Sírios devem decidir o futuro de Assad, diz ministro russo
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, afirmou nesta quarta-feira, durante uma entrevista coletiva em Moscou, que os sírios devem decidir eles mesmos o futuro do presidente Bashar al-Assad, ao mesmo tempo que lamentou a decisão dos países que convocaram seus embaixadores em Damasco para consultas.
Segundo o chanceler, chamar os embaixadores na Síria para consultas não facilita a tarefa da Liga Árabe. Ao ser questionado se havia abordado com o presidente Assad uma eventual saída do poder, Lavrov destacou que "qualquer conclusão do diálogo nacional deve ser o resultado de um acordo entre os próprios sírios, aceitável para todos os sírios".
"Apoiamos qualquer iniciativa que pretenda criar as condições para um diálogo entre os sírios", destacou Lavrov. "É o que a comunidade internacional deve fazer, seja o mundo árabe, a Europa, os Estados Unidos e outras regiões do mundo", completou o chanceler russo. "Tentar determinar de antemão o resultado do diálogo nacional não corresponde à comunidade internacional", destacou o ministro.
Serguei Lavrov, que na terça-feira visitou a Síria e se reuniu com Assad, afirmou em Damasco que teve uma reunião "muito útil" com o presidente sírio, que prometeu "fazer cessar a violência". No sábado, Rússia e China vetaram um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU, apresentado pelos ocidentais e pelos países árabes, que condenava a repressão na Síria. O veto provocou indignação entre os países ocidentais e vários países árabes. A oposição síria afirmou que o veto era uma "licença para matar" concedida ao regime.
Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente
Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.
A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.
Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores - já organizados e dispondo de um exército composto por desertores das forças de Assad -, sem surtir efeito. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, o as forças de Assad investiram contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. A ONU estima que pelo menos 5 mil pessoas já tenham morrido na Síria.