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Oriente Médio

Rússia estuda enviar capacetes azuis da ONU à Síria

13 fev 2012 - 09h20
(atualizado às 11h25)
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A Rússia estuda a proposta da Liga Árabe de mobilizar uma força conjunta das Nações Unidas e dos países árabes na Síria, mas considera que antes é necessário um cessar-fogo, declarou nesta segunda-feira em Moscou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.

"Estudamos esta iniciativa e esperamos que nossos amigos nos países árabes esclareçam alguns pontos. Para mobilizar uma força de paz, é necessária a autorização da parte que a recebe. Precisa-se de algo que se pareça com um cessar-fogo", disse Lavrov.

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No entanto, considerou que será um objetivo difícil de ser cumprido porque "os grupos armados que combatem o regime sírio não obedecem a ninguém e não são controlados por ninguém". A oposição síria, por sua vez, considera impossível iniciar negociações até que o presidente Bashar al-Assad abandone o poder.

Lavrov, que na semana passada viajou à Síria, convocou nesta segunda-feira novamente os opositores a iniciar negociações e lembrou que o regime havia proposto realizar negociações com o vice-presidente, Faruk al-Chareh. "Deveria utilizar esta oportunidade e lançar um diálogo com o vice-presidente. Agora é a oposição quem tem a palavra", considerou o ministro russo.

A Liga Árabe aprovou no domingo uma resolução que pede ao Conselho de Segurança da ONU que autorize uma missão de paz na Síria. A proposta intensifica a pressão diplomática sobre Rússia e China, que sofreram duras críticas do Ocidente por bloquearem um texto de resolução da ONU que previa, entre outros itens, que o presidente sírio, Bashar al-Assad, se afastasse do poder.

Também nesta segunda-feira, a China indicou que apoia uma solução que passe pelo "diálogo", mas não se pronunciou sobre a proposta da Liga Árabe. "A China apoia e convoca a Liga Árabe a seguir com seus esforços de mediação política", declarou o porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Liu Weimin.

"A ação da ONU deve permitir reduzir as tensões na Síria e favorecer o diálogo político para solucionar o conflito", acrescentou. "A China apoiará as ações da comunidade internacional que são compatíveis com as propostas da China", concluiu.

"Acreditamos que as Nações Unidas deveriam oferecer uma assistência construtiva com base na Carta da ONU e nas normas das relações internacionais", disse Liu Weimin.

O envio de forças de paz à Síria exigiria um consenso das principais potências mundiais, que por enquanto estão divididas sobre como resolver uma crise que cada vez mais ganha contornos de guerra civil.

A Rússia é, junto com a China, o principal apoio do regime a Assad. Ambos bloquearam em duas ocasiões resoluções do Conselho de Segurança da ONU de condenação da repressão na Síria, que ocorre há quase um ano. Consideram que os textos devem reconhecer a parte de responsabilidade da oposição na violência.

Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente

Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.

A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.

Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores - já organizados e dispondo de um exército composto por desertores das forças de Assad -, sem surtir efeito. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, o as forças de Assad investiram contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. A ONU estima que pelo menos 5 mil pessoas já tenham morrido na Síria.

Lavrov recebeu nesta segunda, em Moscou, o chancer dos Emirados Árabes Unidos, Abdallah bin Zayid al-Nuhayyan
Lavrov recebeu nesta segunda, em Moscou, o chancer dos Emirados Árabes Unidos, Abdallah bin Zayid al-Nuhayyan
Foto: AFP
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