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Oriente Médio

Violência e medo levam cristãos a fugir da Síria

A Síria abriga diversas fés cristãs, que convivem em paz com os muçulmanos

29 mar 2013 - 10h19
(atualizado às 11h00)
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Muitos cristãos abandonaram a Síria da mesma forma que outros compatriotas, pelo aumento vertiginoso da violência e pelo medo de uma hipotética chegada dos islamitas ao poder. É notável a emoção do empresário Peter Samman quando lembra sua família, que fugiu para o Líbano: "Não posso fazer nada além de chorar e rezar a Deus para que salve meu país. É duro imaginar o pode acontecer", lamentou em declarações à agência EFE.

Original de Homs, uma das cidades mais castigadas pelos conflitos, e após deixar a sua família no país vizinho, Samman decidiu se mudar para Damasco, cidade relativamente mais segura, para continuar com seus negócios. Ele luta contra o medo, a incerteza perante o futuro e o sentimento de culpa ao saber que é incapaz de fazer algo que salve o seu país.

Como outros cristãos, Samman teme que a anarquia tome conta da Síria e o ambiente laico que prevaleceu até agora desapareça, embora às vezes o mesmo tenha sido imposto pelo presidente Bashar al-Assad com expurgos brutais contra os grupos islamitas.

Não há números oficiais dos cristãos que abandonaram a Síria, mas estima-se que milhares se encontrem entre os refugiados que fugiram a países vizinhos como o Líbano, a Jordânia e o Egito, além de Canadá e Europa.

Um motivo de preocupação para muitos é a emergência do islamita Frente al-Nusra, que combate o regime e que foi incluído na lista de organizações terroristas pelos EUA. Este grupo reivindicou a autoria de dezenas de atentados com carros-bomba na Síria, onde temem que comecem a emitir éditos islâmicos para impor a "sharia", a lei islâmica, nas zonas do norte tomadas pelos rebeldes.

"Síria é meu país, é minha terra. Minha família bebeu de seus rios e tenho certeza que seu coração está com a Síria", afirmou Samman, que, mesmo assim, não deseja que seus parentes retornem neste momento pela precária situação de segurança.

Durante os dois anos de conflito não houve nenhum ataque significativo contra os cristãos - que representam 10% dos 24 milhões de sírios - o que muitos deles não vêem como uma garantia. Durante séculos, muçulmanos e cristãos conviveram pacificamente na Síria. De fato, os segundos adotaram tradições islâmicas como a saudação "Salam Aleikum" (Que a paz esteja com vocês).

No país, existem várias igrejas cristãs das quais a maior pelo seu número de fiéis é a grego-ortodoxa de Antioquia. Em comunhão com Roma estão os greco-melquitas, os sírio-católicos, os maronitas, os armênio-católicos e os caldeo-católicos. Outras igrejas ortodoxas, além da de Antioquia, são a sírio ortodoxa, a armênio-ortodoxa e a armênio-ortodoxa de Aleppo.

Uma das cidades com uma grande comunidade cristã é Aleppo, de onde o comerciante Joe Said, 41 anos, teve que fugir para se refugiar na capital depois de ser ameaçado, embora não queira dar mais detalhes a respeito. Said, que tem intenção de pedir um visto para se mudar para o Canadá ou para os Estados Unidos, reclamou do panorama atual em seu país e lembrou que nunca houve problemas de coexistência entre muçulmanos e cristãos.

"Vivemos com eles há gerações, socializamos e trabalhamos com eles diariamente. Às vezes nos casamos entre uns e outros, pertencemos a uma mesma nação e desfrutamos das chamadas à oração dos muezins. Mas,o que está acontecendo agora?", se questionou, perplexo, o comerciante.

Seja como for, o futuro dos cristãos na Síria está ligado ao de seus compatriotas muçulmanos e aos de outras minorias religiosas, que vêem como seu país é devastado por uma guerra civil que já deixou mais de 70 mortos.

EFE   
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