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Oriente Médio

Rohani, um religioso moderado favorável ao diálogo com o Ocidente

3 ago 2013 - 15h07
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Azarão das eleições presidenciais iranianas de 14 de junho, o moderado Hassan Rohani, um clérigo de 64 anos, toma posse neste sábado disposto a dialogar com o Ocidente.

Eleito com 50,68% dos votos, o então candidato Rohani não era visto como um nome muito forte para vencer a corrida eleitoral. Mas as circunstâncias políticas favoreceram o novo presidente do Irã, com o setor conservador dividido e a mobilização dos eleitorados moderado e reformista - órfãos após a saída de Mohammad Reza Aref da disputa.

Durante a campanha eleitoral e após sua eleição, Rohani tem falado numa maior flexibilidade nas relações com o Ocidente, a fim de acabar com as sanções que mergulharam o país numa grave crise econômica.

Com sua barba grisalha e turbante branco na cabeça, Rohani é ligado ao ex-presidente moderado Akbar Hachemi Rafsandjani que, assim como seu colega reformista Mohammad Khatami, fez campanha para ele.

Em alguns dias esta "união sagrada" mobilizou grande parte do eleitorado moderado que queria boicotar a votação após os episódios violentos de repressão às manifestações durante a eleição presidencial de 2009.

Rohani foi vice-presidente do Parlamento e chefe dos negociadores nucleares entre 2003 e 2005. Foi neste período que ele ganhou o apelido de "xeque diplomata".

Em 2003, durante negociações com Paris, Londres e Berlim, ele aceitou a suspensão do enriquecimento de urânio pelo Irã e a aplicação do protocolo adicional ao Tratado de Não-Proliferação (TNP), que permite inspeções neutras nas instalações nucleares iranianas.

Esta decisão garantiu ao "diplomata" o respeito do Ocidente, mas a ala conservadora da política iraniana o acusou de ter "caído no charme da gravata e do perfume de Jack Straw", então ministro britânico das Relações Exteriores.

Pouco depois da sua eleição, Rohani disse ser partidário de uma "relação construtiva" pela suspensão das sanções ocidentais que visam obrigar o Irã a ceder em seu controverso programa nuclear.

"A moderação na política externa não significa nem redenção nem briga. Ela significa uma relação construtiva com o mundo", disse Rohani. Ele rejeitou, contudo, qualquer suspensão de enriquecimento de urânio, fonte que preocupações dos ocidentais e de Israel, que acusam o Irã de querer fabricar uma bomba atômica.

Rohani também não descartou - "ainda que seja difícil", segundo ele - a possibilidade de um canal de diálogo aberto com os Estados Unidos, inimigo histórico da República Islâmica, para resolver a crise nuclear.

Embora a Constituição iraniana limite as capacidades de ação do presidente em assuntos estratégicos - como a questão nuclear - e submeta tais decisões ao líder supremo, o aiatolá Khamenei.

No âmbito interno, Rohani afirmou também que é preciso impor menos "restrições" aos jovens e dá-los mais liberdade.

Fervoroso apoiador do fundador da República Islâmica, o aiatolá Khomeini, antes mesmo da revolução de 1979, Rohani tem uma longa vida política. Quando Khomeini se refugiou na França, em 1978, Rohani já estava ao seu lado.

Deputado entre 1980 e 2000, Rohani foi eleito para a Assembleia dos Peritos, instância encarregada de supervisionar o trabalho do líder supremo Ali Khamenei.

Prova da relação de fidelidade entre os dois homens, o número um da política iraniana o escolheu em 1989 como um de seus representantes no seio do Conselho Supremo da Segurança Nacional. Graças a este apoio, Rohani foi nomeado secretário deste Conselho e conduziu as negociações nucleares de 2003 a 2005.

Após as eleições de Ahmadinejad em 2005, ele foi afastado da questão nuclear. Pouco depois, o Irã relançava seu programa de enriquecimento, desrespeitando a ONU e as grandes potências que impunham sanções econômicas.

Ele também é membro da Associação dos Clérigos Combatentes, que reúne religiosos conservadores. Nos últimos anos, contudo, Rohani se aproximou dos reformistas.

Mesmo assim, durante a campanha eleitoral Rohani manteve distância de Mir Hossein Moussavi e Mahdi Karoubi, candidatos reformistas incorfomados com a eleição de 2009 que estão em prisão domiciliar.

O novo presidente do Irã nasceu em 12 de novembro de 1948, na cidade de Sorkhey, na província de Semnan, sudoeste de Teerã. Doutor em direito pela Universidade de Glasgow, na Escócia, ele é casado e pai de quatro filhos.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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