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Oriente Médio

Tunísia receberá reunião internacional para pressionar a Síria

22 fev 2012 - 10h30
(atualizado às 10h50)
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Os representantes de mais de 50 países, com a destacada exceção da Rússia, se reúnem nesta sexta-feira na Tunísia para "dirigir uma mensagem clara" ao regime sírio para que "pare com as matanças" e convocar a unificação da oposição, que pede a criação de uma "zona protegida".

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Os chefes da diplomacia dos países da Liga Árabe, da União Europeia e dos Estados Unidos participarão desta reunião internacional. O Conselho Nacional Sírio (CNS) e outros componentes da oposição também foram convocados.

No entanto, a Rússia, principal apoio do regime de Bashar al-Assad, que já bloqueou em duas ocasiões junto à China uma resolução no Conselho de Segurança da ONU de condenação da repressão, rejeitou o convite.

"O objetivo real desta iniciativa não está claro", lamentou Moscou, que ressaltou que nenhum representante do regime de Damasco foi convidado e considerou que o encontro tinha como objetivo dirigir "um ataque frontal contra o regime de Assad".

A China ainda não decidiu se participará ou não, e indicou que está examinando "a utilidade" da conferência.

Segundo a Tunísia, país anfitrião, o encontro tem por objetivo "dirigir uma mensagem clara ao regime sírio para que ponha fim às matanças contra seu povo" e "manifestar a solidariedade com o povo sírio".

"Trata-se de exercer o máximo de pressão" sobre o regime de Bashar al-Assad, disse o ministro tunisiano das Relações Exteriores, Rafik Abdelsalem, que repetiu que não era questão de abordar uma intervenção estrangeira na Síria, opção amplamente rejeitada até agora.

"Esperamos que (a reunião) desempenhe um papel chave no aumento da pressão diplomática sobre o governo sírio", segundo o ministério das Relações Exteriores britânico, enquanto Roma evocou "um aumento de pressões econômicas sobre o entorno do presidente Assad".

Já o CNS espera iniciativas concretas, em particular o acesso humanitário às vítimas da repressão que já deixou mais de 6 mil mortos há 11 meses.

Durante a conferência buscará obter "ajuda humanitária e uma zona de proteção dentro da Síria", indicou a oposição no exílio em uma coletiva de imprensa em Paris nesta quarta-feira. "Podem ser garantidas rotas protegidas mediante um compromisso russo para obrigar o regime a respeitar o acesso da ajuda humanitária em total segurança", acrescentou.

Moscou indicou nesta quarta-feira que apoiava o chamado feito na véspera pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para estabelecer tréguas diárias de duas horas que permitam a passagem da ajuda humanitária.

A reunião também enviará uma "mensagem clara" à Rússia e à China que, "infelizmente, até agora tomaram as decisões equivocadas", disse a secretária americana de Estado, Hillary Clinton.

Os países ocidentais querem reiterar seu apoio ao plano da Liga Árabe, que prevê, entre outros, etapas de uma transição democrática em Damasco e a nomeação de um enviado especial da ONU para a Síria. Insistem também na necessidade de a oposição síria, fragmentada, se unificar.

A oposição deve incluir "todas as sensibilidades" e "comunidades" de países para se converter em sócios do diálogo político, considerou o ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé.

Embora um reconhecimento global do Conselho Nacional Sírio, principal instância da oposição, não esteja na ordem do dia, "podem, no entanto, existir iniciativas individuais que acelerarão o processo", considerou Monzer Makhus, um representante do CNS.

A questão do apoio político e material à oposição, defendido pela Liga Árabe, pode também ser evocado, mas Washington já considerou "prematuro" armar a oposição síria, devido ao risco de infiltrações da Al-Qaeda na crise do país.

Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente

Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.

A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.

Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores - já organizados e dispondo de um exército composto por desertores das forças de Assad -, sem surtir efeito. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, o as forças de Assad investiram contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. A ONU estima que pelo menos 5 mil pessoas já tenham morrido na Síria.

O menino Hassan Saad, 13 anos, que abandonou Idlib, na Síria, faz o sinal da vitória enquanto caminha no campo de refugiados em Yayladagi, na fronteira entre a Turquia e a Síria. Hassan diz o que o seu pais foi morto por forças pró-Assad há cinco meses
O menino Hassan Saad, 13 anos, que abandonou Idlib, na Síria, faz o sinal da vitória enquanto caminha no campo de refugiados em Yayladagi, na fronteira entre a Turquia e a Síria. Hassan diz o que o seu pais foi morto por forças pró-Assad há cinco meses
Foto: Reuters
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