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Oriente Médio

Síria aceita plano para encerrar violência, diz Annan

27 mar 2012 - 07h31
(atualizado em 26/5/2012 às 15h48)
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A Síria aceitou um cessar-fogo e um plano de paz preparado pelo enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, disse um porta-voz dele nesta terça-feira, enquanto tropas sírias adentraram no Líbano atrás de rebeldes que se refugiaram no país. Annan admitiu que terá uma "longa e difícil tarefa" para acabar com a luta, enquanto grupos rebeldes reunidos na Turquia discutiram como se unificar e receber mais ajuda estrangeira, após um ano de revolta contra o presidente Bashar al-Assad.

Kofi Annan, enviado da ONU e da Liga Árabe à Síria, chega à sede do governo chinês para reunião com o premiê
Kofi Annan, enviado da ONU e da Liga Árabe à Síria, chega à sede do governo chinês para reunião com o premiê
Foto: AP

Luta por liberdade revoluciona norte africano e península arábica

Em visita a Pequim, Annan disse ao primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, que a cooperação global envolvendo a China e outros países é a única forma de resolver o conflito, cujas dimensões sectárias geram temores de desestabilização em todo o Oriente Médio. "Indico que recebi uma resposta do governo sírio e a tornarei pública hoje (terça-feira), a qual é positiva, e esperamos trabalhar com eles para traduzir isso em ação", disse Annan a jornalistas após reunião com Wen.

Um porta-voz de Annan depois confirmou que Damasco aceitou o plano de seis itens, que segundo Annan abrange "discussões políticas, a retirada de armas pesadas e tropas de áreas populacionais, assistência humanitária sendo autorizada de forma desimpedida, libertação de prisioneiros, liberdade de movimentos e acesso para jornalistas entrarem e saírem". Annan disse contar com pleno apoio da China, que em duas ocasiões já vetou resoluções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas sobre a questão da Síria por temer que isso abra caminho para uma intervenção militar.

Antes de ir à China, Annan, ex-secretário-geral da ONU, esteve na Rússia, outro país que usou seu poder de veto para impedir ações do Conselho de Segurança contra a aliada Síria. Pequim e Moscou aceitaram o plano de Annan porque, ao contrário de propostas anteriores que tramitaram no conselho, ele não prevê a renúncia imediata de Assad. Mas, num sinal das dificuldades para a implementação do acordo, as forças de Assad avançaram no norte do Líbano, destruindo construções rurais e entrando em confronto com rebeldes sírios entrincheirados no local, segundo moradores.

Testemunhas disseram que o território libanês foi invadido em algumas centenas de metros. Uma fonte de segurança em Beirute admitiu ter havido confrontos perto da mal demarcada fronteira comum, mas não confirmou se houve incursão das tropas sírias Líbano. Na semana passada, foguetes disparados da Síria atingiram o Líbano, e moradores dizem que há meses soldados libaneses cruzam rapidamente a fronteira perseguindo rebeldes.

"Mais de 35 soldados sírios cruzaram a fronteira e começaram a destruir casas", disse Abu Ahmed, de 63 anos, que vive na comunidade libanesa de al-Qaa, na montanhosa região da fronteira. Outro morador disse que os soldados, alguns dos quais se deslocando em blindados, dispararam granadas de propulsão e trocaram tiros de metralhadoras com os rebeldes. Ele disse que os soldados destruíram uma casa com uma escavadeira.

O Exército libanês bloqueou a área, onde centenas de sírios, alguns dos quais são membros ativos do Exército Sírio Livre, uma força rebelde, se refugiaram no último ano. Moradores disseram que os soldados sírios continuam no lado libanês, a cerca de 200 a 500 metros da fronteira.

Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente

Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.

A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.

Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores, sem surtir grandes efeitos. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, as forças de Assad iniciaram uma investida contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. Uma ONG ligada à oposição estima que pelo menos 9 mil pessoas já tenham morrido, número superior aos 8 mil calculados pela ONU.

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