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Oriente Médio

Soldado rebelde vira fotógrafo e registra cotidiano da guerra em Damasco

Enquanto luta contra as forças de Assad, o estudante Adel Barakat, 22 anos, fotografa seus companheiros do ELS e o cotidiano da Síria em guerra

6 abr 2013 - 19h47
(atualizado em 9/9/2013 às 14h26)
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Um jovem rebelde sírio alterna seu cotidiano entre combater as tropas do governo do presidente Bashar al-Assad e fotografar os confrontos nos subúrbios de Damasco, a capital da Síria. Em entrevista ao Terra, Adel Barakat, 22 anos, disse que entrou para o Exército Livre da Síria (ELS) em setembro do ano passado. Há dois meses, começou a fotografar seus companheiros.

"Sempre tive uma paixão pela fotografia, já era um hobby há muito tempo. Achei que seria importante registrar o dia a dia dos meus companheiros. Como já tinha um equipamento profissional, não pensei duas vezes", contou ele.

Em suas fotos, Barakat mostra fotos diversas, de soldados posando com suas armas a momentos de lazer e descanso, como um grupo de rebeldes fumando a típica narguilé. Ele conta que sua rotina militar começa cedo, mas sempre leva a máquina fotográfica junto para registrar momentos seus e do grupo.

Barakat (primeiro à esquerda) e companheiros rebeldes em bairro de Damasco, fumando a tradicional narguile
Barakat (primeiro à esquerda) e companheiros rebeldes em bairro de Damasco, fumando a tradicional narguile
Foto: Adel Barakat / Divulgação

"Muitos de nós sofrem com a pressão da guerra, ainda mais por estarmos nos arredores de Damasco, onde há uma presença expressiva de tropas do governo. Fotografar e registrar os momentos simples nossos é uma forma de todos relaxarem", explicou ele.

Barakat contou que antes da guerra era estudante universitário, cursava comércio exterior embora adorasse fotografia. Com seu emprego de meio turno em um escritório contábil, juntou dinheiro e comprou uma máquina fotográfica. 

Seu sonho, segundo ele, era fotografar paisagens, começando com as belezas naturais do seu país, nunca imaginando que acabaria se tornando uma espécie de fotógrafo de guerra. “Destruição é difícil de registrar, porque é o meu próprio país, minha própria cidade e bairro, meus amigos e conhecidos em meio a tanto sofrimento”, disse ele.

A guerra civil na Síria já dura dois anos e os confrontos entre tropas rebeldes do ELS e as forças leais ao presidente Bashar al-Assad já deixaram mais de 70 mil mortos, segundo as Nações Unidas.

Mas de acordo com o Observatório Sírio para Direitos Humanos, um grupo de ativistas baseado no Reino Unido, e que monitora a violação de direitos humanos nos dois lados do conflito através de uma rede de contatos dentro da Síria, os mortos já chegariam a 120 mil. 

Ainda segundo a entidade, o último mês de março foi o mais violento, com um recorde de 6.005 mortes –, que incluiria 291 mulheres, 298 crianças, 1.486 rebeldes e desertores do exército, além de 1.464 soldados do governo. O restante das vítimas seria formado por civis e rebeldes não identificados.

Cemitério no parque

Para Barakat, os números incluem as pessoas que morreram em seu bairro, amigos ou ex-colegas de escola. "Já perdi companheiros de ELS, mas também amigos pessoais". Mas foi a morte de um conhecido, rebelde como ele, que o afetou profundamente.

Companheiro rebelde tira a foto de Barakat, que lamenta a morte de amigo, sem perceber que sua mão ainda estava suja com o sangue
Companheiro rebelde tira a foto de Barakat, que lamenta a morte de amigo, sem perceber que sua mão ainda estava suja com o sangue
Foto: Adel Barakat / Divulgação

"Estávamos em combate contra um grupo de soldados do governo. Nosso grupo era formado por seis guerrilheiros, incluindo eu. Mohamed estava na esquina, se protegendo atrás de um muro. Nós disparávamos contra a posição do inimigo. Foi quando Mohamed levou um tiro no pescoço", descreveu Barakat.

O jovem disse que Mohamed foi levado para um beco, onde os outros tentaram prestar socorro médico, enquanto Barakat colocou uma das mãos no ferimento que não parava de sangrar. "Mas não havia o que fazer, ele já estava morto. Decidi acender um cigarro para amenizar o nervosismo. Foi quando outro rebelde pegou minha câmera e me fotografou. E vendo a foto depois, percebi que minha mão ainda estava ensanguentada".

Barakat explicou que quando há vítimas dos confrontos ou bombardeios das forças governamentais, nem sempre é possível enterrar os mortos em cemitérios. Para isso, outros locais são improvisados, em geral parques e áreas verdes próximos. 

"Locais que deveriam ser para o lazer acabaram virando cemitérios, locais de tristeza". Barakat contou que ainda sonha em fotografar a Síria após o fim da guerra. "Esse conflito terminará de qualquer forma, chegaremos ao nosso objetivo que é derrubar o regime. E um dia percorrerei meu país, fotografando as paisagens".

Segundo Barakat, vários parques da cidade, locais de alegria e lazer, agora foram transformados em cemitérios improvisados
Segundo Barakat, vários parques da cidade, locais de alegria e lazer, agora foram transformados em cemitérios improvisados
Foto: Adel Barakat / Divulgação
Fonte: Especial para Terra
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