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Oriente Médio

Snowden quer ficar em Hong Kong e promete novas revelações

12 jun 2013 - 18h55
(atualizado às 18h57)
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O americano Edward Snowden, que revelou um vasto programa secreto de vigilância eletrônica pela internet nos Estados Unidos, prometeu novos vazamentos e expressou seu desejo de permanecer em Hong Kong e de resistir a qualquer tentativa de extradição ao seu país, indicou nesta quarta-feira um jornal desta zona administrativa chinesa.

"Não sou um herói nem um traidor. Sou um americano", declarou Snowden em uma entrevista que teve um trecho divulgado pelo South China Morning Post (SCMP).

Neste trecho, divulgado on-line antes da publicação da entrevista completa, o ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), de 29 anos, mostra-se decidido a revelar "outros detalhes explosivos" sobre os alvos dos programas de vigilância americanos.

Snowden também fala de seu medo em relação à segurança de sua família e de seus planos imediatos, indicou o jornal, depois de entrevistar hoje esse ex-agente da CIA em um local secreto no território semi-autônomo chinês.

"As pessoas que pensam que cometi um erro ao escolher Hong Kong se equivocam sobre minhas intenções. Não estou aqui para fugir da Justiça, estou aqui para denunciar a criminalidade", acrescentou, segundo o jornal de língua inglesa.

Snowden prometeu lutar contra qualquer tentativa de extradição realizada pelo governo americano, indicou ele ao jornal, depois de chegar a Hong Kong no dia 20 de maio e vazar uma operação global de espionagem efetuada pela NSA para os jornais The Guardian e The Washington Post.

"Minha intenção é pedir que os tribunais e o povo de Hong Kong decidam meu destino. Não tenho razão alguma para duvidar do seu sistema", declarou o ex-agente ao SCMP.

Muitos congressistas em Washington estão em pé de guerra depois que Snowden vazou a operação de monitoramento de tráfego na web e de registros telefônicos de usuários privados, em um esquema que, segundo a Casa Branca, é necessário para manter os americanos a salvo do terror.

Investigações criminais estão em andamento, mas até o momento os Estados Unidos não entraram com um pedido formal de extradição para Hong Kong, ex-colônia britânica que manteve o seu sistema legal separado mesmo depois de seu retorno ao domínio chinês, em 1997.

Em última análise, Pequim mantém o controle sobre a Defesa e as Relações Exteriores - e pode vetar decisões de extradição tomadas por tribunais de Hong Kong.

A imprensa de Hong Kong afirmou que Snowden buscava a representação de advogados proeminentes com experiência em direitos humanos e em casos de asilo.

Ele ganhou o apoio do movimento pró-democracia da cidade, que marcou uma manifestação para o próximo sábado. Os organizadores do protesto afirmaram que os manifestantes se dirigirão primeiro ao consulado dos Estados Unidos e, em seguida, à sede do governo.

"Temos de protegê-lo. Estamos pedindo que o governo de Hong Kong defenda a liberdade de expressão", disse Tom Grundy, um porta-voz dos organizadores, à AFP nesta quarta-feira.

"Não sabemos quais leis ele pode ou não ter quebrado, mas, se Pequim tem a palavra final, eles não precisam extraditá-lo se ele for um dissidente político", afirmou.

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, aconselhou Snowden a se refugiar na Rússia, ou na América do Sul, em entrevista à RT (emissora Russia Today, de língua inglesa).

Ao ser questionado sobre a declaração do porta-voz do presidente Vladimir Putin, segundo o qual a Rússia estaria pronta para estudar um eventual pedido de asilo de Snowden, Assange respondeu: "seria bom examinar essa proposta, ou encontrar uma oferta similar na América do Sul".

Snowden está "em uma situação difícil em Hong Kong", acrescentou Assange, sugerindo que a China pode aceitar extraditá-lo para os EUA, se houver um pedido nesse sentido.

A entrevista foi concedida da embaixada equatoriana em Londres, onde Assange vive há mais de um ano.

A batalha prolongada que se anuncia sobre o destino de Snowden ameaça complicar a tentativa de aproximação entre China e Estados Unidos, após o encontro na Califórnia no último fim de semana entre Barack Obama e o líder chinês, Xi Jinping. A União Europeia já manifestou preocupação pela magnitude da operação coordenada pela NSA.

O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, afirmou na terça-feira que Obama havia assinado uma ordem executiva, exigindo proteção para os denunciantes da comunidade de inteligência que utilizarem canais "apropriados" - o que não inclui vazamentos para jornais, o caso de Snowden - com o objetivo de denunciar supostas irregularidades.

Mas Carney rejeitou todas as perguntas sobre Snowden e se recusou a falar de suas ações enquanto as investigações estiverem em andamento. No Capitólio, no entanto, a linguagem era mais direta.

O chefe da maioria republicana da Câmara dos Representantes, John Boehner, descreveu os vazamentos de Snowden como uma violação "gigante" da lei.

"Ele é um traidor", disse Boehner à rede ABC News em uma entrevista. "A divulgação dessa informação coloca os americanos em risco. Ela mostra aos nossos adversários quais são as nossas capacidades", disse.

Em uma audiência no Senado nesta quarta, o chefe da NSA, o general Keith Alexander, defendeu os programas de vigilância nos Estados Unidos, alegando que "ajudaram a evitar dezenas de eventos terroristas".

Os ataques que foram evitados incluem "dúzias, tanto internos, quanto no exterior", completou Alexander, ressaltando que sua agência operou "sob diretrizes rígidas e com um dos regimes de supervisão mais rigorosos no governo americano".

Esta foi sua primeira audiência pública desde que a existência desses programas veio à tona.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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