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Oriente Médio

Sob ataque, ONU investiga uso de armas químicas na Síria

26 ago 2013 - 13h28
(atualizado às 13h32)
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Os inspetores da ONU encarregados de investigar o suposto uso de armas químicas na Síria visitaram nesta segunda-feira o local de um dos supostos ataques com armas químicas nas proximidades de Damasco, apesar de o comboio ter sido atacado por atiradores.

Segundo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, seus inspetores recolheram testemunhos de vítimas do susposto ataque.

Depois de terem tido seu comboio alvejado por franco-atiradores, os investigadores da ONU conseguiram visitar Moadamiyat al-Sham, localidade a sudoeste de Damasco controlada por rebeldes e cenário na quarta-feira de um suposto ataque com armas químicas cometido pelo regime, segundo os rebeldes.

A equipe visitou o "centro do Crescente Vermelho, onde conversou com médicos" e com "pessoas atingidas", declarou à AFP via Skype Abou Nadim, um militante da província de Damasco.

A ONU enviou um "firme protesto" às autoridades sírias e à oposição pelos disparos contra o comboio, indicou Ban em um mensagem difundida pela rede de televisão da ONU.

"Apesar das circunstâncias muito perigosas para os especialistas, eles puderam visitar dois hospitais, conversaram com sobreviventes e médicos e também recolheram amostras".

Os investigadores precisaram, em um primeiro momento, voltar depois de terem sido alvejados "deliberadamente por atiradores emboscados não identificados", indicou um porta-voz da ONU em um comunicado.

No final da tarde, eles retornaram ao hotel onde estão hospedados, em Damasco.

O regime sírio e a oposição trocaram acusações sobre a autoria dos disparos.

--- Preparativos para possível intervenção ---

Em resposta às acusações sobre o uso de armas químicas, o presidente sírio, Bashar al-Assad, chamou de "insensato" culpar seu regime e advertiu o governo dos Estados Unidos que os projetos de intervenção militar na Síria estão "condenados ao fracasso".

"As ameaças ocidentais de um ataque contra a Síria estão dentro das pressões psicológicas e políticas à Síria, mas, em qualquer caso, estamos dispostos a fazer frente a todos os cenários", afirmou a fonte, que não quis ser identificado.

Essas declarações foram feitas em meio à discussões sobre uma possível ação militar estrangeira no país.

O chefe da diplomacia britânica, William Hague, disse nesta segunda-feira que é "possível" responder ao uso de armas químicas, mesmo sem o consentimento do Conselho de Segurança da ONU.

Reiterando sua convicção de que o regime utilizou armas químicas em 21 de agosto, ele considerou que uma intervenção seria possível por questões "humanitárias".

O secretário da Defesa americano, Chuck Hagel, indicou que as forças americanas estavam prontas para agir contra o regime sírio, se necessário.

"Há fortes indícios no sentido do uso de armas químicas pelo regime sírio", afirmou uma fonte americana que acompanha o secretário da Defesa.

Outro alto funcionário americano afirmou à AFP que a autorização de Damasco para investigar -quatro dias após o suposto ataque- chegou "muito tarde para ser crível, principalmente porque as provas disponíveis foram em grande parte alteradas pelos bombardeios contínuos realizados pelo regime".

Até o momento, a Casa Branca nega as informações do jornal britânico Telegraph segundo as quais Washington e Londres se preparam para lançar uma ação militar conjunta "nos próximos dias".

Para o chefe da diplomacia francesa Laurent Fabius, a reação ocidental "será decidida nos próximos dias", enquanto a Turquia se disse pronta a colaborar com uma coalizão contra a Síria, mesmo sem o consenso da ONU.

Segundo especialistas, os países ocidentais podem decidir punir Damasco realizando uma breve operação de ataques cirúrgicos contra os interesses estratégicos, sem se envolver em uma intervenção de longo prazo.

Mas a Rússia, poderoso aliado do regime, advertiu para uma intervenção militar na Síria sem aval do Conselho de Seg urança da ONU.

"Estou preocupado com as declarações de Paris e Londres de que a Otan pode intervir para destruir armas químicas na Síria sem autorização do Conselho de Segurança da ONU. É um terreno escorregadio e perigoso", declarou Serguei Lavrov, chefe da diplomacia russa, durante uma coletiva de imprensa.

"Os ocidentais não podem fornecer provas, mas dizem que a 'linha vermelha' foi cruzada e que não podemos mais esperar", acusou Lavrov aos jornalistas, acrescentando que o Ocidente se dirige para "um caminho muito perigoso".

Outro aliado do regime sírio, o Irã considerou nesta segunda-feira ser perigoso falar sobre a possibilidade de uma intervenção militar na Síria.

"A região precisa de paz, falar de um ataque militar contra a Síria, e ainda sem a autorização do Conselho de Segurança (da ONU), é muito perigoso e pode criar tensões", declarou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Araqchi, citado pela agência de notícias ISNA.

A China pediu prudência para evitar a ingerência na Síria, enquanto a Alemanha ressaltou que aprovará uma eventual ação da comunidade internacional se for confirmado o uso das armas químicas.

Nesta segunda, líderes militares de países ocidentais e muçulmanos devem iniciar uma reunião de dois dias na Jordânia para discutir "cenários" possíveis após os "perigosos acontecimentos" na Síria, segundo Amã.

Participará desta reunião, entre outros, o chefe de Estado-maior americano, o general Martin Dempsey.

No terreno, os rebeldes marcaram pontos nesta segunda ao cortar a única estrada de abastecimento do Exército para a província de Aleppo, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

Os bombardeios do regime sobre Ghouta Oriental mataram seis pessoas, incluindo duas crianças, segundo esta ONG que se baseia em uma ampla rede de militantes e fontes médicas.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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