PUBLICIDADE

Oriente Médio

Saiba mais sobre o possível envenamento de Arafat

7 nov 2013 - 09h30
(atualizado às 09h30)
Compartilhar
Exibir comentários

Cientistas na Suíça que examinaram amostras do corpo do líder palestino Yasser Arafat disseram que ele pode ter sido morto envenenado pela substância radioativa polônio-210.

Um relatório, divulgado pela rede Al-Jazeera, afirma que níveis altíssimos da substância foram detectados em seus ossos. O corpo de Arafat foi exumado em novembro de 2012, nove anos após ele ter morrido, vítima de uma doença repentina.

Como Arafat morreu?

Em 2005, o jornal New York Times obteve uma cópia do registro médico de Arafat. Quem passou o documento foram dois jornalistas israelenses, que o conseguiram com um alto funcionário do governo palestino.

De acordo com o histórico, os primeiros sintomas do adoecimento de Arafat apareceram quatro horas após o jantar da noite de 12 de outubro de 2004, na sede presidencial em Ramallah, na Cisjordânia.

Autoridades israelenses vinham mantendo o líder palestino isolado nesse local havia três anos; eles acusavam Arafat de patrocinar uma onda de ataques mortais de militantes palestinos.

Durante as duas semanas seguintes, Arafat enfrentou vômitos, dores abdominais e diarreias, mas não teve febre. Ele ficou inconsciente algumas vezes e perdeu 3 quilos. Ele foi examinado por médicos palestinos, egípcios, jordanianos e tunisianos, e recebeu tratamento para gripe e trombocitopenia (redução do número de plaquetas no sangue).

Os registros mostram ainda que o líder palestino só recebeu antibióticos no dia 27 de outubro, 15 dias após o início da doença. Dois dias depois, ele foi levado de helicóptero para a Jordânia e, em seguida, para o Hospital Militar Percy, próximo a Paris.

Só quando chegou à França é que ele foi diagnosticado com uma grave disfunção no sangue - uma coagulação intravascular disseminada (CID) -, que os médicos franceses não conseguiram controlar e que o levaram à morte.

Por um curto período, Arafat chegou a melhorar no hospital francês, mas em seguida (em 3 de novembro), ele entrou em coma e foi levado para a UTI.

No dia 8, ele teve um grave derrame hemorrágico e morreu três dias depois.

Por que muitos acreditam que ele foi envenenado?

Vários membros do alto escalão da Autoridade Palestina acusam Israel de ter envenenado Arafat. O primeiro-ministro israelense na época, Ariel Sharon, via o palestino como um terrorista e um obstáculo para a paz.

Em uma entrevista, Sharon chegou a dizer que se arrependia de não ter "eliminado" Arafat durante a invasão do Líbano em 1982.

Mas ele também disse que Israel tinha se "comprometido" a não machucar Arafat. O país desde sempre negou envolvimento com a morte.

O que seus registros médicos dizem?

Apesar de vários exames, médicos franceses nunca descobriram a causa da infecção que levou ao quadro de coagulação intravascular disseminada (CID), segundo os laudos aos quais o jornal The New York Times teve acesso.

Biópsias nunca identificaram algum agente infeccioso ou de câncer. Testes de sangue, urina, fezes e da medula óssea feitos em um laboratório na Tunísia também não indicaram nada.

Não houve necrópsia porque a mulher de Arafat não autorizou.

Especialistas independentes de Israel e dos Estados Unidos que tiveram acesso aos laudos disseram que a tese de envenenamento era pouco provável. Não houve grandes lesões nos rins e no fígado como aconteceria em um caso desses, embora ele tenha sofrido icterícia.

O que levou à exumação?

Em julho de 2012, a TV Al-Jazeera transmitiu um documentário resultante de nove meses de investigação para tentar descobrir a causa mortis de Arafat.

O programa mostrou que cientistas do Instituto de Física Radioativa da Universidade de Lausanne, na Suíça, tinham encontrado traços "significativos" de um material altamente tóxico e radioativo nos pertences de Arafat entregues à sua esposa.

Francois Bochud, chefe da pesquisa, disse que os exames mostravam um "elevado e inexplicado montante de polonium-210". Em alguns casos, a quantia foi dez vezes acima do encontrado em ambiente controlado, e que o polônio não poderia ter vindo de fontes naturais.

Para confirmar se houve ou não envenenamento, a viúva de Arafat deu permissão para a exumação, que contou com o apoio da Autoridade Palestina. O trabalho ficou a cargo de equipes de investigadores franceses, suíços, russos e palestinos.

O que os cientistas encontraram?

Na quarta-feira, a Al-Jazeera mostrou os resultados da equipe suíça, da Universidade de Vaudois, em Lausanne.

"Novos exames toxicológicos e radiotoxicológicos foram feitos, mostrando um nível inesperadamente alto de polônio-210", diz o relatório, acrescentando que foram analisados amostras da pélvis, das costelas e de fluidos corporais de Arafat, assim como da terra do túmulo.

O relatório aponta problemas enfrentados pelos pesquisadores, como a falta de amostras biológicas adequadas, já que as colhidas durante a hospitalização de Arafat foram destruídas. Também citam a pequena quantia de amostras e o tempo decorrente da morte, o que contribuiu para resultados pouco acurados.

O documento conclui, no entanto, que os resultados "apoiam em certo ponto a hipótese de que a morte foi consequência de envenenamento com polônio-210".

O médico forense britânico David Barclay disse que "o relatório contém evidências fortes de que há no corpo de Arafat pelo menos 18 vezes o nível de polônio que deveria existir".

O diretor dos investigadores palestinos, Tawfiq Tirawi, confirmou na quarta-feira que os relatórios produzidos por sua equipe e pela dos russos já haviam sido entregues.

No mês passado, o diretor da agência federal russa de Médico-Biologia, Vladimir Uiba, disse à agência de notícias russa Interfax que Arafat "não teria morrido envenenado com polônio", acrescentando que os testes realizados pelos russos "não encontraram traços da substância".

No entanto, posteriormente, a agência negou que Uiba tenha dado declarações oficiais sobre o assunto.

O que é o polônio-210?

Trata-se de um material radioativo encontrado na natureza que emite perigosas partículas alfa. A substância, batizada inicialmente de rádio F, foi descoberta por Marie Curie no século 19.

Há pequenas quantidades de polônio-210 no solo e na atmosfera. Todo ser humano também tem uma quantia no corpo. Em altas doses, pode danificar os tecidos e os órgãos.

O polônio-210 não pode ser transmitido por meio da pele. É preciso ingeri-lo ou inalá-lo.

Embora o polônio-210 seja encontrado na natureza, é preciso tecnologia e acesso a um reator nuclear para conseguir extrair a quantidade necessária para matar uma pessoa. Ou, pode-se conseguir com um fornecedor.

Em 2006, o ex-espião russo Alexander Litvinenko morreu em Londres envenenado com a substância. A polícia britânica acusou o também ex-agente da KGB Andrei Lugovoi de ter envenenado Litvinenko com um chá ingerido pela vítima.

Apesar das evidências, muitos especialistas são céticos quanto ao envenenamento de Arafat.

Darcy Christen, porta-voz do Instituto de Física Radioativa, que fez os primeiros testes para a Al-Jazeera em 2012, disse em julho à agência Reuters que os sintomas clínicos de Arafat não eram consistentes com esse tipo de envenenamento.

BBC News Brasil BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Compartilhar
Publicidade
Publicidade