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Oriente Médio

Síria: funeral em Deraa reúne 20 mil manifestantes

24 mar 2011 - 09h00
(atualizado às 15h21)
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Cerca de 20.000 pessoas participaram nesta quinta-feira na cidade de Deraa, no sul da Síria, dos funerais das mais de 100 vítimas das forças de segurança, enquanto fontes oficiais anunciavam em Damasco "decisões importantes" para responder às aspirações do povo. Os manifestantes saíram da mesquta Al Omari em direção ao cemitério, gritando slogans em homenagem aos mártires de quarta-feira.

"Há certamente mais de 100 mortos, e a cidade precisa de uma semana para enterrá-los", afirmou Auman al Asuad, ativista dos direitos humanos sírio, em entrevista por telefone à AFP. As forças de segurança prenderam centenas de pessoas em Deraa, epicentro do nascente movimento de protesto contra o regime do Partido Baath, submetido à violenta repressão da polícia há vários dias. "A quantidade de pessoas presas é enorme", indicou al Asuad.

O governador de Deraa, Faysal Kalthum, foi destituído na quarta-feira por decreto direto do presidente Bashar al Assad, que desde o começo das manifestações mantém silêncio. Nesta quinta-feira, entretanto, as autoridades anunciaram "decisões importantes" para responder às aspirações do povo sírio. "A Síria tomará decisões importantes para responder às aspirações do povo, e o povo participará de todas as decisões que serão tomadas", declarou Busaina Chaabane, assessora do presidente Al Assad.

Na quarta, as autoridades sírias atribuíram os distúrbios a "uma quadrilha armada", acusando os manifestantes de terem matado quatro pessoas e de "armazenar armas na mesquita" Al Omari, ponto de concentração dos protestos. O governo afirmou ainda que mensagens SMS, a maioria enviadas de Israel, estavam incitando os sírios a provocar os distúrbios.

O movimento de protesto na Síria começou de fato no dia 15 de março, com um chamado lançado numa página do Facebook entitulada "A revolução síria contra Bashar Al Assad 2011". O site que convocou os protestos voltou a pedir aos sírios que se manifestem na sexta-feira por todo o país. "Chamamos o povo sírio a protestar e a anunciar sua rejeição à injustiça e à repressão em Deraa e em toda a Síria", diz a página. "Seguiremos com nossas manifestações pacíficas até que nossos objetivos de liberdade e dignidade se realizem".

Ao mesmo tempo, ONGs internacionais e sírias denunciaram uma onda de prisões. Entre os detidos estariam o blogueiro Ahmad Hanifa e o jornalista Mazen Darouiche. A Anistia Internacional divulgou uma lista de 93 pessoas detidas em março por todo o país, indicando que "o número real de pessoas presas é provavelmente muito mais alto". Os presos teriam entre 14 e 45 anos de idade, e seriam principalmente estudantes, intelectuais, jornalistas e ativistas.

Nesta quinta-feira, as ruas de Deraa estavam desertas, segundo uma testemunha que também falou à AFP por telefone. "Nossa cidade é muito animada, mas hoje as ruas estão vazias", indicou Amal, moradora da cidade, que fica na fronteira com a Jordânia. "As escolas estão fechadas e a maioria das lojas também. Deraa parece uma cidade fantasma", acrescentou.

O Partido Baath, do presidente Bashar Al Assad, está no poder há mais de 40 anos. Bashar Al Assad assumiu a presidência em julho de 2000, depois da morte de seu pai, Hafez Al Assad, que governou a Síria durante três décadas.

Protestos irradiam por norte africano e península arábica

No dia 16 de dezembro de 2010, em ato de protesto contra o governo, um jovem desempregado morreu após imolar-se em público na capital da Tunísia. Poucas semanas depois, uma onda de protestos por melhores condições varreu o país, culminando na deposição do presidente Ben Ali. Em fevereiro, o mesmo sentimento popular tomou corpo no Egito, onde a população manteve protestos massivos até a renúncia de Hosni Mubarak.

Estes feitos irradiaram pelo norte africano e pela península arábica. Na Líbia, protestos desembocaram em uma violenta guerra civil entre rebeldes e forças de Muammar Kadafi, situação que levou a comunidade internacional a intervir no país. Mais recentemente, Iêmen e Síria vêm vivendo protestos de maior vulto. Argélia, Bahrein, Jordânia, Marrocos e Omã também vêm sendo palco de contestação política.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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