos, propostas e programas de mudanças sem que por isso recebam um castigo, vão aparecer muitíssimas soluções."

"Meu país se encaminha na trilha de uma democracia, uma democracia que sabemos que em muitos países é imperfeita, é inacabada, há que aperfeiçoá- ainda, mas é uma democracia."

Yoani, de 37 anos, recebeu seu passaporte há duas semanas, graças à abrangente reforma de imigração cubana que entrou em vigor neste ano, depois de ter seu pedido para viajar negado mais de 20 vezes nos últimos cinco anos.

"Tenho minha opinião, uma opinião sem violência verbal, sem nenhum tipo de preocupação, sem rancor, uma opinião muito crítica para com o governo. Não penso em mudar uma só palavra para que me deixem sair outra vez."

(Reportagem de Sergio Queiroz)

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